quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Good action of the day




Eu acho os alemaes realmente um povo muito engracado: latinos para eles sao todos bipolares, quase beirando o borderline. Mas quando um alemao nao gosta de alguém, NADA faz ele mudar de idéia. É realmente aquela história do "santo nao bateu" - nao bateu, nao adianta nem tentar que ele vai olhar para o outro com cara de nojo e pronto - barraco montado. Temperamentais que só...

Aqui no trabalho chegou um estagiário novo essa semana. Ok, ele é meio playboy, ele é meio "eu já sei disso" (outra caracteristica tipicamente germanica - ele sempre acham que sabem de tudo. Sempre. Tudo. E nunca estao errados.), e isso desagradou alguns dos outros estagiários, que já nao foram com a cara dele. Comigo o cara pelo menos é um fofo - diminui a velocidade do alemao quando fala comigo (com os outros eu já desenvolvi uma pokerface de "sim, entendo tudo" que na verdade significa "nao to entendendo porra nenhuma, mas nao to afim de pedir para repetir"), pediu para eu ensinar algumas coisas em portugues e sempre pergunta como é no Brasil e etc. Mesmo assim, como alemao nao faz sala para gente que nao vai com a cara, já comecaram a nao chamar o cara para almocar junto com a gente, e sempre largam ele sozinho lá na mesa. :(

Ontem meu senso carioca-gentileza falou mais alto: na hora de almocar todo mundo comecou a ir, e ele lá, ficando sozinho. Mas agora era sozinho meeesmo. :( Deu um dó que só... (flashback para os meus tempos de escola: NINGUÉM dividia a porra do Mirabel comigo, só porque eu era o viadinho da turma. Altos traumas.). Voltei e chamei o cara para almocar comigo. Acabou sendo ótimo, porque falamos de vários assuntos mega interessantes, entendi tudo e o cara parece realmente ser gente boa. Melhor do que os almocos com os outros estagiários, onde eles ficavam o tempo todo falando das maravilhas do Iphone em relacao ao Blackberry... (Chato, chato, chato...)

Pois é... Voce sai do Rio, mas o Rio nao sai de voce. :) Ainda bem.

P.S.- Ok, ok... Sim, o cara é gato. Pegava FÁCIL. Mas será que isso diminui a quantidade de carma positivo acumulada pela minha boa acao? :(

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Teaser: Sverige

Mamãe é metade brasileira e papai é o Rei da Suécia. Tá afim de um rolê no meu cavalo branco?

Bem, o post definitivo da Suécia vai atrasar um pouquinho porque rolou um convite de uma festa de aniversário de um americano e todo o grupo do Erasmus vai estar lá (grupo de intercambistas europeus - haverá post futuro explicando). Como eu ainda estou na pista para negócio, e nunca se sabe se papai do céu decidiu ser bonzinho comigo e enviou algum francês/sueco/americano gostosão + gay (porque de amigos gostosões eu estou achei aqui - gostosões E heteros. Vai um portuga hoje nessa festa que noooossa...), melhor dar uma conferida no potencial do novo grupo... ;)

Como eu achei que a foto do post anterior ficou "hetero" demais, resolvi dar uma contrabalançada - aí para vocês Carl Philip, príncipe da Suécia. Gostoso, rico, inteligente, filho de brasileira (rs Dizem que o sueco da Rainha Sílvia é sofrível, btw) e príncipe da Suécia. E solteiro. Pegava FÁCIL. E vocês? :)

Update: Minha saga de simpatia mútua com escandinavos continua - as dinamarquesas me adoraram (mas elas não sabem que eu acho a Suécia MUUUITO melhor... hehehe). Os americanos são todos da Califórnia e com aquele jeitinho "without notion" de ser. E sim, tem um outro garoto gay, da Espanha! Bem, não é nenhum Enrique Iglesias, mas quem não tem perro caça com gato, vale? ;)

Ja, jag lever!!!

(Porque somos lindas, loiras e desenvolvidas, falamos inglês fluentemente e o nosso PIB per capita é 6 vezes maior do que o seu. ;) Pah! e nem confiança, terceiro mundo...).


Sim, eu voltei vivo de Estocolmo e sobrevivi a ameaca de ataque terrorista da Al Qaeda. :) Tudo tranquilo pelo caminho, somente o controle de seguranca em Estocolmo mais rigido que o normal (tive que abrir a minha mala e dar tchau para um hidratante alemao recém comprado porque a embalagem era de 200ml :( Oficial de controle mau...) e os policiais alemaes carregando armas na Estacao Central de Hamburgo (algo completamente inédito em todo esse tempo que eu estou aqui - até os policiais estavam visivelmente constrangidos de estarem carregando aqueles trambolhos).

Mas também como Fernando aqui tem um pé no tabule (ou melhor, provavelmente o corpo inteiro hehehe), raspei a barba e investi num visual mais "mauricinho-hipster" antes de ir para Estocolmo, o que surtiu no inesperado efeito de pessoas falando em sueco comigo. Quem conhece a Suécia sabe que isso até é um elogio - sério, muito ódio daquele povo: todo mundo magro, loiro, bonito, bem vestido, falando ingles fluente, desenvolvido. E gente boa. E sabem coisas sobre o Brasil. Até os imigrantes parece que absorvem esse "je ne sais quois": eu vi uns iraquianos e iranianos que davam um mega caldo...

Enfim, mais sobre Estocolmo vindo hoje mais tarde! Agora preciso ir urgente, porque rola revisao na academia (auto-compromisso: malho, assim como mais Nutella) e se chegar 1 minuto atrasado vou ter um alemao (malhado, ui) com cara de mau falando que "na Alemanha nao é assim, porque aqui é uma falta de respeito...".

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

European Symbols: Ryanair

Até algum tempo atrás (nos tempos pré-Gol, pré-barrinha de cereal e pré comissária da TAM vestindo aquela roupa junina horrenda) voar era praticamente uma experiencia única, envolvida em uma aura de elegancia. Lindas comissárias oferecendo mais uma taca de vinho, simpáticos pilotos que recebiam as criancas mais curiosas na cabine de comando... Os aeroportos eram locais onde se admiravam as pessoas circulando ao redor, seguindo de um ponto a outro, viajando ao redor do mundo... Voar era chique. Voar era VOAR.

Pois bem, esse tempo ACABOU. Bem-vindo ao controle de seguranca que quase te deixa pelado antes de entrar no aviao. Bem-vindo a comissárias de bordo mau-humoradas cobrando duas libras por um copo d'agua. Bem-vindo a Ryanair! :) hehehe

Ryanair é o contra-exemplo num mercado tao complicado quanto o da aviacao na Europa. Conseguiu um crescimento e lucro impressionantes enquanto outras empresas tradicionais de aviacao desapareciam ou se fundiam para sobreviver (como a KLM), permitindo a working class européia a viajar pelo continente em busca do tao sonhado sol e mar (e estudantes cariocas fudidos a viajar para os mais diferentes buracos do velho Continente).

A fórmula mágica do crescimento? Oferecer o que no final todo passageiro busca: chegar do ponto A ao B pelo menor custo possível. Simples.

E o que voce dá em troca disso? (Em outras palavras, onde voce toma? rs)

1) "Ué, mas o aeroporto nao era em Hamburgo? Que porra é essa de Lübeck?"
O site da Ryanair anuncia os destinos como Hambugo, Veneza ou Paris. A sacanagem? A Ryanair utiliza quase sempre pequenos ou médios aeroportos - entao o aeroporto na verdade é PERTO de Paris/Veneza/Hamburgo. PERTO quase sempre sendo por volta de 100km, ou uma hora e meia da viagem do Centro de cidade até o aeroporto. O transfer vai sair no mínimo por volta de 10€ (e ai de voce se perder o transfer: o aeroporto quase sempre é num buraco onde o vento faz a curva duas vezes: perdeu o transfer, perdeu o voo, playboy. Ou entao paga uma fortuna em taxi para chegar no aeroporto a tempo. Mas se voce tem grana para pagar 100km de táxi, porque tá viajando de Ryanair entao?)...
É... rapadura é doce, mas nao é mole nao... :) Aquele voo INCRÍVEL Hamburgo-Londres por 30€ na verdade acaba saindo por 70€ incluindo os transfers. E fácil metade do teu dia perdido.

2) "Bem vindo a Europa. Aqui voce é Resto do Mundo. :)"
Ok, voce sobreviveu ao transfer. Chegou vivo no aeroporto-buraco. Pelo menos na Ryanair existe check in online, e voce nao precisa enfrentar fila agora. Eeeba!
Eeeba? Nao tao cedo... :) Isso SE voce tem passaporte da Uniao Européia. Ah, nao tem? Agora se joga aí na fila para despachar bagagem, darling. Voce precisa do Visa Check - um carimbo necessário para todo mundo que é de fora da UE. O foda é que é a mesma fila para visa check e para despachar bagagens - sempre LOTADA daquelas trocentas famílias indianas, paquistanesas e turcas viajando com milhoes de sacolas e no minimo 3 criancinhas escandalosas (porque criancinha alema parece cachorro treinado - nao grita, nao esperneia, nao corre, nao chora. Amo demais. :) ), e óbvio que eles também vao precisar do Visa Check. Num aeroporto pequeno esse fila pode até ser rápida, mas num de maior movimento (Stansted, Londres), CERTEZA de mais de uma hora nesse inferno de fila (enquanto os seus amigos europeus estao lá, lendo o livrinho deles, jogados no chao).
Sinceramente, eu so nao fico mais puto nessa fila porque eu me divirto com a cara de "I can't believe I am here' dos americanos tendo que enfrentar a mesma fila do que o resto do mundo. :) Afinal, na Europa, eles sao como a gente. Tudo a mesma merda. :))

3) "Puta que pariu!!! Ainda tá dando mais de 10kg!"
Para viajar low-cost mesmo, voce nao pode despachar mala (ou vai ter que pagar). O que significa que... voce vai ter que fazer toda a sua viagem caber em uma malinha de mao que poderá pesar no máximo 10kg. :) Ou seja, ou voce faz a mala á vacuo, ou se fode ai... E darling, aqui nao é Porto Seguro nao (onde voce enfia um abada, um short e um tenis na mochila e vai feliz ficar 10 dias dancando afoxé o dia inteiro que nem uma foca amestrada) - é Europa, é frio, e voce vai ter que decidir qual sueter, qual bota e qual jeans levar - tudo de couro, la, tecido pesado. E ainda calcular qual a dimensao do seu ataque consumista durante a viagem - afinal, na volta, o limite continua sendo de 10kg.
Como brasileiro é um povo que tem tradicao em descobrir meandros nas rigidas legislacoes e regras européias (em bom portugues, encontrar um jeitinho mesmo), depois de pagar muito de muambeiro abrindo mala em aeroporto e quebrar a cabeca tentando pensar num jeito de levar tudo pesando menos, eu acabei encontrando algumas "técnicas" muito úteis:
- Viaje com a sua roupa mais pesada: bota, jeans grosso, pullover, camiseta: T-U-D-O. Nao importa se é Itália é tá 30°C. Vai na fé (ou quer despachar mala, quer?).
- Tira todos os sacos plásticos, embalagens inúteis de produtos e presentes. Revistas, jornais. Tudo isso pesa.
- Sempre leve um casacao com bolsos grandes: "Porque pode fazer frio, Fernando?". Nao. Sabe aqueles 350 carregadores para ipod, celular, palmtop, etc? Sabe aquele guia tijolao Europe da Lonely Planet que sozinho deve pesar uns 20 kilos? Enfia tudo dentro dos bolsos do casacao, bota um sorriso na cara, e pah! nem confianca. :) Na hora do Raio-X (quando o cara vai ver todos os cabos e livros dentro do seu casaco) eu ainda sorrio: afinal, carioca é exxperto, mas carioca sempre é brother. E eu ainda nao tenho o meu passaporte europeu, dear. Vai que eu desencalho com o agente de seguranca? Nunca se sabe... ;)

4) "Tá com fome? Tá com sede? Vai tirando o escorpiao do bolso..."
Ok, tecnicamente é super tranquilo passar 1 hora de voo sem comer nada. Tecnicamente, porque voce teve que pegar o transfer da cidade para o aeroporto-buraco de onde voce embarcou. E óbvio que o aeroporto-buraco nao tem um Mac Donalds nem Burger King. Nessa brincadeira, voce já está no minimo 3 horas sem comer nada. Daí chega a comissária com o menu de "Delicious Offers" para o seu lanchinho espacial, e voce se arrepende amargamente de nao ter feito a marmitinha que mamae tanto ensinou: tudo CARO e com aquela cara de "Sou artificial e vou fuder com o teu fígado". Ninguém nunca compra nada (mao-de-vaquismo é in na Europa), mas voce precisa ficar repetindo o mantra "Nao vou pagar R$15 em um Cup Noodles / Nao vou pagar R$9 por um Hot Dog" para nao cair em tentacao e gastar os seus preciosos euros numa merda. (Dica: Lembra de H&M. Lembra em tudo o que voce comprou na Europa. Lembra do seu novo skinny jeans. E imagina voce fazendo a Tieta chegando em Santana do Agreste: voce, voltando da Europa lindo, bem vestido e MAGRO. Sempre funciona comigo.). E voila, voce chegou no seu destino: lindo, magro, morrendo de fome e com hipoglicemia. :)



Enfim, eu reclamei, reclamei, mas amanha to lá eu em Lübeck de novo, embarcando com destino a Estocolmo. :) Ryanair é aquela coisa: voce sofre, mas voce chega. E como diz uma amiga minha, viagem sem perrengue nao é viagem. Entao eu me jogo dentro mesmo...
A dica que eu deixo é sempre avaliar opcoes. Ryanair é ótima - para quem tem MUITO tempo e disposicao. Os horários sao sempre uma merda, voce tem que agendar com muito tempo de antecedencia e voce VAI chegar fudido e cansado no lugar. As tradicionais companhias européias (Lufthansa, Air France) oferecem descontos bem interessantes em alguns trechos, e algumas vezes aquele Londres-Hamburgo via Ryanair por 70€ (incluindo transfer) sai por 80€, 90€ via uma Lufthansa ou British Airways - embarcando do aeroporto principal da cidade (onde quase sempre vai ter uma estacao de metro ou trem), com uma refeicao decente, bagagem podendo ser despachada e muito menos stress e horas gastas nesse caminho.

Entao se joga ai... E see you folks in Stockholm! :)

Eleicoes, Afeganistao e Al Qaeda

Eleicoes definitivamente nao é um dos temas que mais mobilizam os alemaes: o voto para chanceler nao é direto, os governos sao quase sempre compostos por extensas coalizoes que juntam todo mundo dentro de um barco só (nada de Sarney, Renan Calheiros e meu favorito, Severino Cavalcanti dando piti no Senado), e os partidos tem as mesmas propostas há decadas. Nas ruas, somente um ou outro cartaz de algum candidato local para o Bundestag em Berlim. Tudo muito discreto, sério e formal. Very German. A atual chanceler, Angela Merkel (do Partido Democrata-Cristao, CDU) leva alguma vantagem por ter feito um governo competente e sério para a maioria dos alemaes, principalmente em comparacao ao do anterior Gehard Schröder.

Pedra no sapato dos principais partidos, e assunto principal dessa última semana? Afeganistao.

O longínquo país dos Talibans recebe atualmente o maior destacamento de soldados alemaes no exterior desde o final da Segunda Grande Guerra – cerca de 4.200 soldados. Exército e Alemanha sempre sao temas polemicos por aqui: a Constituicao Alema restringe rigorosamente a atuacao e formacao das Forcas Armadas, a opiniao pública é sempre contra qualquer tipo de envolvimento em conflito armado de qualquer espécie e o fantasma do nacionalismo+guerra sempre evoca inúmeros traumas na cabeca dos alemaes. Somado a isso, a guinada conservadora do governo de Karzai desagrada imensamente a sociedade alema, que teme estar dando suporte e recursos a um governo nao comprometido com o estabelecimento de uma real democracia. O tema é de grande polemica aqui, com a direita (Merkel) defendendo a necessidade de manter as tropas no Afeganistao por razoes humanitárias, e a esquerda defendendo a retirada imediata e o fim do apoio a um regime nao democrático.

E no último dia 18, a cereja do bolo: um vídeo da Al Qaeda anunciando atentados em território alemao caso o partido vencedor nas eleicoes do próximo domingo nao defenda a retirada das tropas do Afeganistao. O que faltava para esquentar ainda mais o tema nas eleicoes.

Em outras palavras, fudeu.

- A Alemanha nao foi alvo de nenhum ataque de grandes proporcoes nas últimas duas décadas (ao contrário de Franca, Inglaterra e Espanha)
- Nao existe uma cidade-alvo clara. Enquanto Londres na Inglaterra ou Paris na Franca sao alvos mais óbvios, na Alemanha a cidade-alvo pode ser Berlim. Ou Frankfurt. Ou Munique. Ou Hamburgo (que inclusive foi sede para uma das células da Al Qaeda no 11 de Setembro. Dois terroristas estudaram na mesma Universidade em que eu estou fazendo intercambio agora. Dilicia, né?).
- Apesar da convivencia entre alemaes e turcos (a principal comunidade estrangeira na Alemanha) ser bem pacífica (em comparacao com outros paises europeus-ocidentais), um ataque poderia azedar a política alema de tolerancia com as comunidades estrangeiras no país.

E para alívio dos meus amigos alemaes que desconfiam das minhas feicoes judaico/arabes, domingo eu estarei bem longe de Hamburgo, laaaá na Suécia. :) E sinceramente espero que se algum terrorista venha a sequestrar algum aviao, que ele nao sequestre um da Ryanair. Ninguém merece: quer ir para o Paraíso, vai num Air France, Lufthansa, British Airways...Ninguém impressiona 99 virgens chegando de Ryanair Low-Cost nao!

P.S.- Caso aconteca alguma coisa, por favor, escolham uma foto BEM photoshopada para colocar nos jornais brasileiros, tá? E escrevam algo do tipo "24 anos, estudante brasileiro na Europa...". Algo SÉRIO. Do tipo para fazer velhinha ler na Época e chorar falando "Mas ele era um menino taaooo bom!". E nada de mencionar esse blog, hein!

P.S.2- Reportagens sobre o assunto:
portugues (http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u626562.shtml)
alemao (http://www.spiegel.de/politik/deutschland/0,1518,649965,00.html)

Outono em Hamburgo

O clima aqui na Europa realmente é intrigante... Dois dias atrás ainda era oficialmente verao, as árvores ainda exibiam verdes folhas e as pessoas insistiam em caminhar no seu visual “verao, Espanha 40°C ” - mesmo sob um ventinho ocasional que fazia a temperatura desabar para 15°C, 17°C. Pessoas ainda tentavam fazer os últimos piqueniques nos parques, sentar nas mesas ao ar livre dos restaurantes e aproveitar pela última vez tudo isso, porque agora, de novo, só em Abril de 2010.
E entao chegou o dia 22, e de repente, TUDO simplesmente mudou. As folham comecam a perder o verde vibrante, e muitas já comecaram a ficar mais alaranjadas. As roupas de verao foram solenemente aposentadas, e os cachecois e casacos mais pesados já voltaram. As temperaturas? Para mim continua tudo igual – dentro dos lugares o aquecimento sempre está ligado, entao voce mal percebe o que se passa lá fora. Eu até diria que prefiro agora, com céu azul (como CHOVE nesse país no verao!) e sol brilhando, mesmo com as temperaturas nao subindo mais além de 22°C. Mas o clima da cidade já mudou. O verao já se foi. Hamburgo se prepara para a sobriedade do outono e inverno.
Tudo isso é muito diferente para quem vem dos trópicos (principalmente para quem vem do Rio de Janeiro, onde existem 3 estacoes diferentes: quente, muito quente e inferno “Bangu”). Um ano... e quatro Alemanhas diferentes. :)

Entao... que venha o outono (e todas as comidas de inverno: crepe de nutella, torrada com nutella, apfelstrudel com nutella... Na verdade, QUALQUER coisa fica ÓTEMO com Nutella, né?).

P.S.- Hora de arranjar algum peguete mais fixo. Sei lá, esse clima de árvore sem folha, parque todo laranja, andar de casacao pelas ruas é “Outono em Nova York” demais para mim. Me sinto a criatura mais sozinha do mundo quando vejo todos aqueles casais felizes, andando de maos dadas, quentinhos... enquanto eu tenho que me viro para nao congelar sozinho enquanto assisto “Paris Hilton: My new BFF” na MTV alema. Life is hard...

P.S.2 – Tudo bem. Janeiro vem aí, e enquanto eles congelam aqui, eu vou estar torrando em Ipanema. Me vingarei - manderei vários postais dizendo "Oi, to aqui em Ipanema e lembrei de voce! Só nao escrevo mais porque agora eu tenho que me bronzear de frente. Beijomeskype!".

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Coisas que eu não aprendi no Goethe Institut



Sete anos de alemão. Eu estudei sete anos de alemão no Goethe Institut no Rio. Sete anos aprendendo que em alemão "Sol" é feminino (die Sonne), "Mesa" é masculino (der Tisch) e "Menina" é neutro (das Mädchen - como assim, não é?). Sete anos pagando uma pequena fortuna para me comunincar no idioma germânico, duas vezes por semana. Em sete anos, eu poderia ter me tornado Matusalém em francês, italiano ou espanhol. Mas não... Eu resolvi ser cult. Eu escolhi alemão.

Meu aniversário foi cerca de 3 semanas atrás. Lindo. Maravilhoso. Senão:
- Momento "puta que pariu" #1: Aqui na Alemanha, o costume é o aniversariante levar alguma coisa para compartilhar com os colegas de trabalho. (Sim. É a lógica inversa de nós, brasileiros: o aniversariante que tem que se fuder fazendo bolinho para 30 pessoas. E nada de comprar bolo pronto - isso é um sinal de "desrespeito e desinteresse com os seus amigos de trabalho". Tem que esquentar barriga no fogão mesmo. Alemão gosta de suor. Alemão gosta de trabalho.).
- Momento "puta que pariu"#2: Dois dias antes do meu aniversário, um outro colega de trabalho fez aniversário. Ele fez um bolo Floresta Negra GIGANTE. Ele levou 4 tipos diferentes de cerveja (sim, eles podem beber cerveja durante o trabalho). Ele fez 6 tipos de mini-sanduíches diferentes. Ele organizou os guardanapos por cor e tamanho. Automaticamente pensei: "Fudeu. Jamais vou conseguir fazer isso".
- Momento "puta que pariu"#3: Depois de tanto falar de pão-de-queijo, o meu gestor, numa reunião geral de setor, pergunta "E ai Fernando, o que você vai trazer para o seu aniversário? Pão-de-queijo, não é?". 15 caras germânicas ansiosas olhando para mim. Não tinha como dizer não.

Enfim, voltando a história do idioma: tudo deu super certo, eu encontrei massa para pão-de-queijo num mercado latino-americano perto aqui de casa, todo mundo comeu e sobreviveu (a minha energia tava tãaao positiva na hora em que fiz aquilo tudo), todo mundo adorou.
Hoje, no trabalho, os meus amigos começam a elogiar o meu alemão (e eu fazendo cara de "Ai... Pára! :) Deixa disso... Eu nem falo tão bem assim, gentém!"). Daí, falam que apesar dos pequenos erros, eu consigo me comunicar muito bem. Eu, inocente, pergunto "Que pequenos erros?".
Eles falam "quais pequenos erros". (Lágrima de vergonha escorre pela minha face agora).
No dia do meu aniversário, eu mandei um e-mail para 34 pessoas do meu setor, convidando para que eles viessem a minha mesa comer pão-de-queijo. Diretores, gestores, externos. TODO mundo.
Trecho do e-mail: "... wenn ihr wölltet, ihr alle könntet auf meinen Tisch kommen und päo-de-queijo essen!" .
O que eu quis dizer: "... se vocês quiserem, podem todos vir a minha mesa comer pão-de-queijo!"

Bem... O que eu realmente disse? Raciocina comigo: kommen em inglês é "to come" (vir). Em inglês, "to come" pode soar como... "to cum".
Sim. Eu mandei um email, convidando 34 pessoas do meu setor - incluindo gerentes, diretores, externos - para gozarem na minha mesa e comerem pão-de-queijo. :( No meu aniversário.

Foda.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Na hora do jantar

Agora pouco, eu na cozinha, me preparando para finalmente fazer algo diferente do meu clássico jantar "torrada + nutella + coca-cola de jantar" (qual é? Nutella é barato, vem em potão aqui na Europa, e eu tô carente, porra).

Salsichão na mão, frigideira na outra, entra a flatmate alemã mala na cozinha:
flatmate alemã mala: Hey, essa frigideira é da fulana.
eu ("fernando fingindo que é um gringo burro que não entende alemão direito" mode on): Ãh? Essa frigideira aqui? (+ mais carinha de "mas eu sou um cara tãaao legal").
flatmate alemã mala: Sim! Aqui cada pessoa tem as suas próprias coisas de cozinha. Cada um só usa o que é seu. É assim que é aqui.

E lá fui eu jantar torrada com Nutella de novo. :(

Pontos a ressaltar:
- Tem horas que cansa essa história de diferença cultural... Tudo bem, é a cultura dela, é a panela dela, e ela faz o que acha melhor. Mas custa ser simpática e oferecer a panela para pelo menos eu poder jantar? No meu aniversário eu ofereci a ela um pedaço do meu bolo, de maior bom grado. Custa dividir? Parece que a Alemanha inteira sofre de uma síndrome de filho único (meu, meu meu) que é foda de aturar algumas vezes...
- Eu moro na Alemanha somente até Janeiro. Então eu compro um jogo de panelas, e enfio onde na hora de voltar? Faço o imigrante africano voltando para o Chade, levando PANELA na mala? Ou enfio no meu cú? Ou no cú dela?

Porra, sacanagem dessa filha da puta! Me fez jantar Nutella de novo! :(

Update: Ainda há esperança para o povo germânico: contei a história para um outro flatmate alemão, e ele falou na hora "Saco... Isso é tão tipicamente alemão!". Alemães podem ser chatos, mas alguns ainda gostam de mim. :)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Bratwurstland (Alemanha)



Para comecar o blog do jeito certo, vamos falar logo do principal assunto: Alemanha! Jawohl!

Mas primeiro, pode ir tratando de esquecer a imagem aí de cima: that is Baviera, honey! Essa roupinha de camponesa (chamada de Dirdl em alemao), Oktoberfest, dancinha daquele comercial da Pepsi da Copa de 2006 – TUDO isso é Baviera. E tudo isso é tao proximo da realidade de um alemao que mora em Hamburgo (onde eu moro) como da realidade de um brasileiro. (FYI: Baviera é um estado láaaa do Sul da Alemanha. Na verdade, é “O” estado da Alemanha: o mais rico, o mais influente, o mais poderoso. E segundo os alemaes do norte, o mais cafona: muita BMW, muito dourado, muito bling bling, e muito sotaque caipira).

Pois entao... na Alemanha real a loirona peituda na verdade é uma tiazona turca, o salsichao considerado símbolo do país é o currywurst (salsichao de curry – Índia, né? Hellow?) e a Mercedes provavelmente foi fabricada na Rússia ou Hungria. (Tudo bem: sim, cerveja tem aos montes, e sim, eles gostam de cerveja mais quente que a gente considera ideal – mas vamos combinar que nao faz sentido nenhum tomar um chopp estupidamente gelado num verao de... 17C).

A Alemanha na verdade é bem mais heterogenea do que achamos no Brasil. Em linhas gerais: o Norte é protestante e liberal (Berlim, Hamburgo), o Sul é católico e conservador (Munique, Stuttgart); o Oeste é rico e desenvolvido (Colonia, Düsseldorf), o Leste ainda se recupera dos tempos comunistas (com taxas de desemprego bem mais altas e uma maior intolerancia aos estrangeiros). Além disso, tem o fato de que a Alemanha é um país mais novo do que o Brasil – o país surgiu da uniao de diferentes principados, o que significa que, por exemplo, historicamente Hamburgo tem bem mais em comum com Copenhagen do que com o próprio Sul da Alemanha.

(Na verdade, nem sei porque eu fui me meter a tentar definir a Alemanha. Tarefa complicada do caralho.)

A minha Alemanha (aka Alvaro Garnero) é a Alemanha que eu aprendi a amar e reclamar eternamente – como um bom alemao. :) É o país onde os onibus chegam sim as 14.37h e onde as pessoas nao cruzam a rua no sinal vermelho sob hipótese ALGUMA (principalmente na frente de criancinhas – faz isso e ve se uma velhinha nao comeca a xingar voce, faz...). É o país onde 2 minutos de atraso contam sim como ATRASO – e voce sendo latino escuta um pequeno sermao de como “na Alemanha a cultura de horários é diferente, e isso é inaceitável, etc...”. Mas também é o país onde depois de uns copos de cerveja todo mundo tá suuuuper amigo; onde qualquer buraco sempre vai ter caipirinha e os vendedores sempre vao dizer “Bom dia, como vai?” (alguém aí lembrou dos simpáticos vendedores indianos de Londres que olham para voce com aquela cara de “Voce é imbecil?” quando voce pergunta qualquer coisa?).

Enfim, a Alemanha é hate and love mesmo. É ficar louco querendo sair daqui para qualquer outro país europeu porque nao aguenta mais a paranóia de “controle e organizacao” deles; chegar em Londres e ficar pasmo com a “falta de organizacao” do sistema de metro (nem sob ameaca de mutilacao genital voce convence um alemao a cancelar um servico sem avisar previamente os passageiros, imprimir cartazes e colocar fiscais para guiar as pessoas). É nao aguentar mais esse idioma complicado e díficil, mas ficar todo emocionado com a expressao de surpresa e felicidade de quando voce encontra um alemao no exterior e voce fala o idioma dele. É achar esse tempo de geladeira (frio e escuro) um SACO, mas achar a Alemanha o lugar mais lindo do mundo depois de um dia de sol.

Das ist Deutschland. :)

Wilkommen




Vamos combinar: a Europa é um continente interessante pra caralho! Várias vezes me peguei vendo guias de viagem em Saraivas da vida, sonhando com Paris, Londres, Roma. Um continente que influenciou o mundo inteiro com a sua cultura, os seus costumes! Sempre classifiquei as pessoas em dois grupos: os descerebrados que queriam ir para a Disney (do tipo "fiz 15 anos e vou na excursao do Kayky Britto para Orlando"), e os "com conteúdo" que viam na Europa como "the place to be".

E de repente, surge a oportunidade de vir para a Alemanha. Um ano, estudar e estagiar, possibilidade de dar um salto na carreira e de conhecer os alemaes (hehehe)... Oportunidade de finalmente me integrar àquele grupo irritante de pessoas que para tudo respondiam "Sim, eu comprei esse casaco/bolsa/tenis em uma loja INCRÍVEL perto do Covent Garden". :)

European Dream realizado?

I don't think so...

Agora, 7 meses depois da minha chegada, eis que me encontro aqui:

- De saco cheio de um país obcecado por controle e ordem (tenta cruzar a rua no sinal vermelho, mesmo sem nenhum carro a vista, tenta... Multa + velhinha alema te xingando e te acusando de "ser responsável pela decadencia da sociedade germanica")

- De coracao partido (licao aprendida: filho da puta existe em qualquer lugar do mundo. O foda é nao poder dizer isso para ele com toda a fluencia do seu idioma nativo)

- Com saudades de amigos, família e do Brasil (ok, "saudades do Brasil" eu menti mesmo: sempre odiei samba e pagode, acho um saco o nosso discurso "porque nenhum lugar é como o Brasil" e vou cair em depressao no dia que me ver sem Ikea e H&M de novo...).

Esse blog é a minha tentativa de resgatar a vontade de estar aqui. Aquele sentimento de “C***lho, estou na Europa!”. Aquele sentimento incrível que bateu na hora que eu desci do aviao e percebi que eu era o estrangeiro, quando... pegar o metro era uma aventura inacreditável!

Enfim, let's try. :)