segunda-feira, 29 de março de 2010

Segunda-feira, numa universidade pública qualquer...

Segunda-feira, por volta de 8:15h, temperatura já batendo fácil os 30°C (eu super juro que estou tentando ser super ultra tolerante nessa minha volta ao Brasil HA: ok, consideremos entao um "hipoteticamente falando" no início dessa frase, mas essa temperatura tá phoda! Nao importa quantos banhos se tome por dia: se você nao fica o tempo todo no ar-condicionado, parece que você passou Cola Pritt como hidratante corporal). No meu estado semi-zumbiótico habitual nessa hora do dia, adentro a faculdade, sento na minha classe e inicio mais um dia de interessantíssimo aprendizado acadêmico. Depois de alguns minutos lutando para: a) resistir ao processo hipinótico-sonífero provocado pela voz, entonacao e didática do meu querido professor; b) nao desviar a minha atencao do quadro e ficar horas focando nas pernas, bracos e cofrinhos ma-ra-vi-lho-sos dos meus queridos colegas de classe (estilo garotao é a especialidade do meu instituto), finalmente consigo focar no processo de desenvolvimento econômico dos países europeus continentais (zzzzz) quando... um batuque ressoa pelo campus. Todo mundo se entreolha com cara de "Passarinho? Que som é esse? Quem sabe o nome dele?". Logo vem a cantoria:

" Nao deixe o samba MOOOOORREEER / Nao deixe o samba ACABAAAAAR..."

A professora olha para a janela por uns dois segundos, incrédula, mas resolve continuar a aula. Por alguns minutos, a cena surreal de um debate econômico com trilha sonora de um sambao se passa na nossa frente. Nao aguento, e desvio a atencao para a incrível tatuagem que o meu brother de classe fez durante as férias, até que... ufa! o batuque acaba. Todo mundo respira aliviado. Até que...

" Ai que o barraco desabou... BUM BUM... Nessa que o meu barco se peeerdeeeu..."

A professora manda um "Ah gente, assim nao dá!" vai lá embaixo e conversa com o improvável grupo de batuqueiros cadeirantes. Cinco minutos se passam, inspetor-da-Economia-chama-inspetor-da-Servico-Social, o batuque se encerra. Dez minutos antes do final da aula. ;)
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Cat-Chaise (detalhe: o povo come em cima dessa mesinha)
Meia hora depois, tentando acordar com um delicioso chá de café (NOT!). Mesa ao lado: duas cult-bacaninhas (os pseudo-intelectuais que se multiplicam nas faculdades públicas federais, principalmente nos cursos de ciências sociais. Bem do tipinho que tem mochilinha do Greenpeace, discurso "Temos que combater a desigualdade social!", barzinhos descolados-e-maneirex-que-só-eles-conhecem de Santa Tereza e da Lapa... mas que sempre acaba a night nas Baronetti's da vida e morreria de fome caso se visse algum dia sem empregada doméstica) discutindo assuntos do cotidiano:

Cult-bacaninha A: "Ah, você viu o Fantástico de ontem? Que absurdo aquela reportagem da Luciana!"
Cult-bacaninha B: "
Ah, amiga... Por que?!"
Cult-bacaninha A: "
Ah, amiga... aquela menina é podre de rica
(Acho super vintage essa coisa "personagem de ficcao x vida real".), com motorista e me vai para ponto de ônibus pegar busao?!"
Cult-bacaninha B: "
Ah, amiga... Ela é rica, mas também tem direito, néam?"
Cult-bacaninha A: "
Ah, amiga, mas o pessoal que tá atrasado no ônibus, poxa? Tem que ficar esperando deficiente subir em elevadorzinho?! Gente pobre, sabe, que mora em favela!"


Eu poderia falar sobre essa incrível nocao dos brasileiros de que algo só é um problema se o dinheiro que você tem infelizmente nao resolve isso. Eu poderia falar sobre essa maravilhosa lógica de que "se o problema nao é meu, porque eu tenho que ser prejudicado?!" temos. Eu poderia questionar o fato de que essas brilhantes mentes estao sendo educadas com dinheiro de todos os contribuintes brasileiros (inclusive flagelados da seca, favelados & cia).


Eu prefiro ir sentar do outro lado onde tem ar-condicionado, e colocar o meu iPod. É, acho que já estou me readaptando ao Brasil. 

Weltschmerz

Durante a minha varredura semanal de colunas e textos um pouco mais sérios (afinal, se os meus caríssimos professores de Economia me vissem lendo Sartorialist, Katylene ou Te dou um dado provavelmente me tacariam o "O Capital" na cabeca assim que entrasse pela porta da faculdade), ao entrar na página dos textos do Clóvis Rossi no site da Folha, me deparei com o excelente texto do dia 23/03 sobre a história dos judeus de Paris sob a ocupacao nazista. Lembrei na hora dessa foto que fiz em Paris, semana retrasada. Era um belíssimo dia de sol, eu estava em Paris, feliz e contente, caminhando para ir almocar em algum restaurante, quando me deparei com essa placa em frente a uma escola. Foi como um soco no estômago: uma coisa é ver filme de Hollywood sobre o tema, outra completamente diferente é ver um prédio e saber que ali estudaram criancas que foram deportadas e enviadas para a morte em campos de concentracao do outro lado da Europa.
Sensacao parecida eu sentia na Alemanha, quando passava por uma Stolpersteine. Lembro do meu primeiro dia de turismo em Hamburgo, todo feliz por finalmente estar na Europa depois de anos planejando, lindo dia de sol (frio do caralho), guia turístico numa mao, câmera fotográfica na outra. Perto da minha casa, vi uma dessas, e todo "Oh, que supresa! O que será isso?" parei para ler (imaginando ser qualquer intervencao artística de um alemao maluco). Eram as pedras indicando que toda uma família judia morava naquele edifício; a menor integrante sendo uma menininha de 4 anos. Todos presos, deportados e assassinados em Auschwitz, isso meses antes do final da Guerra.

A pergunta que fica na cabeca? Exatamente com a qual o Clóvis termina a sua coluna: Já nao houve horror demais, guetos demais, extermínio demais?

domingo, 28 de março de 2010

Cadernos de viagem. Budapeste. Parte 3.

Passeios, experiencias (e furadas). Parte 3.
Boldog Ujevét! - O meu Reveillón húngaro

Tudo comecou quando o György (nosso cicerone em Budapeste) comentou que sabia de um clube noturno que oferecia A oferta para a noite de Reveillón: boa música, ambiente fechado, livre de turistas e (o mais importante) openbar. Tudo por inacreditáveis 30EUR! A princípio eu tinha sido meio contra: pagar 30 EUR (= zilhoes de coroas tchecas, florins húngaros ou zlotys poloneses - gentém, euro vale horrores no Leste Europeu!) para me enfiar em um clube qualquer seguramente cheio de piranha, para alegria dos heteros do grupo nao atraiu muito a minha idéia. Mas o meu amigo tuga educamente me relembrou do fato de que eu nao estava no Rio de Janeiro ("Ô brazuca burro, tá um frio do cara'lho! Reveillón na Europa nao é na rua nao, po'rra!") e eu resolvei topar o Reveillón que o destino tinha posto na minha frente. Afinal, sendo boate hetero e nao sendo Mariuzinn (#momento SP friendly: boate hetero carioca, conhecida pela 'finesse' e 'elegância' dos seus frequentadores. Em outras palavras: muita correntinha de prata/relógio cebolao no pulso/camisa E-Brigade para os meninos; cabelo escovado/ballayage/pelo menos uma peca da Mercatto para as meninas.).

Depois do tour turístico por Budapeste, dirigimos para a puta que pariu Budakeszi e nos preparamos para a nossa noite. Como o resto do pessoal do grupo se vestiu? Quem se importa! Como eu me vesti? (Sou narcisista mesmo, qualé?!) Impecável: minha linda-e-perfeita camisa estampada recém comprada em Chueca, minha linda-e-perfeita skinny preta Weekdays diretamente da Götgatan (juro: se ganhasse na Mega-Sena/casasse com um milionário russo/ganhasse um "Dia de Princesa" Premium Version do programa do Netinho, eu step#1 tocaria fogo no meu guarda-roupa inteirinho e step#2 embarcaria direto para Götgatan para comprar tudo novo. Melhor lugar no mundo para roupas? Difícil...), meu lindo-e-perfeito sapato da Wormland de Hamburgo. Sabe quando voce veste no mais forte espírito Agora-eu-sou-solteira-e-ninguém-vai-me-segurar? Eu naquela noite. Eu tava lindo. Eu tava gostoso. Eu tava tudo. (Grrrrrrrr!)

E dirigimos de volta ao clube noturno. Numa decisao smartona (again: Murphy nao brinca em servico) decidi deixar o casacao de inverno no carro e enfrentar o frio de 1°C somente de cachecol até a porta do clube. Afinal, piranha que é piranha nao sente frio, e nao tava com saco para enfrentar as inevitaveis e infernais filas para guardar o casaco. A fila prometia: lindas húngaras vestidas de preto, húngaros beeeem mais pegáveis depois de capricharem um pouco mais no visual, muita gente carregada no visual esfreguei-tijolo-na-pele (isso explica o estúdio de bronzeamento aberto non-stop), mas no geral um grupo agradavel. Havia esperanca.

E na hora que entramos no clube, o queixo caiu: uma producao fodástica. Um espaco enorme que foi completamente reconstruído, com pistas e mais pistas de danca, lounges incríveis, bares para todos os lados e uma producao de cenografia impressionante. E a música, excelente até onde podíamos escutar. Loiras lindas dancavam se esfregando em eslavos bem mais gatinhos nessa producao um pouco mais caprichada. Olhinho de todos brilhando: finalmente conheceríamos A famosa night do Leste Europeu. Eu (devidamente estimulado por uns três ou quatro shots de vodca polonesa) entrei no recinto com o espírito lá no alto: liguei o catwalk walk (tipo Gisele entrando na passarela da Vic's Secret/Justin-todo-gostoso cantando Sexyback ali no alcance de uma chave de edy/Gisele nao desviando nem 1mm do globo ocular em direcao ao Justin), endireitei a coluna, botei o mantra "Sou-brasileiro-a-fama-de-piranha-sempre-nos-ajuda" na cabeca, liguei o gaydar e fui em frente. A entrada foi tao triunfal que já de cara estabeleci o clássico viu-eu-passando-olhei-de-volta-olhou-e-se-virou-para-me-ver-melhor com uns 3 húngaros. Nada mal: algum material interessante já  tinha para me divertir durante a night. E caimos na pista. O clima entre a gente era especial: nao sei se era a felicidade de ter chego em Budapeste depois de tantas horas de viagem, o Ano Novo em si ou talvez pelo fato de ser um dos últimos momentos em que todo mundo estaria junto numa festa. Mas era um clima especial: era uma felicidade com nostalgia e vontade de festejar muito antes que 2009 terminasse de vez.

Aí comecam as histórias. Primeiro, moderacao alcóolica e openbar sao duas palavras que nao andam em conjunto: primeiro drink da noite é aquele que você pega sozinho, aí 2 minutos depois chega uma amiga do banheiro e fala "Ah, vamos pegar um comigo?!", você pensa "Ah, enfrentar fila depois para pegar outro?" e já termina o primeiro objetivando pegar o segundo, o barman fala inglês mal pacas (5 minutos para entender "vodca WITH Red Bull"), você pega um terceiro para o outro amigo que acabou de chegar... Resultado: uma hora de festa, quatro shots de copos longos de vodca com RedBul e eu achando tudo muito engracado. Veio o ano-novo, tocou hino da Hungria (todo o meu grupo se olhando com cara de "Que porra é essa?"), uns húngaros gatos me agarram berrando aquela música nos meus ouvidos, "Êêêêê.... Feliz Ano-Novo!!!" e...  vamos pegar mais drink? (#HeleninhaRoitmanfeelings). Eu peco uma outra "vodca with Redbull"  para a barwoman, ela me devolve o copo sem gelo. Fernando (mesmo bêbado, um gentleman) pede, com um sorriso "Please, can you give me some ice cubes?". Ela me ignora. Eu educadamente "Please? Icecubes?". Ela finge que nao me escuta. Seguindo o manual germânico de etiqueta e boas maneiras (dois pedidos educados nao atendidos/ignorados = permissao para liberar o vândalo ostrogodo que existe dentro de você), pego o meu copo, viro e mando "THIS BARWOMAN IS A FUCKING CURVA! CURVA!" ("curva" significa piranha em qualquer idioma eslavo, inclundo o nao-eslavo húngaro). Como comecou a tocar Lady Gaga eu nao lembro de muita coisa, mas segundo a minha amiga espanhola ela tentou me tirar dali me puxando, enquanto a barwoman jogava cubos de gelo no grupo que comecou a gritar "Curva! Curva!" para ela.

Cerca de meia hora depois, fui eu buscar mais um drink no bar (claro, com a barwoman curva - nao lembrava de nada mesmo). Na volta, vejo os meus amigos H e F (o tuga e o mexicano-americano) acendendo um charuto e comemorando. Daí vejo um húngaro qualquer chegando, pegando o charuto da boca do H, jogando no chao e mandando aquela cara "Eaívaiencarar?", indo para cima do tuga. F tira a camera do pescoco (uma Canon profissional), entrega para a namorada espanhola, vira e me acerta um soco na cara do húngaro. E mais húngaros vem para ajudar o húngaro, enquanto o meu amigo tuga coloca todo o conhecimento de artes marciais dando uns socos e chutos a la Chuck Norris (detalhe: altura nao é forte dele, ele bate no meu ombro). Quando os dois quase terminaram com todo o grupo de húngaros e estavam ganhando a parada, me aparece o grupo de segurancas da boate: TODOS com mais de dois metros de altura, TODOS com dois metro de largura, TODOS com aquela cara de cachorro assassino em busca de sangue. Os segurancas pegam os dois pelo pescoco dando uma chave de braco (o tuga com as perninhas fora do chao batendo no ar) e arrastam eles para fora da boate, metendo porrada na cara dos dois.

E enquanto tudo isso se passou, eu parado no mesmo lugar, copo de drink na mao e cara de "Como assim?!" para toda aquela cena que eu tinha assistido. Tipo, boquinha aberta, cabecinha caindo para o lado e expressao de "Ai!" para tudo que eu tinha assistido.

Depois de uns 3 minutos eu finalmente voltei ao mundo real e consegui pensar no que tinha que fazer: sair em busca dos meus amigos. Na entrada, muito frio, muito vento, eu sem casaco e... nada dos meus amigos. Morrendo de medo de levar um coió virei para um dos segurancas e com a cara mais simpática do mundo tentei estabelecer um diálogo:

Eu: "Hiiiiii? Did you see some..."
Seguranca balanca a cabeca em sinal negativo
Eu: "Hmmm... No English?"
Seguranca diz nao com a cabeca de novo. Pondero se mandar "I am from Brazil. Pelé! Samba! Coffee!" ajuda a reverter alguma coisa ao meu favor. O seguranca nao parece muito simpático.
Eu: "Hmmm... Deutsch?"
Seguranca continua dizendo nao com a cabeca. Ódio do Leste Europeu.
Eu (mando a cartada final): "Hmmm.... Русский?"
O seguranca faz que sim com a cabeca
Eu: "MIM-novsky AMIGO-kov PORRADA-trosk CADÊ-vitch?"

O seguranca aponta para uma tenda, e tremendo de frio sigo para lá. Chegando perto, vejo a cena: meu amigos com as caras completamente ferradas, camisas rasgadas e ensanguentadas, conversando aos berros com os segurancas, tentando entrar de novo na boate. E fui aí que eu percebi: a noite tinha acabado. Eu tava lindo, gostoso e calibrado e teria que voltar para casa. Puto, voltei para o clube, reuni a galera, tive que enfrentar a fila para tirar o casaco de todo mundo, e saí do clube. Dei um mini-escândalo mandando os garotos pararem de tentar convencer os segurancas que eles estavam certos na briga (por que menino hetero tem necessidade de provar pra seguranca/policial/autoridade que nao foi ele que comecou o problema, hein?!) e irem para o carro, e no carro dei um outro mini-escândalo ("IF YOU WANT SOME ACTION, GO FUCK A PUSSY, BUT DON'T FUCK WITH MY NEW YEAR'S EVE! FUUUCK!") e voltamos para o hostel. E as duas e meia da manha, dormia eu - de calca skinny, meias e cheirando a RedBull. E puto. Muito puto.

Desfecho da história: o mexicano-americano ficou com a boca igual a da Angelina Jolie, o tuga (o único que sabia e podia dirigir um carro com marchas) parecia que tinha sobrevivido a um acidente de carro e nao conseguimos sair do hostel fudido de Budakeszi. No dia seguinte, fomos ao hospital (onde o tuga paquerava as enfermeiras falando "This is me... This is not me!" tapando a parte fudida do rosto dele) onde ele levou uns pontos no olho e a indicacao de um remédio para tomar contra a inflamacao (que depois, na Alemanha, ele descobriu que podia causar uma disfuncao renal séria). Dois meses depois, o tuga teve que fazer uma operacao para retirar uma mancha de sangue coagulado de dentro do globo ocular e eu rio toda vez que eu relembro da cena dele com as perninhas batendo no ar. Eu perco o amigo, mas nao perco a piada. ;)

terça-feira, 23 de março de 2010

Souvenirs videographiques de Paris

" In Paris, everybody wants to be an actor; nobody is content to be an spectator. "
Jean Cocteau, autor e cineasta francês

Como os parisienses conseguem viver numa cidade onde tudo parece diretamente saído de uma tela de cinema, todo o tempo, todos os lugares?! - foi o que eu me perguntei freqüentemente durante essa minha última viagem a Paris. Segunda viagem, a mesma reação, o mesmo deslumbramento ao ver a beleza arquitetônica na sua forma suprema, a mesma fascinação com a cidade onde tudo parece meticulosamente planejado para encantar, fascinar e principalmente... inspirar. Insuportável para todos aqueles que desejam serem meros espectadores ou somente esquecer. E o melhor palco do mundo para todos aqueles que querem protoganizar, sempre à dois, e criar momentos. Para jamais esquecer.

Je sais, je sais: tá PHODA. Paris realmente me pegou de jeito dessa vez, estou mais romântico do mocinha de novela de época rural das seis e tá difícil MERMO de sair dessa vibe "Ai-fui-tao-feliz-em-Paris!". Em minha defesa: homem bonito & inteligente & romântico (e sendo francês, precisa mesmo mencionar bem vestido?) + programinhas nada românticos (passeio de bateau mouche num dia de sol pelo Sena, vinho a dois no bar do Hotel Costes, jantar à dois num indiano maravilleuse no 10éme) + frases mega melosas, ultra clichês (para os outros, porque para quem escuta sempre é incrivelmente bom, néam? :D) suspiradas com leve sotaque francês + PARIS. Muito fator clichê junto, impossível resistir, gente! Se continuasse me sentindo 'indiferente' a tudo isso, era sair correndo porque Hitler ou Stalin teriam reencarnado em uma pessoa só: eu! 

A viagem foi ótima (merci, merci!), e definitivamente qualquer cidade se torna muito mais fácil e interessante com um local do lado. Adeus restaurantes "pêga-gringô-donnez-moi-seus-eurôs", salut restaurantes incríveis que jamais descobriria sem a ajuda de um parisiense: fui a lugares incríveis, conheci partes de Paris que tinha passado batido na minha última viagem e bien sûr estou preparando um post com todas essas informacoezinhas que podem ser úteis nas suas próximas viagens a Paris. E sim, para a felicidade dos meus leitores, teve perrengue que será contado nesse post também. :) Agora? Um micro-pequeno apanhado de memórias soltas de Paris, coisas legais que vi por lá. Nada muito formal, bem randômico mesmo.

Rick&Steve - The happienst gay couple in all the world!
Rick Brocka e Steve Ball sao o casal gay mais feliz do mundo, ou pelo menos de West Lahunga Beach. Tirando a idéia super original (como nunca pensei em fazer isso com os meus playmobils antes?), por que mesmo vale a pena ver o fofo seriado canadense? Por que os dilemas e historinhas estao longe de Desperate Housewives (que inclusive tem o equivalente "Skanky Housewives" no próprio seriado) e muito para o nosso dia-a-dia (sexo, sexo, sexo, amigas lésbicas, sexo) - tudo contado da forma mais politicamente incorreta possível, claro. A idéia é realmente zoar tudo aquilo que no fundo a gente sabe que é verdade... mas que nem sob tortura confessamos quando tem algum hetero por perto. :) Destaques? Dana, a hilária lésbica-caminhoneira-machona (presta atencao na música que toca no carro dela toda vez que ela dirige!) e o gatinho de estimacao de Rick e Steve, Pussy (adoro quando ele se comunica com os outros gatos!). E afinal, onde assistir? Fernando tá num dia de bom humor, portanto os vídeos das duas temporadas da série vai aqui!

Beautiful People & Crises "(Re)Pensamento do dia"*
uma referência, claro, aos posts-crise "Estou ficando velho!!!" do Chatonoar ;)
Quando já chegou naquela fase que os filmes e séries fazem flashback-para-a-infância para a época em que você também era criança, fudeu: hora de juntar o dinheirinho para o Renew e Botox porque tu tá ficando velho! :) E com uma pequena nostalgia dessa época onde tudo o que eu queria era crescer logo (e supresa ao perceber que já se passaram mais de dez anos do final da década de 90!) foi que eu encontrei Beautiful People, uma série da BBC. Inspirado nas memórias do diretor criativo da Barneys, Simon Doonan, a história é basicamente uma constante volta-ao-passado do agora elegante, nova-iorquino e cosmopolita Simon à sua adolescência na mordorrenta, chata e nada glamurosa Reading de 1997. Pra mim, é uma verdadeira terapia de regressao: o garoto era o viadinho-saco-de-pancada do colégio (lembram do meu trauma do Mirabel?), morador de um subúrbio qualquer na já suburbana Reading (quer saber, eu confesso: sou suburbano, nao nasci na Zona Sul, já peguei muito trem e o que eu mais sentia falta em Hamburgo era de um bom pastel com caldo-de-cana!) mas com uma cabecinha cheia de sonhos que pareciam completamente inalcançáveis naquela época (chuta desde quando eu planejava a minha viagem para a Europa?). Os personagens sao fofíssimos: o melhor amigo Kyle (que se apelida Kylie - em homenagem a Minogue - e é completamente fanático pela Princesa Diana. Aquele tipo de viado que desde do bercário já chupava a chupeta de uma forma meio entendida e tá nem ai para o que os outros pensam, sabe? rs) e os pais do Simon, Debbie e Andy (os pais-tolerantes-de-gays mais críveis que eu já vi até hoje na dramaturgia, que mesmo nao entendendo porque aquele garoto que insistia-em-ser-meio-diferente buscavam dar o maior apoio que um gay adolescente poderia querer no mundo) sao os meus preferidos. As trilhas sonoras sao incríveis: muito Five (!), Westlife (!!), Spice Girls (!!!!! - um dos episódios se chama "How I got my Posh" - quem nao lembra das bonecas das Spice Girls, auge do Girl Power?! Eu sempre AMEI a Posh Spice e juro que uma das primeiras coisas que pensei quando vi o Albert Hall foi no show do final de Spiceworld) e o melhor do Pop chiclete-grudento típico da época. Acho legal pela sessao "de-volta-no-túnel-do-tempo" (perceber que já deu para realizar tanta coisa que eu jamais achei que ia realizar!), pela historinha de um viado com carteirinha de senior membership no nosso clube (sempre desconfiei que a minha vocação pra fazer bandage dress usando meia nas Barbies da minha irma nao era só "parte de uma fase que ia passar"...) e para relembrar de uma época que definou o pessoal de vinte-e-poucos (nem tantos, néam?) de hoje! :) (Onde ver os episódios? Google > "Beautiful People BBC videos" > Buscar e se viraê, playboy!).

Yesterday dans Paris

Caminhando sozinho por alguma rua do 6éme, céu lentamente escurecendo com o final de tarde, vento frio de início de primavera batendo no meu rosto, vestido no meu 'uniforme' (vocês sabem: skinny, trench, cachecol - eu nao me canso, eu sei, eu sei...), parisienses ao meu redor apressados seguindo para casa. E em frente a uma brasserie, uma elegante senhora sentada perto da janela, com uma taca de vinho tinto a sua frente. Eu escuto "Yesterday" do Charles Aznavour tocando no bar. E o meu olhar cruza com o dela; eu sorrio, ela sorri de volta. E eu continuo seguindo em frente, em direção ao metrô. Pensando na grande responsabilidade que é ser jovem. Um dia serei eu, sentado numa janela de brasserie daquelas, olhando jovens passarem apressados em direção ao metrô; o ciclo natural da vida seguindo seu curso (ainda bem que inevitável!). E para mim, sabe o que realmente vai contar nessa hora? Muitas, muitas memórias para relembrar. E poder dar um sorriso ao relembrar de todas as coisas irracionais, insanas, loucas que fiz quando jovem e que exatamente me proporcionaram todos esses momentos dos quais estarei me lembrando. E antes do gole final na taca à minha frente, poder pensar na vida como o ato de beber um bom vinho: uma experiência complexa, muitas vezes difícil de ser apreciada da forma que tem que ser, mas quase sempre... fantástica.

domingo, 21 de março de 2010

Au revoir, Paris

Tentando me convencer que voltar para o Rio é super uma boa. Minha faculdade reinicia agorinha mesmo na segunda (diliça: reta final do curso, matérias que eu adoro para cursar, aquele povo simpatico e gente boa do meu instituto para reencontrar). O calorzinho gostoso da cidade (somente uns 40°C? 45°C?). Organizacao por todos os lados (sera que o pessoal do MetroRio ja conseguiu aprender a lidar com o dificilimo desafio de trabalhar com duas linhas de metro integradas?!).

Brincadeira. Sempre é bom voltar ao Rio. So quem mora naquela cidade sabe como é incrivel rever as praias do aviao, as montanhas tomando a forma que conhecemos, ter o "Samba do Aviao" como trilha sonoro para esse momento exato.

E quando eu estava quase me convencendo de que voltar para casa seria algo bom, olho pela janela e vejo o sol aparecendo entre as nuvens. A primevera européia começou. Eu sei, os europeus sabem, nao precisa ninguém dizer: a luz do sol diz tudo. E logo o continente vai se transformar mais uma vez.

E eu penso por que eu estou indo embora de Paris... E começa tudo de novo...

Merde. Mais um momento-local para sentir eternamente saudades.

sábado, 13 de março de 2010

Chez Mac Do' dans CDG

Na boa... alguém lá em cima gosta de me sacanear bonito. Tava tudo redondo demais para essa viagem. Tinha que acontecer uma merda. Por que? Cara... o pacote Murphy-te-sacaneia foi tao completo dessa vez que ele merece um post completo contando toda a saga que eu percorri para chegar até aqui. Agora só direi que paguei a minha língua total, e que a partir de hoje eu simplesmente AMO a TAM, e prometo nunca mais zoar as práticas corporativas de bom gosto duvidoso dessa adorável companhia pelo menos até esquecer tudo o que o staff incrível dessa empresa fez por mim e ser vencido pela minha necessidade permanente de reclamar e falar mal das coisas.

Agora só conto que a porra da minha mala atrasou e tá vindo num vôo mais tarde de Londres (#1 FUCK British Airways #2  gente, MEDA quando anunciaram o meu nome + meus trinta e sete sobrenomes - eu tenho um nome meio grandinho - nos altofalantes. Poxa, eu to com barba por fazer + cabelo completamente desgrenhado da viagem + cara junkie total. Se eu tivesse vindo de um vôo do Oriente Médio, tava FUDIDO!). Tô praticamente um zumbi de sono (vôo do continente americano para a Europa é sempre uma maravilha: quatro horas do seu dia simplesmente SOMEM, você chega no seu destino sempre parecendo um zumbi e fica por semanas sentindo essa merda de jetlag), e cambaleando fui procurar algo de interessante para fazer e matar essa merda de 1.30h de espera. Praticamente um panda de olheiras rastejando pelo saguao quando eu enxergo... os dois arcos amarelos (!!!). E ai, a maldicao 'Ronald McDonald do Fernando-na-Europa' mais uma vez se realiza: hamburger por 1€ + wifi grátis + cadeirinha confortável e com vista legal = Fernando McFeliz. Foda, eu sei. Mais de 10.000km viajados, no lugar mais cool e chic do mundo... e eu sou praticamente um americano obeso do interior do Kentucky (aliás, tem um casal de americanos na minha frente bem assim. Por que americano consegue sempre ser especialmente MUITO gordo, hein?). Mas tudo bem: eu estou com o meu trenchcoat, estou com o meu pullover lilás, estou com a minha skinny E... com o meu cachecol, portanto... algum glamour ainda me resta. ;)

Brincadeiras a parte, muito estranho estar de volta à Europa. Eu sei que vai soar mega 'brasileiro-viado-chato-dando-uma-de-europeu" (e juro que nao é isso), mas a sensacao é de "Welcome back home", sabe? O céu cinzento, as pessoas vestidas para o inverno que ainda nao acabou, tudo organizado, tudo funcionando, eu me virando nos idiomas para poder me comunicar. Muito diferente da sensacao que bateu quando eu cheguei na Europa pela primeira vez (a primeira viagem internacional sempre é inesquecível, né? Lembro do cheiro das coisas, e do panico que senti quando desembarquei em Frankfurt). Dessa vez parece tudo muito... normal. Como se eu estivesse me reconectando com o Fernando que eu deixei em Zurique. Louco, muito louco.

Ih, merda! A minha mala já chegou! Até +!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Até quando?

Acabei de ler a notícia da morte estúpida do cartunista Glauco, agorinha mesmo, antes de sair para o aeroporto. O que passa pela cabeça? Primeiro, vontade de rasgar o passaporte na hora em que chegar em Paris e pedir asilo ao governo francês alegando que o meu próprio governo nao tem condicoes mínimas de garantir a minha segurança. Segundo, cansaço e temor por perceber que cada vez mais, pouco a pouco, nós brasileiros nos acostumamos a esse estilo de vida meio faroeste, meio sem lei, aceitando isso tudo como parte normal da nossa vida cotidiana e perdendo a capacidade de indignacao e revolta - algo vital se nós queremos algum dia sair desse buraco que nós nos metemos.

E terceiro? O economista/cientista social falando alto dentro de mim, e relembrando que o desafio é grande sim... mas tem que ser enfrentado. E será. Pelo menos da minha parte. A gente merece mais, bem mais do que esse estilo de vida que estamos levando aqui no Brasil...

Fernando dit

You know your french well
Didn't take any decision so far
Hit me like a freight train
Please consider my request

You do expect a Messih
You want to be European
I would be your Bonaparte
Don't ever care 'bout what Napoleon says
(Napoleon says - It's never been like that - Phoenix)

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Et vive la France! Vive Paris, le tour Eiffel, o mau-humor dos parisienses e a beleza incomparável da Île de la Cité durante as noites de inverno (quando quase todos os turistas já se foram e você tem todas as ruas somente para o seu próprio deleite solitário). Ah, Paris...

Depois de quase dois meses de volta ao Brasil, não é que tá na hora de botar o pé no Airbus/Boeing de novo? Ok, a companhia aérea agora é TAM (reflexão: #1 upgrade em relação a Ryanair/EasyJet ou tá tudo no mesmo nível, afinal agora são 13h de viagem + aplauso quando o avião pousar no CDG? #2 Damn it que não é junho! Será que eles viajam também nas rotas internacionais usando aquele traje de festa junina RIDÍCULO super representativo da nossa cultura? Imagina que fofo eles chegando no CDG, JFK e Heathrow vestidos daquele jeito? :D), os gastos serão em euros... mas os dinheirinhos em reais (“Meu antigo salário alemão: Eternas saudades.”) e o tempo continua uma merda (previsão de hoje para Paris: 8°-12°C com chuva de tarde. Com o vento que faz naquela cidade... a temperatura desaba fácil uns 4°C ou 5°C, portanto provavelmente será Fernando andando como um mendigo quase congelando pelas margens do Sena once again. Afinal estamos falando de Paris: eu congelo, mas não uso casaco de inverno Bonequinho da Michelin style nem morto!). Mas dessa vez... com alguém me esperando em Paris (na verdade, o real motivo dessa viagem). :D Obrigado Santo Antônio my ass: Valeu Santo Expedito das Causas Impossíveis pela graça alcançada!

Então é isso: pelos próximos dias é adeus Rio 50°C (e pele suada 24h/dia. E cabelo indomável porque a umidade dessa cidade é foda.), adeus gente me gongando porque eu ainda insisto em andar com os meus cachecóis (*snif: que são de algodão, coitados... Difícil entender entender que aquela porra não esquenta, caramba?) e adeus essa vista maravilhosa da praia de Botafogo para o Pão-de-Açúcar que me faz automaticamente esquecer de todos os problemas que o Rio tem e querer ficar aqui para todo o sempre... E salut para La vie en Rose, macarons, franceses falando inglês com aquele sotaque ao mesmo tempo horrendo e fofíssimo que só eles tem... e tudo aquilo que faz Paris ser a cidade única que é!

À bientôt, Paris! (E claro tudo com cobertura para o Perdu und Trouvé en Traduction! ;P).


P.S.- Enquanto escrevia o post, zapeei pelos canais e chuta onde deixei sem perceber? Discovery Turbo - Concorde: Radiografia de um desastre. Relaxante, hein?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Curtas: Fucking VIP me too!

(Gentilmente roubado, larapiado e chupinzinhado do Aqui só tem bafon)
A-M-E-I. Só que:


- Só SP? E Rio?!: Paulistanos, vocês tem SORTE: enquanto o conceito de ser VIP em SP consegue ser beeem flexível (empresário foda, arquiteto badalado, estilista/modelo de renome), no Rio ele pode se resumir a algo bem simples: fazer/ter feito algum trabalho ligado a Globo. QUALQUER TRABALHO. Um inferno: é um tal de ator B que fez participação no especial de Natal da Xuxa de 1997 entrando na frente da fila, amigo de BBB querendo entrar em boate com um entourage mínimo de 10 pessoas - já ouvi até ator se vendendo como a mais nova promessa do diretor/autor de novelas X para conseguir não pagar comanda. Qualquer acesso ao mundinho da Hollywood brasileira super vale. Mas atenção: tem que ser Globo. Ex-global na Record por mais de 2, 3 anos?`Grandes chances de te perguntarem porque você não tem feito mais novelas (enquanto você está no ar na novela do horário nobre da Record).

Sistema brasileiro x Sistema Norte-Europeu: Difícil saber qual o sistema é melhor. Aqui, você se veste, parte para uma boate e se prepara para #1 pagar uma fortuna por qualquer ingresso a qualquer boate (meu maior choque foi perceber como sair no Brasil é CARO – algumas vezes mais caro do que na Alemanha) #2 mofar na fila, porque 257 VIP's (com os seus respectivos entourages) vão entrar na sua frente justamente quando você já estiver bem pertinho da entrada. Mas pelo menos você entra: na Europa você se veste, parte para a boate e não tem a mínima ideia se você vai entrar ou não. O door control é violento: tá com um cinto/brinco/relógio que destoa do que o door control acha deve ser o estilo da boate naquela noite? Não entra. Simples assim. Na Suécia era ainda mais cruel: vi empresário americano (de tenis, camisa social para fora e baggy jeans – CLARO) falando que era amigo de pessoa X, makes US$X.000.000 a year, implorando para entrar em um clube (no qual eu já estava dentro), enquanto a door olhava para o horizonte, só repetia “Sorry. We are crowded. e deixava passar outros suecos mais bem vestidos e de acordo com o que ela achava ser a boate naquela noite. A selecao VIP x Not VIP acontecia já dentro da boate: todo mundo tinha que passar pela mesma fila para entrar no lugar. Por um lado bom, por um lado ruim: lá, em tese, todo mundo igual em direitos de entrar no lugar, MAS nada me tira da cabeça que o povo nao-lourinho/nao-europeu seja barrado com mais frequencia nesses lugares. Aqui, entra quem pode pagar (e tem paciência para esperar na fila)... mas de alguma forma isso não seria fazer a mesmíssima coisa usando o fator preço (“Voce simplesmente não pode pagar! Vai pro 1140, vai pao-com-ovo!”)?

quarta-feira, 10 de março de 2010

Curtas: Por toda minha vida


Tem horas que eu não entendo a televisão brasileira: as maiores merdas ganham o prime time, divulgação, horário especial e escambau. E produções excelentes... ficam para altas horas da madrugada. Por que? Minhas últimas duas “noites corujinhas” (uma merda: desde pequeno sempre fui assim. Megas lembranças comigo lendo no corredor aos 8 anos de idade porque não tinha sono e dividia quarto com a minha querida mala irma) foram enriquecidas com as duas últimas edições do especial “Por toda a minha vida”. Ontem, Chacrinha, seu mundo louco e a conclusão de que a TV brasileira já foi bem mais ousada do que essa atual programação blasé e previsível.

E hoje: Cazuza. Se eu fosse um estagiário da Globo, juro que diria “Pra que?! Já fizeram um filme! Não vai dar pra fazer muito melhor!”. E por isso eu não sou estagiário da Globo: conseguiram fazer algo diferente, e ainda assim muito bom. Informativo, rico, atrativo, interessante. Do tipo de coisa que gostaria mostrar para amigos gringos falando “Isso é história cultural do meu país!”.

Sobre o Cazuza itself: #1 gaaato (mesmo com a língua plesa) néam? #2 adoraria realizar uma viagem no tempo e transportá-lo para uma Baronetti/Nuth nos dias atuais e ver o que aconteceria (eu sou a crueldade em pessoa: atóooro um circo pegando fogo!). Sobre anos 80: ah, eu tenho uma nostalgia dos anos 80! Era pequeno demais naquela época, só nasci em 85, portanto não lembro de muita coisa (sei lá, Xuxa de roupa de piranha mini-saia descendo da nave especial vale?) . Mas foi uma década... tao exagerada, tao rica, tao esquizofrênica, onde tanta coisa aconteceu. Um privilégio quem pode acompanhar tudo isso se passando na sua frente. Acho lugar-comum endeusar a década de 70, mas foi na de 80 que o mundo se transformou e tomou a forma que conhecemos hoje – e eu acho isso muito mais foda. Moda (imagina que loucura poder montar visuais tipo brinco assimétrico amarelo fluorescente, blusa morcego roxo e legging azul piscina e sair na rua assim?). Música (em que momento a música popular brasileira passou de Renato Russo e Cazuza... para essa coisa tipo Cláudia Leitte, Nxzero e Rebolation, hein?). Artes (ainda penso no que Keith Haring teria criado senao tivesse morrido tao cedo...). Mundo (tenho um livro-comemoracao dos 70 anos da revolucao, publicado pela gráfica oficial da Uniao Soviética. Incrível ver como aqueles acreditavam profundamente naquela ideologia que parecia dar tao certo nas páginas daquele livro... e ver como ela dava errado na prática). E a AIDS. Levou tanta gente talentosa que podia ter transformado a década de 90 em algo um pouco menos nude/natural look e um pouco mais néon. Estamos em 2010, e ainda nada de vacina, nada de cura, nada de nada.

Será que é uma tendencia/falha que todos nós temos em ver o passado sempre como algo melhor do que realmente foi?

P.S.- E depois, o que passa? “The Beach”. Conheco um monte de gente que simplesmente odeia. Eu adoro (filme de viagem, estética fugindo um pouco do lugar-comum, trilha sonora legal e moral de que viagem é mais do que fotinho-baladinha-chaveirinho). Pensamentos: #1 Leo DiCaprio tem MUITO carinha de turista americano/europeu tipo I-am-a-traveller-not-a-tourist  que usava Papepte do Guga, acaba indo a show de samba no Rio Scenarium e paga uma de alternativo por ter “ido à Lapa”. #2 Eu dava pro frances-que-foi-chifrado-pela-Ledoyen fácil. Sem fazer macaron nem nada. (Vive la France!) #3 Australiano sempre é meio bocó, né? (mas confesso que algo naquela coisa meio British guy meets Quicksilver super funciona para me atrair... rs). #4 Tailândia? Ilha deserta para brincar de comunidade alternativa? Nada de Internet, roupa lavada com um bom amaciante (nada biodegradável, bien sur)  e muito menos um bom Neutrogena limpeza profunda na tristate area? Támalucomermão?! Isso é um paraíso ou inferno? #5 Acho fofo o momento em que o Richard vê a foto do pessoal da ilha no laboratório de informática da universidade dele, lá nos EUA. É... Memórias... :D

P.S.2- Merde. Voilá: mais uma noite mal dormida! Ando indo dormir tao tarde que acho até amanha estarei inteiramente adaptado... ao fuso horário de Mazazlán ou Anchorage. Quando deveria já ir me preparando para ver o dia amanhacer lá na frente de novo... :P

sábado, 6 de março de 2010

Eu ainda me lembro

Eu ainda me lembro da primeira vez em que eu vi todo mundo: foi na visita a igreja Michaeliskirche, no centro de Hamburgo. Era um típico dia hamburguês de março: chuvoso, frio e com muito vento. Eu cheguei atrasado, vestindo o meu casaco preto mais informal (quando eu cheguei na Alemanha, comprei dois casacos de inverno: um sobretudo de la pesada para ocasiões mais formais e um preto de corte mais informal para o dia-a-dia) e o meu cachecol listrado de la quentinha (comprado na New Yorker por inacreditáveis 3,99EUR – o meu primeiro cachecol na Alemanha!). Encontrei o meu buddy student, Florian (jogador de futebol americano, 2,05m, 110kg, uma montanha de músculos e o melhor abraco de amigo que pode existir no mundo) e comentei como eu estava feliz de finalmente conhecer os outros estudantes estrangeiros. Afinal, fazia um mês que eu estava na Alemanha! A excitação inicial de estar no exterior já  tinha sido substituída por um sentimento incomodo de solidão e tédio por não ter muita coisa (na verdade, nada) para fazer. Eu queria amigos, eu precisava de amigos!

O primeiro de quem eu me lembro bem é do Francisco, o mexicano-americano. Californiano, alto, forte, irritantemente bem-vestido, irritantemente bonito e cool, tirando fotos com a sua câmera Canon profissional modelo XYZ2038, na porta de igreja. O objeto das fotos? O quarteto sueco: Emma, Charlotta, Karen e Lovisa – irritantemente nórdicas, loiras, lindas, altas, magras e cool. Acompanhando tudo, a dupla explosiva espanhola Marta e Elena: irritantemente latinas, irritantemente magras, bem-vestidas (Elena sempre usava um curtíssimo bandage dress acompanhado de altíssimos tacones. Qualquer outra mulher naquela roupa ficaria com cara de puta-da-Atlântica. Ela conseguia ficar incrivelmente sexy, mas ao mesmo tempo incrivelmente elegante e deslumbrante). E cool. Olhei para aquele grupo cool com uma ponta de inveja e pensando “Fudeu: jamais vou conseguir ser cool o suficiente para ser amigos deles!”.

Continuei falando somente com o Florian, subimos a torre da igreja, descemos depois de 5 minutos quando percebemos que o frio glacial que fazia lá em cima era insuportável (para não pagar mico de brasileiro-que-nao-aguenta-frio, fingia que estava tudo bem enquanto quase congelava. Na hora em que as finlandesas chegaram implorando para descer eu percebi que podia confessar que não aguentava mais aquele frio todo e fomos todos procurar um local mais quentinho). Na porta da igreja, o grupo cool united (californianos + suecas + espanholas) decidiram dar um perdido no grupo e ir conhecer sozinho lugares mais interessantes. Os roteiros dos passeios oficiais eram sempre nos locais mais chatos possíveis (o próximo passeio seria no “Mundo de Miniaturas” - até hoje tenho ódio quando penso que gastei 9EUR para ver miniaturas de Hamburgo e Berlim), e somente os nerds ficavam até o final. O Florian era um nerd, eu me senti na obrigação de continuar com ele, e enquanto seguia para o próximo lugar com a animação de uma mosca drosófila, vi o grupo cool indo embora e pensava como eu queria ir com eles, ser um deles.  

Depois de um outro lugar que ninguém achou interessante, o grupo acabou se dispersando e o Florian comentou que teria que ir para casa terminar uns trabalhos. Eu pensei “Ah não!! quando pensei que passaria mais um fim-de-tarde sozinho em casa, assistindo MTV e comendo torrada com nutella no sofá. O Florian comentou que tinha escutado que haveria um jantar dos estudantes estrangeiros na casa do Francisco naquela noite, no qual todo mundo iria. Menos eu, que não tinha sido convidado (afinal, naquela época eu não morava na residencia estudantil, mas no apartamento  do meu amigo na beira do lago Alster). O Florian me animou para ir... mas como eu poderia ir se eu nem sequer sabia onde o jantar seria? Foi aí que eu lembrei: eu tinha o telefone da Kimberly, a holandesa simpática (que, assustada e coagida impressionada com o meu “Oi, meu nome é Fernando! Vamos ser amigos?” aceitou trocar telefones comigo)!

O Florian tinha ido embora, eu estava de frente a um telefone público, moeda de um euro na mão e uma pergunta: devo ou não ligar? Segundo as regras dos bons costumes, jamais se liga auto-convidando para um evento para o qual você não foi convidado (mais atestado de “I am a loser + stalker” impossível). Se no Brasil eu jamais faria isso, ainda mais no Norte da Europa: imagina se ela simplesmente risse na minha cara e dissesse que não tinha mais espaço na mesa?! Mas por outro lado, eu não queria ficar sozinho naquela noite. Já estava começando a ficar triste por não ter ninguém para conversar – toda noite, sozinho, calado. Eu ia ficar pra sempre essa situação?! Os códigos de etiqueta e “o que/o que não fazer” na Europa eram tao diferentes dos do Brasil que quase sempre eu não sabia como agir e entrava em panico. Apesar disso, de uma coisa eu tinha certeza: sem coragem e um pouco de Peroba's oil ninguém chega a lugar nenhum. E para isso que eu estava na Alemanha.

Eu disquei o número, eu me auto-convidei, a Kim foi um amor e meia hora depois estava ajudando todo mundo na cozinha. O Francisco me deu um abraco de boas-vindas e falou que era muito bom encontrar mais um latino-americano naquele grupo. As suecas elogiaram o meu jeito de vestir e eu fiquei impressionado em descobrir que eu não tenho sotaque nenhum quando tento falar sueco (sabia que a minha vocação era pra homem loiro!!!). As espanholas berraram de felicidade (¡Fernando! ¡Fernando!) quando descobriram que podiam falar em espanhol comigo e não precisavam ficar tentando arranhar frases em inglês (sempre lembro da Lovisa falando com cara de indignada “But how do they study here?! They simply cannot speak English at all!” hehehe). Os californianos começaram a falar de praias, surf e de como eles queriam conhecer o Rio de Janeiro. E eu tive uma noite maravilhosa: conversas incríveis, pessoas incríveis, clima incrível. No meio do jantar, olhei para a mesa absolutamente internacional e pensei como eu tinha batalhado para estar lá. E como era bom tudo aquilo.

Seis meses depois eu e o Francisco nos tornamos amigos praticamente inseparáveis, com ele me apresentando para todo mundo como “his boyfriend in a non-sexual relationship” :D. Eu e a Lovisa nos tornamos melhores amigos, e até hoje nos impressionamos com essa coisa maluca de duas pessoas de partes do mundo tao distintas terem tanta coisa em comum. A Karen foi para Hamburgo somente para se despedir de mim e chorando me fez implorar que eu iria para Estocolmo de novo visita-la algum dia em breve. Marta me recebeu na sua casa quando eu fui a Madrid, e juntos com Elena fomos a las fiestas que me proporcionaram os maiores porres (e ressacas) que eu já tive na minha vida.

Um ano depois (exatamente um ano depois do início daquele semestre de Erasmus) estou eu de volta ao Rio de Janeiro, ao meu quarto, sentando na minha cama, escrevendo e revendo fotos desses amigos. Olhando ao redor e pensando como tudo é tao diferente de Hamburgo, como EU sou tao diferente do que eu era com eles em Hamburgo. Olhar para as fotos me faz resgatar um pouco daquela pessoa que eu era. E perceber que o Fernando que embarcou para a Alemanha é completamente diferente daquele que voltou.

Agora bateu uma mega orgulho de falar português, sabe? Bom saber o significado da palavra “saudade”... Nostalgia de um tempo que se foi e que nunca mais poderá voltar. Afinal, Hamburgo nunca vai ser de novo como naquele semestre de verão de 2009. Eu juro... eu dava tudo para poder viver aquilo mais uma vez! :D Sentar numa mesa, olhar ao redor e ver um grupo só de amigos: todos completamente diferentes, todos com tanta coisa em comum.

Mas talvez... seja bom que as coisas sejam como são, não é? Call me idiot, mas eu acredito que a magia da vida está  nos encontros. Encontros com pessoas, que dentro de um universo de outros encontros que não significarão absolutamente nada na sua vida, simplesmente irão se destacar e de alguma forma significar alguma coisa para você. Isso vai de desde o amor da sua vida até um cara que entrega folhetos de igreja e que falou algo que te... tocou: esse tipo de encontro que eu estou falando.

Eu tive a sorte de ter um encontro com todo um grupo de pessoas assim, e aprendi o máximo que eu pude com eles (ah, se eu aprendi!). Deve estar na hora de procurar os próximos encontros, não é? :D 

quarta-feira, 3 de março de 2010

Cadernos de viagem. Budapeste. Parte 2.

Passeios, experiencias (e furadas). Parte 1.
Budakeszi Üdvözlöm! (Bem-vindo a Budakeszi!)
A saga para chegar a Budapeste (ou melhor, Budakeszi) voces puderam acompanhar aqui. O que aconteceu depois? Vambora e aprendam o que vocês nunca deverao fazer uma viagem.

Depois de quase oito horas de viagem enfiados naquela van hermeticamente fechada (inverno europeu - abriu a janela = congelou), cheirando a Cheetos e do lado de um casal tipo S2 mais "Look! There is a bird! It's so romantic!" + selinho (com claro, automático suspiro de putice meu) até foi um certo alívio chegarmos ao nosso hostel mesmo que ele fosse nos quintos dos infernos. Na verdade, a minha maior preocupacao era com o fato de que o motorista da van (o tuga hetero gostoso - H, se voce ler esse blog, I will always be your fan! You know it!) simplesmente desmaisse ao volante depois de todo esse tempo: a espanhola e eu nao tínhamos carteira de habilitacao, o outro portugues era menor de idade e os americanos nao sabiam dirigir carros com marcha. Smart, nao?


O alívio durou até o momento em que saímos da van, conseguimos tirar as nossas colunas da posicao black old man e demos uma olhada ao redor. O lugar? Um buraco no meio do nada. Estávamos no subúrbio de Budapeste! Raiva: eu já morava mal no Brasil, tinha me acostumado a easy life de Hamburgo, ficado nos melhores endereços nas capitais européias; o hostel de Praga era ridiculamente barato e central. Iríamos pagar para ficar no meio do nada?! Hmpf! Fechei a cara e liguei a atitude diva (como se algum dia eu a tivesse desligado).
O hostel? O hostel era realmente um buraco. Em um buraco. A espanhola que reservou o hostel acabou fazendo isso por ter lido que estaríamos somente a 15 minutos do "centro" de Budapeste. Estávamos a 15 da Moskzva Tér, que distava outros 15 do Danúbio e dos principais pontos históricos da cidade. Merda. Batemos na porta, uma daquelas típicas senhorinhas da Europa Oriental me saí somente de robe (e cara de puta, claro, afinal eram quase 23h) e nos apresenta a "pensao" (= o puxadinho: os andares superiores da casa tinham sido transformados em 3 quartos e dois banheiros, e os inferiores eram onde eles viviam, com somente uma entrada em comum conectando tudo).

Os quartos? Como voces podem ver pela minha cara de feliz na foto acima, praticamente um Fasano Ipanema: quádruplos, com jogo de lencois e edredons com tema de oncinha. Na hora da divisao dos quartos, tive um insight MARA: todo mundo tinha percebido que o casal de americanos without notion digamos... tinha o nao muito agradável problema de ressonar levemente (levemente comparando... a um jato em partida ou um porco com enfisema pulmonar) - tipo, os dois juntos. Depois de oito horas de viagem, mais 5 minutos com eles e eu cometeria um assassinato com requintes de crueldade. Fiz um momento auto-reflexao (Fernando parando com o pezinho para o lado, carinha pensativa): eu era o único viado num grupo de heteros gostosos, solteiros e super legais (e sem chance de rolar nada. Tanto viado bem resolvido mundo afora, vou dar em cima justo de um cara que nao sabe fuder com outros caras? No way!). Teria que aturar dias e mais dias de "Look! What a hot girl, man!", inclusive em portugues (o tuga gato é a versao hetero da Samantha. Ódio.). Estava naquele buraco decorado com jogo de oncinhas = glamour zero. Eu tinha que dormir direito! Meu momento Madre Teresa de Calcutá? Sorrateiramente me joguei no mesmo quarto que o outro casal de amigos. Pela matemática do grupo, o meu outro amigo americano de Montana ficaria na cama do meu lado (loirinho, designer, gatcheenho - ÓTEMO) enquanto os irmaos tugas acabaram ficando no outro quarto com eles.


Licoes aprendidas? Primeiro: viagem no inverno, investe num hotel ou hostel mais bacana (liberta o judeu de dentro de voce, Jacob!). Aquela máxima que nós, brasileiros, aplicamos em viagem (hotel serve só para dormir) nao funciona quando está nevando e fazendo -3°C lá fora. Segundo: depois de perguntar qual a preferencia, quantas vezes na semana ele malha e se ele é afeminado ou nao checa com aquele contato local se o bairro onde voce vai ficar é central, bom de transporte, etc. A felicidade ou o inferno das suas férias muitas vezes distam somente algumas ruas uma da outra.


Budapest's First (and almost last) Meal
Depois de estacionar o carro, colocar as coisas nos quartos, filhadaputamente empurrar os portugueses para o quarto do casal "roncando unidos", ter uma crise "Angela Bismarchi voltando para Cascadura depois de terem matado Ox", superar essa crise, chegou a hora do next step: comer! Afinal, nao comíamos nada desde a parada no Mac Donalds no interior da Hungria, e eu vinha educadamente recusando tudo o que o casal S2 da nossa viagem me oferecia depois que o meu amigo americano insinuou que os biscoitinhos que eles levavam estavam completando algumas semanas de aniversário (#Activiafeelings).


Tudo bem: já eram 23h, mas em qualquer capital européia de médio porte encontrar qualquer lugar para comer nao seria nenhum grande desafio. Mas claro, essa é uma viagem told by LostundFoundinTranslation: alguma merda tinha que acontecer.
Mico#1 "Ah, vamos andando... Deve ter alguma coisa por perto!": Claro que tivemos a idéia genial de ir buscar um lugar para comer às 23h, num país estrangeiro, sem falar a porra do idioma local, no inverno centro-europeu, à pé. E claro que papai-do-céu nao ía deixar essa passar sem zoar bonito com a nossa cara.   Rua principal, olhamos para esquerda (nada), olhamos para a direita (somente uma loja beeeeem longe ainda aberta), resolvemos ir checar. Surprise, surprise: um estúdio de bronzeamento artificial 24h. Uma atendente com cara de entendiada e jeitinho todo biscate de ser nos informou que nao tinha nada para comer ali além de bebidinhas Valentino's tanning enhancer, fez aquela cara de "Ai? Um lugar aqui pra comer? Num sei..." (ódio de gente que faz essa cara!) e eu saí dali pensando que mente de negócios insana resolve explorar a demanda de "pessoas-que-acordam-no-meio-da-madrugada-e-resolver-retocar-a-marquinha-de-biquiní" (que, até entao, eu pensava se resumir somente à Valesca Popuzuda e semelhantes). Tem horas que o mundo me assusta.
Mico#2 "Ah, todo mundo sempre aceita euro mesmo!": Andamos mais 700m rua abaixo, eu dei mais 3 escândalos (tava frio pra caralho, eu tava com sono e... eu tava com medo do escuro! Ah, eu era o único gay do grupo: eu tinha esse direito!) e chegamos a um mercadinho muito do xexelento. Esperanca: o mercadinho parecia saído diretamente do período comunista (porra nenhuma nas prateleiras), os precos eram de Zona Sul (#momento SP friendly: supermercado carioca onde somente gringo, celebs e celebs wannabe fazem compras, afinal todo carioca sabe que num Zona Sul, os produtos sempre custam preco real + acréscimo pelo direito de imagem de estar sendo vendido num Zona Sul), mas pelo menos qualquer coisa era melhor do que coisa nenhuma.

O atendente (que fumava do lado de fora com um amigo encapuzado - no Brasil, nem pelo caralho cravejado de diamantes eu entraria naquele mercadinho) entrou pensando "Cada merda que me aparece a essa hora..." simpaticamente nos perguntou no que ele poderia nos ajudar. O casal S2 já foi catando tudo o que eles viam pela frente e foi para o caixa. Eu já tinha agarrado uma barra de chocolate húngara e criado uma relacao nutritivo-afetiva com ela. Na hora de pagar: euros? Non, non, non. Somente florins húngaros eram aceitos. Ódio.
Mico#3 "Quando voce decidir que mais uma camada de roupa nao será necessária... ela o será!": O atendente nos deu a dica que tinha um Mac Donalds non-stop (no Leste Europeu nao é 24h: é non-stop) logo ali. Continuamos andando rua abaixo. Frio. Vento. Temperatura de 0°C. Uma rua de casas operárias seguramente ainda do período comunista. Nada de calcada, andando por entre matinhos, areia úmida e buracos (já perceberam que eu atóooro um drama, néam?). Eu nos meus melhores sapatos comprados com o meu primeiro salário de estagiário, numa das melhores lojas de Hamburgo. Eu puto. Muito puto. (Uma coisa é ficar com fome, quase ter uma hipoglicemia, ser morto/assassinado/distrinchado no subúrbio qualquer de Budapeste. Outra MUITO diferente é estragar as minhas roupas e sapatos. Imperdoável!). Quando falo que andamos, I mean it: andamos mais de 2km até chegarmos a um enorme complexo comercial (do tipo com hipermercado Tesco, concessionárias, lojas de equipamentos esportivos, etc). E voilá: Le Mac Do'.
Mico#4 "I would like to order twenty-six cheeseburgers to go, please.": Imagina que voce é um Mac Slave húngaro, em mais uma madrugada de trabalho num Mac Donalds de um subúrbio qualquer de Budapeste. Voce tá lá, registrando pedidos de um bando de casal de namorados chatos quando de repente, saindo do meio do mato, surge um grupo de jovens encapuzados vindo na sua direcao. Esse grupo era a gente. Chegando no Mac Donalds. Elegante. Chique. Refinado.


O Mac Donald's já tinha fechado, somente o drive thru estava aberto naquela hora e ainda tínhamos 3 carros na nossa frente. Congelando busquei um cantinho onde o vento nao batia, e deixei os garotos resolvendo a questao dos hamburgueres. Quando de longe, escuto o " No.... No English!". Fudeu: o Mac Slave nao falava nada de ingles! Fui para frente da caixa de vidro e comecei: "Francais?" No. "Italiano?" No. "Deutsch?" No. "Esperanto?" No. "Língua do i?" No. Nada! Eu queria esganar aquele Mac Slave burro! Quando eu já quase desistia (e me acostumava com a idéia que desenvolver uma anorexia seria a única solucao para aquela noite), eu me lembrei: ainda tinha uma língua! "Russkiĭ?"DA! Ele falava russo!!!


Parênteses para agredecimentos importantes: 
#1: obrigado dominacao soviética na Hungria. E foda-se história (my ass: meu cheeseburger em primeiro lugar!)! 
#2: obrigado para mim mesmo por um dia ter tido a idéia mais nerd ever - passar o verao de 2005/2006 estudando russo no Centro de Cultura Eslava. Eu gastei um dinheiro que poderia ter ido para me deixar + gostoso (= musculacao em qualquer academia) aprendendo um idioma completamente inútil, eu nao peguei/conheci ninguém de gostoso naquele curso, a classe era feita na maior parte de garotas estudantes de história da PUC (equals patricinhas achando que tem consciencia social), o professor nao era russo mas... acabei tendo um dos melhores veroes da minha vida. Quem diria que anos mais tarde o meu russo iria me ajudar... a pedir 26 cheesburguers num Mac Donald's num subúrbio de Budapeste?! Claro: sem contar todos os russos que eu conheci durante esses anos. Aaaah, GRANDE Rússia!


Depois de pedir 26 cheeseburgueres (quase nunca falo russo. Lembrava do "dois", do "seis". Queriam o quê, poxa?!), come-los feito um mendigo debaixo da marquise de um Tesco fechado, com vento e chuvinha batendo... fomos fazendo o caminho de volta. Pula pocinha de lama, desvia de canal de água, pula buraco na rua. Encontramos um posto de conveniencia ainda aberto, compramos alguns chocolates (pagando um valor absurdo na conversao de euros > florins) e continuamos o nosso caminho para casa.


E eu ainda me perguntando: por que diabos nao tínhamos ficado em Praga?!!!
(continua...)