quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

All I want for Christmas


Pisa, última parte do meu European Bitch-and-Lonely Tour. Última parte daquele tipo de viagem que você sabe que sempre você irá lembrar como o auge da sua vida (viajar pela Europa, óbvio que iria rolar outra vez - mas com vinte e poucos anos na cara, sozinho, pouco dinheiro no bolso e a incomparável e indescrítivel sensação de first timer, infelizmente nunca mais :D). Ainda sob o efeito Roma (um misto de sentir-se um nada perante toda a história humana bem ali na sua frente, sentir-se em êxtase e do tamanho do mundo pela capacidade absurda de criatividade e realização humana), não necessariamente triste, mas um tanto quanto melancólico. Sentimento natalino? Ficou lá em Frankfurt - os mercados de Natais chic et fashion de Paris não me convenceram, com suas casinhas brancas, luzes azuis e pretenso elegante estilo off-white; muito menos conseguiria sentir qualquer Christmas feeling em Madrid (onde o máximo que dá para conseguir é um hangover feeling).

E lá estava eu, em Pisa, para passar o Natal com uma amiga de uma tia. Família brasileira: rabanadas, peru e tudo mais o que pudesse se adaptado a um Natale Italiano. Inclusive compra dos últimos produtos exatamente no último dia de Natal.

Até aquele momento o Christmas Feeling não tinha batido direito. Vinte e Quatro Natais com verão, calor insuportável, ida à comércio popular para comprar o fatídico modelito para a véspera da Natal, bermudinhas, mais calor insuportável na cozinha enquanto minhas trocentas tias cozinhavam os clássicos de qualquer ceia de Natal (minha tia preferida fazendo a minha all favorite torta de limão) e passar a noite de Natal no jardim da casa da minha avó, reclamando do calor absurdo e fofocando sobre os últimos assuntos da família. E um Natal com frio, neve, roupas de inverno, cachecóis com motivos natalinos, pinheiros genuínos de Natal decorados com luzes brilhantes e coloridas, quentão (clássico do Natal na Europa, com alemães proclamando que é uma tradição natalina alemã, húngaros orgulhosos falando que a sua versão é a correta e franceses tentando terminar a discussão utilizando o argumento que vinho aceitável e bebível inexiste no além-fronteiras de Republique). Claro que ainda não havia rolado a sinapse que aquilo era o Natal.

E lá pelas 13h fomos ao hipermercado comprar os últimos ingredientes para a nossa ceia. Ana, realmente não acreditando que a capacidade de comunicação internacional (assim com a minha cara-de-pau de estabelecer uma comunicação em qualquer idioma) não tinham limites, me delega a tarefa de comprar azeitonas a granel e me deixa na fila enquanto vai procurar outra coisa qualquer.

Enquanto espero a minha vez na fila (esperando na fila - já se via que eu estava completamente adaptado à cultura alemã :D), eu olho ao redor. E vejo um supermercado típico de véspera de Natal: mamas comprando os últimos ingredientes para a ceia, nonas carregando peças enormes de carnes, crianças pentelhando tentando conseguir a última extorsão pré-presente de Natal... Engraçado: tão longe de casa, tão igual à casa...

E bem nessa hora eu sinto um cheiro. Tender assado. Saindo do forno, no setor de pratos prontos. Tender assado. Tender assado. Tender assado. E vem na memória aquela sensação de calor absurda, minha tia gritando "Jesus, que calor é esse!" enquanto coloca o prato saído forno em cima da pia...

E ao meu redor somente famílias italianas gritando. E massas Barilla. E proseccos. E a vista dos Apeninos pelas janelas do supermercado. E mais famílias italianas gritando (deus, como italiano fala alto!).

E no fundo daquela gritaria todo, sons de sininhos. Sininhos natalinos. E uma voz feminina acapella cantando "Iiiiiiiiiiiiii... don't want a lot for Christmas... There is just one thing I neeeeeeeeed...". Cantando que não liga para os presentes debaixo da árvore de Natal, porque só tem uma coisa que ela quer.

Sim. O meu espírito natalino de 2009 decidiu dar as caras num hipermercado nos subúrbios de Pisa com Mariah Carey cantando "All I want for Christmas". O primeiro Natal longe da minha família. Do outro lado do mundo. Num frio do caralho. Sem presentes. Sem tender assado. Sem calor absurdo. Sem presentes. Sem presentes. Sem presentes.

Meia hora depois estourava lindamente o meu orçamento diário de viagem comprando um lindo-mas-inútil-para-o-clima-tropical-do-Rio suéter lilás na Benetton. Uma hora depois começava a chorar ridiculamente num cybercafé administrado por uns paquistaneses assim que a minha mãe atendera o telefone na casa da minha avó e eu escutara aquele som de bagunça que só quem tem família muito grande sabe como é e pensava que estava todo mundo lá, menos eu. Chorei ainda mais assim que liguei para Hamburgo e percebi que o meu amigo mexicano-americano realmente sentia a minha falta naquela noite. E chorei ainda mais (haja lágrima) quando liguei para o francês que tinha conhecido na última noite em Paris (e que me stalkeava desde então) porque estava muito carente e ele tinha reagido muito estranhamente à minha ligação (cette FDP se tornaria posteriormente meu namorado e alvo da chantagem "Você atendeu estranho aquela minha ligação de Natal!", a qual ele pagaria cada franco pela atitude demi-bombe dele :D).

Saí do cybercafé para o carro da amiga da minha tia secando as lágrimas. Ajeitei o cinto do trenchcoat, arrumei meu cachecol de lã de alpaca enquanto ela dirigia às margens do rio Arno. "Com cara inchada, mas elegante" pensei eu. E olhei para a mistura de prédios renascentistas e barrocos na Lungarno Mediceo. E pensei na sorte que tinha. E voltamos para casa, tive meu Natal italiano, passei o dia de Natal mais fantástico da minha vida passeando pelas ruas vazias de Florença (e o resto vocês sabem porque contei aqui no blog).

E o que talvez vocês não saibam é que mais uma vez Fernando foi vítima do late Christmas Feeling. Em pleno horário de almoço do estágio, em frente à vila de Natal do shopping RioSul, olhando toda aquela decoração fake com pinheiros e casinhas de Natal e pensando como ao vivo era tão mais fantástico, mais colorido, mais mágico. Quando na Renner, ao lado, começa a tocar "All I want for Christmas". Thanks Mariah, again. Obrigado por me relembrar da longa lista de pessoas com as quais eu gostaria de estar nessa noite de Natal juntinho, dentro de um chalé qualquer bem no meio dos Alpes. E obrigado por me relembrar que isso é praticamente impossível de acontecer! :)

Lição de Natal aprendida? Não importa o lugar do mundo em que você esteja, você sempre irá ficar deprimido porque aquilo que você realmente quer você não vai ter. :D De desde ao Ferrorama que sua mãe substituira pelo Autorama, Barbie Sonhos de Princesa Rosa substituída pela Susy Veterinária, Jogo Imobiliário substituído pelo idiota Imagem e Ação... Até todos os amigos ao redor do mundo que você gostaria de dar uma abraço bem forte e falar que tem saudades pra caralho deles.

Mas não adianta. Porque todo Natal a gente continua esperando que vai dar certo. Que vamos ganhar o presente que a gente quer. O presente perfeito.

E lá vamos. Colocando o maldito sapatinho na janela. Continuando com a tradição, mantendo a esperança. :D

Feliz Natal para vocês.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Considerando o calor senegalês que tem feito no Rio...

Vocês dão um desconto se eu confessar que ainda estou sentido uma puta falta de Hamburgo?

Inacreditável pensar que logo vai fazer um ano eu voltei (e dois de que eu fui) e ainda toda vez em que eu vejo uma foto dessa... eu me lembro exatamente da excitação da minha chegada na Alemanha. Da aventura que era ir para a rua. De escutar alemão, de ter diálogos em alemão. De pensar "Caralho, estou no Norte da Europa!". De ficar feliz como uma criança idiota toda vez que via neve (e não, morar num país que tem um inverno real não me fez ficar de saco cheio de neve.).

E bate a saudade de vestir aqueles casacões antes de sair de casa, se sentir aquele gelado gostoso no rosto quando se abria a porta da rua, de pensar que tudo aquilo era tão surrealmente diferente do Rio.

(Ok, hora do estudo, só queria compartilhar a foto de um amigo com vocês. :D)