Eu sou economista. Ou melhor dizendo, sou um soon-to-be economista – estou nas minhas semanais finais de faculdade. Eu gosto da minha faculdade, eu gosto do meu trabalho. Eu gosto de estudar Economia - é bem menos matemático do que as pessoas pensam e é uma faculdade que obriga você a pensar sob perspectivas diferentes (se você teve a chance de estudar na faculdade que ensina Economia e não Finanças). Eu gosto do meu trabalho – acho interessante a adrenalina que os negócios desperta, o exercício de ter que ser mais sucinto (algo que eu necessito bastante... e que definitivamente não sou nesse blog. :D).
Mas alguns dias parece que eu sou tomado por um sentimento de apatia. Não que eu esteja triste ou insatisfeito com algum aspecto da minha vida. É só um sentimento de 'boredom' com a previsibilidade do mundo ao meu redor. Algo momentâneo, algo que tende a acontecer muito especificamente em segundas e terças-feiras. Você olha para as pessoas ao redor, as conversas e atitudes parecem previsíveis e funcionais demais. Independe do lugar: pode acontecer num deslumbrante dia de outono no Rio de Janeiro, um domingo de verão em Hamburgo ou uma quinta-feira em Paris de férias. São dias em que o meu indomável humor me permite somente fazer o estritamente necessário: compromissos, tarefas do trabalho, estar presencialmente numa aula da faculdade. Estritamente o necessário, porque todas aquelas coisas necessárias e rotineiras que deveríamos fazer no tempo 'livre' se tornam mortalmente entediantes. E eu sei que eu não adianta sentar e 'pelo menos tentar'. Eu preciso de algum estímulo externo, de algum momento em que a minha atenção esteja totalmente focada em algo que me faça parar de pensar no 'o que eu deveria fazer' e me 'transporte' para algum outro lugar.
São nesses dias em que eu vou ao cinema.
Hoje, após sair do trabalho (e depois de cumprir a minha nobre parte enquanto membro do sistema capitalista de produção :D), comprei meu Doritos e minha Fanta Uva (gastronomicamente abominável, gastronomicamente delicioso :D), fui ao Espaço Unibanco e comprei meu ticket para 'Meia Noite em Paris'. Sentei numa cadeira entre dois casais, um tanto quanto ridículo no meu terno e na minha cara de entediado e esperei as luzes se apagarem. E simplesmente viajei.
O filme começa com uma 'cruel' combinação de jazz com cenas de Paris que conseguiram derrubar a minha apatia no primeiro instante. Não sei se foi o jazz ou Paris, mas a combinação dois dois conseguiu derrubar ridículas e incontroláveis lágrimas dos meus olhos. De novo, não por uma tristeza específica. Mas só pela beleza sensível que os filmes do Woody Allen tem a característica de começar. Talvez pela lembrança de estar naqueles locais que agora já me são familiares, de lembrar de mim incrivelmente triste na primeira vez, incrivelmente feliz na segunda e terceira. De pensar na pessoa que me espera lá, de como eu inconscientemente sinto mais falta dela do que conscientemente percebo e de como relacionamentos a distância são incrivelmente cruéis, mas incrivelmente fantásticos quando acontece de você estar junto da pessoa, mesmo que seja por alguns dias.
Uma das minhas maiores implicâncias com atores de Hollywood seguramente é com o Mr. Owen Wilson – o acho canastrão, piegas, o estereótipo do ator americano sem muito conteúdo dramático e profundidade. Precisou de Woody Allen para que ele (Wilson) conseguisse me transmitir alguma empatia com algum personagem que ele interpretasse. A história do escritor americano fascinado por Paris cercado de práticos americanos que logo se tornarão sua família é muito mais cativante do que uma resenha de jornal/blog pode transmitir. Woody Allen conseguiu capturar uma nuance de Paris incrivelmente específica, incrivelmente tênue e que infelizmente demora algum tempo para que se possa captar. Paris é uma cidade dolorosamente nostálgica (em oposição a Londres, onde tudo parece estar se transformando em algo excitante, algo mais moderno, algo mais cool). Tudo parece remeter a uma época, um estilo de vida, um Zeitgeist que não existe mais. Tentando explicar em termos mais práticos, a sensação é a de estar entrando em um salão de festas onde aconteceu uma festa notoriamente fantástica, mas na qual você não esteve. As pessoas, sorriem, as pessoas fumam, as pessoas conversam, enquanto você, turista solitário com tendências melancólicas que toda viagem sozinho sempre acaba despertando, inevitavelmente se pergunta como seria se você conhecesse aquelas pessoas, se você estivesse naquele lugar, se você tivesse estado ali naquele instante. Ao seu redor, a horda de turistas japoneses e americanos, tirando desesperadamente fotos e correndo de um ponto turístico para o outro. E você se achando um louco por não estar fazendo exatamente a mesma coisa, com tantos lugares 'que você tem que conhecer!' naquela cidade – mas o número infinito de páginas de possibilidades do guia desestimulam cada neurônio do seu cérebro, e você decide ficar andando e andando por aquelas ruas invariavelmente bonitas.
A mensagem do filme pode ser mesmo que tendemos irracionalmente mesmo a achar que seríamos mais incrivelmente em algum outro momento: da história, das nossas vidas (se elas tivessem seguido um rumo diferente). Na minha opinião? De que todo mundo precisa de um pouco de ficção, de um pouco de surrealidade para mudar a perspectiva do presente, do racional, do agora. (Ah, Adrien Brody de Salvador Dali, com o seu perfeitamente enorme e fantástico nariz que me fazem esquecer qualquer vontade que eu teria de um dia de mexer no meu...).
E eu saí do cinema, caminhei para o ponto de ônibus na Praia de Botafogo, olhando para a vista fantástica que essa cidade sempre acaba proporcionando. Com o meu olhar ajustado, com o meu humor ajustado, com jazz ressoando na minha cabeça. E pensando em como um bom filme sempre acaba colocando qualquer mente inquieta de volta ao lugar, reequilibrando as doses necessárias de nostalgia, poesia e de ficção que precisamos tanto para levar nossas sérias vidas a frente. No Rio de Janeiro. Ou em Paris.