segunda-feira, 28 de março de 2011

我々は世界です (金持ち、少なくとも)


Eu sei. Eu também fiquei chocado com as imagens do terremoto + tsunami no Japão. Eu também fiquei impressionado com as imagens de satélite das regiões mais afetadas, do tipo "Antes e Depois", mostradas no site do TheGuardian. Eu também fiquei com o coração partido com as imagens das criancinhas japonesas afetadas por toda a inacreditável desgraça da ameaça de meltdown em Fukushima. (Juro que eu sou das pessoas que mais detestam crianças, meu instinto paternal é simplesmente inexistente e sou felicíssimo por ser gay por não correr o risco de ter esse subproduto das relações sexuais chamado filho... mas imagem de criancinha asiática me desmonta. Dá vontade de apertar até dizer chega, dar um Tamagochi e mandar ela ir brincar com os amiguinhos no parquinho. Fofo demais, néam?).

Mas... "Campanha para auxiliar as vítimas do terremoto no Japão"? Mega concerto para arrecadação de fundos para as vítimas do tsunami? Afeganistão doando US$50 mil dólares, Sri Lanka doando US$2 mi + equipamentos de resgate e medicamentos para o Japão?

Alguns pensamentos (cruéis, é claro) vem a minha mente agora:

1) Japão é a terceira maior economia mundial: Sério, o Japão é uma economia tão chique, tão desenvolvida, tão rykah que eles se dão direito de ter deflação, honey. Não sabe o que é deflação? Pausa no texto para você, pessoa moderna e incluída digitalmente jogar a palavra no Wikipedia É quando o preço dos produtos cai porque simplesmente não existe demanda suficiente para atender a oferta (entre outros motivos, claro, mas eu estou dramatizando a teoria econômica para efeitos textuais :D). Em outras palavras, o povinho de olho puxado comprou tanto Toyota, tanta Louis Vuitton e tanto celular Sony que não tem mais o que comprar. (Enquanto você aí ferrado em 17x com muitos juros para comprar aquela mesinha da Tok&Stok feita de madeira compensada...)

2) Japão é o maior welfare state que equilibra qualidade x população atendida: Por que vamos combinar que fornecer hospital, escola, transporte público eficiente, tratamento psicológico (por que desenvolvimento e falta de problema real equals distúrbios psicológicos), moradia decente e estímulos financeiros para as pessoas procriarem para uma população de 9 milhões de pessoas altas, magras, loiras, lindas e suicidas é muito fácil. Outra é você estender esses benefícios para 130 milhões de pessoas.

3) Japoneses são os turistas que mais gastam ao redor do mundo: Todo mundo que já visitou as grandes capitais do mundo sabe – dá muito ódio e inveja ver turista japonês. Eles sempre andam em bando. Mas é um bando diferente dos outros grupos de turistas asiáticos. Nada de casaquinho “Vou pro Pólo Norte” de novo rico chinês. É trenchcoat Burberry, é bolsa Ferragamo, é sapatinho Prada - e tudo isso com aquela pele de porcelana impecável devidamente hidratada com produtos Shiseido. E não é só um: são MUITOS. Todos juntos. Saindo felizes e contentes carregando sacolas e sacolas da Louis Vuitton. Justamente enquanto você sai da H&M carregando uma sacolinha e decide se vai comer no Mac Donalds ou um Döner Kebab na esquina. Mundo injusto. Mundo muito injusto.
P.S.- Fiquei sabendo por um amigo francês uma história de que as lojas da Louis Vuitton em Paris simplesmente recusam-se a vender mais do que duas bolsas da marca para qualquer turista japonês. Segundo ele, mesmo indo de contra às 2542 leis antidiscriminação existentes na França, a Louis Vuitton faz isso como uma tentativa de proteger as filiais japonesas da marca, que em média cobram um preço mais alto pelas bolsas do que as filiais francesas. O que os japoneses fizeram? Já é absolutamente normal para os parisienses serem parados na Champs Elysees por japoneses ensandecidos com centenas de euros nas mãos e implorando para que eles entrem e comprem uma bolsa para eles! (Claro: França não é Escandinávia, e a polícia parisiense já atendeu não-sei-quantos-casos de turistas japoneses que perderam sua grana depois de pararem um estranho na rua e o estranho simplesmente desaparecer com o dinheiro deles.)

4) Japão é um dos principais mercados de luxo do mundo: Senão for o principal mercado de luxo do mundo. Claro, por motivos de status, as grandes maisons tem que filiais em Paris, Londres, Nova York, Milão... (E claro, na Oscar Freire e Garcia D'Ávila, néam? :D) Mas o principal mercado, considerado o mais estratégico para o sucesso ou derrocada de uma marca, seguramente é o japonês. E do tipo, não é só abrir uma flagship store na Omotesandō em Tóquio e acabou - tem que ser um prédio fodástico, assinado pelo baladérrimo escritório de arquitetura Fulaninho&DeSicranon, painéis de vidro que reclinam conforme o momento zen budista do universo e luzes em LED em toda a fachada emitindo a mensagem “Rykeza, Rykeza”. Afinal, toda aquela história de 'cerimônia do chá' (coloca aguinha no copinho com mãozinha em posição de 'lótus-reverenciando-a-cegonha-desafiadora', deixa descansar por 15 minutos – nos quais você deve ficar absolutamente imóvel sentadinho naquela posição de gueixa em cima daquele tatame duro – reverencia a cegonha-desafiadora de novo, dá um micro golinho e coloco o copinho de volta na bandejinha) reflete o apreço nipônico pela “whole experience”, e para eles comprar um produto de grife é mais do que um mero ato de compra, mas todo um processo simbólico de representação do status ocidental.

Será que realmente o Japão precisa tanto de ajuda assim, hein? Sofrimento humano é imensurável e sempre impossível de ser comparado, sempre tem que despertar o espírito de solidariedade que temos na gente... mas sejamos um pouco mais pragmáticos, não é?

Só para terminar: alguém aí sabe o que foi feito do Haiti, hein?

terça-feira, 1 de março de 2011

Dia difícil?

Não dormiu direito devido ao calor absurdo que faz na sua cidade?

Não dormiu direito devido ao calor absurdo que faz na sua cidade potencializado pelo calor absurdo que faz no seu micro-quarto de empregada no Catete/Flamengo (Praia do Flamengo é a rua, mas tamos do lado do Palácio de Catete – portanto mandar Flamengo é bem wannabe, néam?)?

Levou um “samba muleque” do cliente ao telefone hoje?

Levou dois “samba muleque” do cliente ao telefone hoje, quando 1) você estava super certo e 2) sua chefe mandou a clássica “O cliente sempre tem razão”?

Sua amiga do trabalho “suquinho-de-coco-com-maracujá”, não satisfeita de implicar com o seu momento de relax chamado Dunhill, resolveu bancar a eficiente-businesswoman-too-important-to-talk-with-me?

Ficou o dia inteiro enforcado num terno quente pra caralho tendo que fazer a phyna?

Bate aqui e segue a receita de destressar:

- Siga para o supermercado mais próximo (de preferência, algo bem low-cost tipo Redeconomia ou Princesa – afinal, high low nunca sai fora de moda) e compre o arroz branco mais decente que você encontrar, queijo parmesão (pode ser aquele pozinho sintético e amarelo que eles chamam localmente de “queijo ralado” por aqui mesmo) e caixinha de caldo de carne Knorr.

- Toma um banho e escova o dente (porque tomar banho e escovar um dente dá um upgrade em qualquer criatura humana na face da terra).

- Faça a sua melhor receita privada, que no meu caso é Risotto d'Ouef alla Frommagio di Parma (1) francês e italiano é União Europeia, é multiculturalismo, é super in; 2) receita ultra-complexa que consta de basicamente quebrar um ovo no final do cozimento do seu arroz Tio-João, jogar um queijo ralado por cima – afinal, o ovo vai dar uma liga absurda, vai super pegar o gosto de queijo ralado e vai super parecer que você jogou toneladas de queijo para fazer esse singelo prato).

- Abra a garrafa do melhor vinho que você conseguiu encontrar - que no meu caso se resume a um Pinot Noir “Domaine de L'Abbaye” que o BF français deixou na sua última passagem pela região (mas um chileno ou um argentino super cumprem bem a missão... agora, lembre-se: Brasil faz bem cachaça, samba e carnaval – vinho, NUNCA!).

- Agora a parte difícil: tomar vinho em copo de requeijão não rola, néam? Dá um “See you later” para o escorpião que habita o seu bolso, toma um drink a menos na The Week e compra uma taça de vinho legal na liquidação da loja chiquinha mais perto de você ( no meu caso: taça de cristal tcheco da Boêmia por míseros R$19,90. Suspeito que mão-de-obra escrava ucraniana foi utilizada nesse processo de produção, porque essa porra tava barata de mais e a taça faz o característico barulhinho de tlim-tlim que vidro não faz).

- Leva o prato para o quarto, enche a garrafa, dá um Oi para o vizinho tarado que eventualmente pode estar te olhando pela janela e tira a roupa. (Tem que ter alguma vantagem de estar no teu quarto de empregada e não num bom restaurante da sua cidade, néam?)

- Liga no Youtube e coloca “The Look of Love” (mas na versão da Dusty Springfield, poxa!) - a música mais “Phyna Feelings” ever. Até boteco da beira de estrada na Avenida Brasil ficaria chique tocando essa música.

- Delicie-se com o seu prato.

- Termine a refeição com um delicioso Wafer da Limão da Piraquê (1) high low again e 2) RÁ que você vai ter paciência suficiente para me fazer um suflê de chocolate ou creme brulee nessa altura do dia).

- Depois de tudo terminado, toma os últimos goles da sua taça de vinho acendendo um maravilhoso Dunhill. (E foda-se câncer no pulmão, derrame cerebral e 'fumar aumenta as possibilidades da má-formação fetal – morre muita mais gente de stress, não é? Então?).

- Registre tudo isso por escrito. (:D)

- Siga sua para sua caminha, refrescado e relaxado. E durma uma ótima noite de sono...