Engraçado como a sua perspectiva acaba mudando quando você sabe que são seus últimos momentos em um lugar. Tudo aquilo que era parte de uma irritante rotina acaba tomando uma cara de “Ah, é a última vez que eu...” (sim, eu continuo o mesmo dramático de sempre). Tudo o que faz a vida em uma determinada cidade completamente ordinária depois de um tempo que você mora nela começa a te provocar um sentimento de nostalgia antecipado.
Todo mundo que acompanha o blog há algum tempo meio que sabe: em 2009-10 eu tive o meu ano de intercâmbio na Alemanha. Ah, que incrível ano! Tantas coisas vividas, tantas novas experiências, tantos homem gato que eu pegu... tantos museus incríveis que eu conheci! :D
Todo mundo que acompanha o blog há algum tempo meio que sabe: em 2009-10 eu tive o meu ano de intercâmbio na Alemanha. Ah, que incrível ano! Tantas coisas vividas, tantas novas experiências, tantos homem gato que eu pegu... tantos museus incríveis que eu conheci! :D
E que inferno foi voltar ao Brasil. Eu lembro como se fosse exatamente agora: meu voo era Zurique-São Paulo. Eu fui o último a sair do avião da Swiss, com o espírito mais “Neeeeeeeeeeeein, lass mir bleiben!” possível. Disse o meu último “Auf Wiedersehen” para a comissária com o sorriso sou-um-brasileiro-simpático-e-sorrio-sem-motivos-mas-sei-que-você-acha-meu-sotaque-fofinho e, cabisbaixo, saí do avião. Meras 13 horas antes fazia 2°C em Zurique. Fazia 32°C naquela hora em Guarulhos. Eu olhava para aquela decoração bosta da Infraero e pensava “Não pode ser: eu estou de volta!”. (Parênteses: Por que a fixação do pessoal da Infraero que define os projetos de decoração dos aeroportos com vidro fumê, aço escovado e granito, hein? Caralho, os aeroportos brasileiros tem o mesmo clima amistoso e receptivo de um consultório de dentista da década de 80.) Saí do setor internacional e levei o baque duplo do calor (mesmo com o “ar condicionado” de Guarulhos – sim, eu fui irônico porque acho que o “ar condicionado” de Guarulhos sempre está desligado quando eu estou por lá.) e das pessoas ao meu redor falando português brasileiro. Entrei na fila de embarque da TAM para pegar o meu voo para o Rio, uma criancinha em direção ao Nordeste olhou para o meu bronzeado hamburguês e tocou no meu sobretudo de lã pesada com a cara mais “WTF is that?” possível. Vinha com um sobrepeso absurdo de viagem internacional, mas para o meu choque a funcionária da TAM mandou um “Relaxa, coloca tudo aí, o voo tá vazio...” e eu viajei com mais do que o dobro do limite de bagagem para um voo da Ponte Aérea sem pagar um centavo a mais. Quase dei uma sambadinha para agradecer.
De quando eu vi o Rio pela primeira vez, eu também lembro. Tinha uma argentina sentada do meu lado, indo conhecer a cidade pela primeira vez. Troquei uma ideia com ela sobre os locais que achava que ela deveria conhecer, as dicas para fugir dos golpes cariocas com turistas. E me virei pro lado e vi a Restinga da Marambaia aparecendo pela janela. Liguei o iPod no “Samba do Avião” (ainda não consigo decidir se é um clássico ou uma cafonalha escutar isso quando se volta ao Rio, mas acabo sempre o fazendo), apoiei a cabeça na janela e fui tentando adivinhar quais partes da cidade que eu via. Toda volta de viagem sempre provoca uma nostalgia (na verdade uma PUTA deprê, néam?) mas voltar pro Rio sempre tem algo de especial. É meio que um consolo olhar para Ipanema, para as montanhas, para os prédios históricos do Centro. Meio que um carinho na sua cabeça falando “Darling, tem gente que volta para Detroit! Olha para que lugar incrível você está voltando!”.
Escrevi tudo isso para dizer como é surreal estar deixando o Rio de Janeiro, em definitivo. Os motivos? Sinceramente falando? Estou indo morar com o meu namorado francês em Paris. Simples e direto assim. Para os outros, eu confesso que sempre floreava com um “Mas também estou com um projeto mega definido de fazer mestrado em Estratégias Matemáticas Avançadas!”. Na verdade foi um projeto puramente passional mesmo. Ok, não sai correndo de uma hora pra outra, larguei tudo e gritei para o meu namorado por telefone “Meet you in Paris!”. Planejamos isso por quase 2 anos – dois longos anos em que nos víamos sempre que dava um tempo na agenda. E como bom virginiano, me assegurei de todas as formas possíveis do que poderia dar errado. E claro que coisas que eu esperava que não fossem dar errado deram errado. Mas enfim, assunto para outro post.
O foco aqui é mesmo o Rio de Janeiro. A estranheza que me causa quando eu olho para essa palavra e penso que ela não mais significará “casa” para mim. A ironia de quando eu penso em como eu odiei essa cidade quando voltei da Alemanha em cada uma das suas características – falta de pontualidade, falta de compromisso, falta de organização, calor infernal, provincianismo. E como nesses últimos dias eu sabia que cada uma dessas coisas iria me fazer falta. De como voltar da Alemanha foi essencial para que eu reavaliasse muito do que o Rio de Janeiro era, do muito do que eu tinha do Rio de Janeiro e de que eu finalmente compreendesse que não existem lugares perfeitos no mundo - só alguns que combinam mais com os seus valores e desejos. Como eu fiquei puto em voltar ao Rio de Janeiro daquela vez! E como hoje eu entendo perfeitamente que eu TINHA que passar por esse processo de readaptação que me fez seguramente ficar muito mais forte e maduro. E que me fez me reconectar com uma cidade que eu sabia que não seria a minha cidade para todo o sempre, mas que tinha definido a minha personalidade. Algumas vezes precisamos ir ao outro lado do mundo para entender o que está bem ali, na nossa frente.
Saudades do Rio de Janeiro. Eis a sina de todo carioca que escolhe sair dessa cidade em algum ponto da sua vida. :)
P.S.- Sobre os amigos... melhor nem começar a falar. Principalmente porque eu já passei um RevitaLift no rosto, o avião já começou a descida para Lisboa e as comissárias portuguesas tem cara que tiram o buço na pinça de tão macho que são, portanto nem rola chorar para depois ter que reaplicar o produto. Mas te falo: doí. Pra caralho.
De quando eu vi o Rio pela primeira vez, eu também lembro. Tinha uma argentina sentada do meu lado, indo conhecer a cidade pela primeira vez. Troquei uma ideia com ela sobre os locais que achava que ela deveria conhecer, as dicas para fugir dos golpes cariocas com turistas. E me virei pro lado e vi a Restinga da Marambaia aparecendo pela janela. Liguei o iPod no “Samba do Avião” (ainda não consigo decidir se é um clássico ou uma cafonalha escutar isso quando se volta ao Rio, mas acabo sempre o fazendo), apoiei a cabeça na janela e fui tentando adivinhar quais partes da cidade que eu via. Toda volta de viagem sempre provoca uma nostalgia (na verdade uma PUTA deprê, néam?) mas voltar pro Rio sempre tem algo de especial. É meio que um consolo olhar para Ipanema, para as montanhas, para os prédios históricos do Centro. Meio que um carinho na sua cabeça falando “Darling, tem gente que volta para Detroit! Olha para que lugar incrível você está voltando!”.
Escrevi tudo isso para dizer como é surreal estar deixando o Rio de Janeiro, em definitivo. Os motivos? Sinceramente falando? Estou indo morar com o meu namorado francês em Paris. Simples e direto assim. Para os outros, eu confesso que sempre floreava com um “Mas também estou com um projeto mega definido de fazer mestrado em Estratégias Matemáticas Avançadas!”. Na verdade foi um projeto puramente passional mesmo. Ok, não sai correndo de uma hora pra outra, larguei tudo e gritei para o meu namorado por telefone “Meet you in Paris!”. Planejamos isso por quase 2 anos – dois longos anos em que nos víamos sempre que dava um tempo na agenda. E como bom virginiano, me assegurei de todas as formas possíveis do que poderia dar errado. E claro que coisas que eu esperava que não fossem dar errado deram errado. Mas enfim, assunto para outro post.
O foco aqui é mesmo o Rio de Janeiro. A estranheza que me causa quando eu olho para essa palavra e penso que ela não mais significará “casa” para mim. A ironia de quando eu penso em como eu odiei essa cidade quando voltei da Alemanha em cada uma das suas características – falta de pontualidade, falta de compromisso, falta de organização, calor infernal, provincianismo. E como nesses últimos dias eu sabia que cada uma dessas coisas iria me fazer falta. De como voltar da Alemanha foi essencial para que eu reavaliasse muito do que o Rio de Janeiro era, do muito do que eu tinha do Rio de Janeiro e de que eu finalmente compreendesse que não existem lugares perfeitos no mundo - só alguns que combinam mais com os seus valores e desejos. Como eu fiquei puto em voltar ao Rio de Janeiro daquela vez! E como hoje eu entendo perfeitamente que eu TINHA que passar por esse processo de readaptação que me fez seguramente ficar muito mais forte e maduro. E que me fez me reconectar com uma cidade que eu sabia que não seria a minha cidade para todo o sempre, mas que tinha definido a minha personalidade. Algumas vezes precisamos ir ao outro lado do mundo para entender o que está bem ali, na nossa frente.
Saudades do Rio de Janeiro. Eis a sina de todo carioca que escolhe sair dessa cidade em algum ponto da sua vida. :)
P.S.- Sobre os amigos... melhor nem começar a falar. Principalmente porque eu já passei um RevitaLift no rosto, o avião já começou a descida para Lisboa e as comissárias portuguesas tem cara que tiram o buço na pinça de tão macho que são, portanto nem rola chorar para depois ter que reaplicar o produto. Mas te falo: doí. Pra caralho.
6 comentários:
"Algumas vezes precisamos ir ao outro lado do mundo para entender o que está bem ali, na nossa frente."
Já posso dar ctrl c ctrl v pro meu médico nesse post?
Essas bibas não aprendem nunca
@Anonimo: Meaning? Agora fiquei curioso...
Eta. Eu que sou um carioca expatriado (provisoriamente) no Rio Grande do Sul senti um nozinho na garganta quando vim pra cá, imagine você indo em definitivo pra outro país... As coisas devem estar passando na sua mente numa velocidade frenética...
Anyway, parabéns! Seja muito feliz com seu namorado em Paris e boa sorte na sua carreira.
Quanto a mim, estou muito satisfeito em saber que, a partir de agora, terei as dicas mais fantásticas da Cidade-Luz. E o melhor, transmitidas da maneira mais divertida do mundo!
Boa sorte!!!
querido, mais uma vez, bon journey, que vc seja muito feliz em Paris e consiga realizar todos os seus projetos profissionais.
fico feliz que seu blog tenha voltado.
um grande abraço,
Olá Fernando! Boa Sorte por aí... Tenho acompanhado seu percurso, desde que vivias na Alemanha.
Sou Carioca, vivo no Porto, norte de portugal (há 12 anos), e compartilho contigo determinados sentimentos com relação a «terra brasilis.»
Geralmente vou a Paris, duas ou três vêzes por ano, por conta dos tais voos baratos, e por ter uma grande amiga (francesa), que já viveu no Rio... portanto, fico hospedado «chez elle,» no 8º arrondissement ; e quem sabe da próxima viagem não tomamos um café por aí? Abraços, e aproveito para desejar-lhe um Feliz Natal! Roberto Nunes
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