terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lisboa, Portugal: A viagem, a cidade, o desastre #1

Portugal é um país que exerce um tipo de atração inexplicável em mim. Inexplicável porque na eu sempre fui o tipo clássico de paga-pau gringo: quanto mais exótico, melhor. Aprendi alemão durante 7 anos, fiz dois semestres de japones (sendo que tudo o que eu consegui reter até hoje foram duas ou três frases idiotas que servem perfeitamente para o que eu queria: fazer os japas darem pulinhos de "Ooown, ele fala o meu idioma!" e ganhar a amizade deles) e até russo entra nessa lista. Enquanto isso, todas as línguas latinas foram sumariamente ignoradas por serem "muito próximas do português". (Primeiro, vamos combinar que estímulo para estudar espanhol não rola: pagar caro para se enfiar uma vez por semana para ficar numa sala por duas horas aprendendo "Ay Ay Ay / Mi cuerpo / Baila / Caliente!" não é comigo; italiano eu até acho incrivelmente lindo e sofisticado mas... em termos de importância profissional eu tenho impressão que tá ali, ombrinho à ombrinho, com holandês ou sueco; e francês eu sempre achei que não precisaria muito além do que eu já sabia...  Eu sei, destino fazendo um "Há Há Se Fudeu!".)  Por isso, Portugal foi uma surpresa tão inesperada da primeira vez - tinha ganho a passagem de presente de aniversário durante o meu ano na Alemanha, e super me questionava (antes de ir) se não deveria mudar o destino para um lugar mais exótico, tipo Turquia ou Países Bálticos. Que sorte foi não ter mudado, pois foi exatamente o que eu precisava naquela época: um contato com tudo o que eu sentia falta do Brasil (idioma, cultura, o jeito descontraído das pessoas) e o que eu começava a perceber tinha me identificado na Europa (o estilo de vida, o papo das pessoas e o jeito de se vestir mais aberto e moderno). E por isso, dessa vez, quando tive que escolher entre Ibéria (nem que me oferecessem um Piquetón + um nacão de Presunto Pata Negra!: pagar para viajar numa banheira voadora com comissárias espanholas dando fora naquele sotaque irritante, risco real de passar perrengue em Barajas e justamente na rota HookersSource-HookersParadise, digo... Rio de Janeiro-Madrid? Acho que não...), Alitalia (Amo Roma, acho uma das cidades mais fantásticas e incríveis que eu já visitei na vida, ainda tenho listas e mais listas de coisas para ver naquela cidade... mas o fato de que iria passar somente 12 horas na cidade em que faria a escala para Paris + a lembrança da baguncinha gostosa que é Ciampino+Fiumincino deram medinho e preferi play safe...) e TAP, acabei pegando a última. Doze horas em Lisboa para cobrir o que eu não tinha conseguido ver na viagem anterior e me adaptar lentamente à realidade de que eu estaria mudando para a Europa - o que mais eu poderia querer da vida?! :D
O voo foi aquela coisa completamente normal. Sendo bem sincero (vai soar meio "Oh-sou-foda, tenho milhas para ir até Saturno e voltar na Executiva!", não tenho, mas foda-se...), eu compartilho daquela ideia de que depois de algumas viagens você meio que abandona aqueles pensamentos maniqueístas tipo Companhia-A-é-MARAVILHOSA!/Companhia-B-é-uma-MERDA! e que percebe que a Air France não é o supra-sumo da sofisticação francesa, a TAM não é a vergonha cafona-caipira brasileira que todos achamos (apesar de ainda arduamente esperar que eles abandonem aquela ideia cafona de vestimenta caipira em Junho/Julho - gente, hora de superar Marília, néam?!) e que no fundo todo voo depende de uma união de fatores que envolve equipe, passageiros, tempos e posição dos astros no Universo. (Provavelmente a exceção devem ser aquelas companhias absurdettes do Oriente Médio e Sudeste Asiático onde as comissárias de bordo tem cara de colegial japonesa com educação de gueixa/servem cordeiro-assado-com-tâmaras-colhidas-no-Vale-do-Swat-durante-a-única-chuva-do-ano... mas com toda uma reserva gigantesca de petróleo debaixo do seu rabinho para torrar e nenhuma pressão política para racionalizar seus gastos fica fácil meter dinheiro sem fim numa companhia aérea nacional, néam?) A TAP foi bem aceitável: comida normal (ou seja, aquele frango-com-massa ou carne-com-legumes que tem gosto de plástico assado com chuchu e que você decide deixar pela metade mesmo para se empaturrar com o pãozinho invariavelmente frio e o plástico EVA que eles insistem em chamar de "pudim".), nenhum grande sorriso/nenhuma grande grosseria das comissárias, sistema de entretenimento normal (um monte de filme que você acaba não assistindo direito porque fica no eterno dilema "Tento-dormir-ou-chego-monstro-mesmo?") e um monte de brasileiro pirando no casacão Vou-explorar-o-Ártico indo passar as férias de verão no hemisfério norte. 
Ao final das 9 horas que separam o Rio de Lisboa (um tempo de viagem bem ideal, sabia? Acima disso é sempre aquela coisa "O café-da-manhã-é-servido", você está descabelado num nível Medusa-in-a-bad-hair-day por ter conseguido só dormir umas 2 horas, olha pro relógio e vê que ainda faltam 4 longas horas para chegar ao destino final...), o comandante anuncia que estamos chegando perto de Portugal e o pequeno-almoço começa a ser servido. Eu olho pela janela e vejo a escuridão cobrindo alguma parte do Saara Ocidental/Marrocos e finalmente cai a ficha de que eu estou indo para o outro lado do mundo. Uau. Como esse sentimento me assusta e excita. E como eu queria que eu tivesse algum dos meus amigos que tinha deixado no Rio para cutucar naquela hora, acordá-lo e filosofar sobre isso, nem que fosse me esperando no aeroporto em Lisboa. Enfim, viajar sozinho é uma chatice inevitável e continuo olhando a janela. E as luzes de Lisboa começam a aparecer, com o sol começando a nascer no horizonte. Fantástico. O aeroporto de Lisboa fica numa posição que os voos que irão pousar acabam fazendo um city-tour inevitável sobre a cidade, e acabo vendo a Ponte 25 de Abril, as docas de Alcântara, as Setes Colinas de Lisboa. Começo a tentar substituir a tristeza de ir para longe dos meus amigos pela excitação de pisar em um lugar estrangeiro. ;)

(To be continued)

Onde?: 62 Rue des Martyrs, 75009 Paris
Por que?: Porque tem Internet sem limites e grátis, o ambiente é de um café moderno, descontraído, meio escandinavo na decoração mas ultra parisiense na frequência e o barista é um daqueles tipo de bofe escândalo magro, alto, bem vestido e com cara de inteligente-e-esnobe-mas simpático que só Paris sabe produzir ainda tem vista de cara para o Sacré-Coeur de qualquer lugar onde se sente no café. Ah, e os cafés são ótimos.
Preço: Naquela categoria "Tiro o escorpião da carteira porque vale a pena". (Até barato, considerando-se a piração de preço nos cafés de Paris...)

3 comentários:

Daniel Cassus disse...

"E como eu queria que eu tivesse algum dos meus amigos que tinha deixado no Rio para cutucar naquela hora, acordá-lo e filosofar sobre isso, nem que fosse me esperando no aeroporto em Lisboa."

E eu que acabei de descobrir que o meu bisavô é português... e Meu pai batendo cabeça para correr atrás da cidadania italiana pela avó dele. D'oh!!! Metade da Itália que veio pro BRasil teve os nomes e os registros mudados. Tá impossível achar qq documento dela. Nem sei em q cidade ela nasceu e AGORA meu pai fala que o avô dele é português??!?!?!? Já posso matar? Mesmo que eu não tenha direito imediatamente à cidadania, tudo se dá um jeito.

Você está mais ou menos perto do hostel onde eu fiquei em junho, na Rue du Dunkerque. Mas o meu babado era mais pra cima, pro metrô Chateau Rouge.

Nunes disse...

Fernando,

Quando Você tiver tempo, dê uma espreitada (como dizemos aqui em Portugal), nesses dois blogs franceses, que acompanho, talvez ache-os interessantes:
http://www.etsionsepromenait.com/

http://parissecretetinsolite.unblog.fr/

Um abraço e votos de um Feliz Natal,

Roberto Nunes

Diego Rebouças disse...

Fico besta como você consegue fazer esses parênteses tão grandes sem perder a gente na leitura. Eu não conseguiria.