domingo, 10 de outubro de 2010

Sobre o Brazilian Style

Se “Brasil” fosse uma marca comercial, facilmente seria uma das mais valiosas do mercado atual. Por quê? Vamos fazer um exercício mental: você é uma criatura loira, branca (e com grande probabilidade de ser gordinha - vocês não entendem o dilema que é ir no mercado decidido a comprar maçãs e outras frutinhas sem graça e super faturadas e semelhantes, olhar para a gôndola das maças por €5,00/quilo e olhar para a gôndola dos sorvetes maravilhosos por €1,30... também o quilo, pensar "Tá frio pra caralho mesmo, tô cheio de roupa, ninguém vai notar se eu estiver um pouco mais gordinho.", e mandar pra dentro do carrinho os sorvetes), mora num país onde o início da primavera já significa temperaturas caindo abaixo dos 15°C e quer se matar quando lembra que verão mesmo só dali a 6 meses. Then você abre uma revista, olha para a foto acima e lê sobre o estilo de vida de um povo feliz-bronzeado-sarado-e-botocado (sim, Angela Bismarchi é super conhecida ao redor do mundo, e deve já ter dado entrevista até para a Nepal TV falando sobre a sua cirurgia de reconstituição do hímen) que flana por praias paradisíacas e praticamente sem fim, partying all the time e com o plus de terem a fama de serem ótimos na cama. E esse povo vive num país onde as oportunidades parecem multiplicar a cada momento (em enorme contraste com onde você mora, onde os anos dourados já se foram há muito tempo e "decadência" é a palavra mais usada para descrever a sua sociedade), com uma economia entre as que mais crescem no mundo, mas que ao mesmo tempo mantém um certo grau de civilização (relembrando: pode ser mesmo considerado democrático entre Rússia, Índia e China, hein? Thanks god que pelo menos Tiririca pode ser eleito!).

Impossível conter a euforia e a expectativa, não é? ;)

A questão que me preocupa é até onde nós, brasileiros, acreditamos e entramos nessa imagem que o Brasil anda projetando para o mundo.

O diretor da revista Monocle e colunista do FT, Tyler Brûlé (#1: Sim, o nome é escrito dessa maneira bicha; #2: Sim, ele é bee e é um Pokemón mistura de estoniano e franco-canadense; #3: Morry quando li na Wikipedia que parece que ele “inventou” esses acentos no sobrenome dele), considerado um dos maiores trendhunters (aka. gente que tem como rotina de trabalho viajar de um lado para o outro do mundo comendo, bebendo, vestindo o que ha de bom e de melhor para depois nos dizer o que nós deveriamos consumir) da imprensa internacional atual dedicou toda sua coluna no jornal inglês da semana passada a questão de como “Brazil is good to go”. A primeira vista? Fantástico! Elogios sempre são tão bem vindos e impossível não se sentir um pouco "Ai, pára, vai... Continua elogiando!" quando uma pessoa de fora cita tanta coisa boa sobre o Brasil.

Mas num segundo momento, depois topar acidentalmente com o post da Alexandra Forbes no blog “Boa Vida”, comecei a repensar o artigo. “Sou totalmente da torcida ao favor e fico super feliz quando leio elogios ao Brasil, mas desta vez fiquei meio incomodada... Sei lá, ando enjoada de ler mil e uma matérias estrangeiras puxando o saco da mesma gente, enchendo a bola dos mesmos lugares.” Red Alert: se um blog de estilo de vida já reage "Fasano? Trancoso? Atala? Ainda isso?", hora de o (futuro) economista-chato de plantão sair da bolha dourada e colocar a cabeça para pensar.

Muito se fala sobre o choque de se voltar de um país desenvolvido para o Brasil, mas poucas vezes eu li sobre aquilo que se sente ao se chegar lá fora. Como brasileiro, eu posso falar sem sombra de dúvida que o meu maior choque ao chegar em Hamburgo foi aprender a viver numa sociedade classe media. Ao mesmo tempo entender que muito estava agora ali, ao meu alcance financeiro, mas que ao mesmo tempo toda a gama de serviços e facilidades e privilégios que estamos mega acostumados não existe mais. (Meu melhor amigo alemão sempre se impressionava no Brasil com a quantidade enorme de caixas e atendentes em qualquer lojinha e restaurante, com pessoas empacotando suas compras e recolhendo suas bandejas nas praças de alimentação de shoppings, com os inúmeros serviços de delivery - isso inexiste na Alemanha) Adaptar-se a uma cultura "Trabalho humano é importante e caro demais para ser desperdiçado em tarefas tão imbecis / So do it yourself!", ter que pensar numa solução além da "Dá pra contratar alguém para fazer isso?" (juro, que por mais consciente socialmente, mais proto-intelectual economista da UFRJ que eu fosse, eu soltei uma cara de "WHAT?!" a la Marie-Antoinette-sendo-conduzida-para-a-prisão-pré-guilhotina quando a administradora da residência estudantil me deu um balde de tinta branca, pincéis e falou "Você tem dois dias para pintar todo o seu quarto.". Portanto, quatro dias antes de Fernando estar dando pinta no ICE/TGV a caminho da Paris, estava eu numa loja de produtos químicos em Hamburgo tentando transmutar a palavra "aguarrás" para o alemão e com uma mancha de tinta branca nos meus cabelos cacheados que não saía de jeito nenhum.), entender que não adianta se você tem grana para pagar duas, três ou vinte vezes o preço da entrada do clube: você vai ter que esperar na fila e passar pelo door control (que vai avaliar como você se vestiu e não quantos monogramas você expõe - escutar uma hostess falando para a minha amiga em sueco que não aguentava mais negar a entrada de turistas americanos que "achavam que camiseta Christian Audigier, jeans D&G e tênis Nike eram roupas adequadas para uma boate" enquanto nos deixava entrar - eu vestido de C&A brasileira + brechó Hamburgo + sapato, esse sim muito bom - me ensinou que sempre vale a pena tentar se vestir bem) pode ser bem mais difícil do que se parece.

Mas, um dos efeitos de se viver numa sociedade tão classe média (principalmente na Alemanha, onde o esporte nacional favorito - depois de falar mal dos holandeses - é criticar) é voltar chato, extremamente chato. Reclamando da comida, dos preços, das roupas, dos estilos oferecidos. De absolutamente tudo. A famosa síndrome (que o Alex Bez - que aliás, sumiu dos comentários - me alertou) da bicha "Fui-pra-Europa-e-voltei-chata-pra-caralho. 

Em minha defesa: criticar é fácil, o difícil é tentar entender. E como eu adoro escrever muito, esse blog nunca foi muito preocupado com a quantidade de linhas de um post e esse assunto me incomoda, vamos analisar a questão. 

Quando eu trabalhava na Alemanha com trendforecasting uma das questões mais discutidas no escritório (e que as grandes empresas mais buscavam saber) era a formação dos novos padrões de consumo das chamadas nações emergentes. Explicando: os padrões de consumo de uma nação (principalmente ligados aos serviços denominados de "premium") são relacionados com a maturidade da classe média que esse país conseguiu formar. Em linhas gerais, os mercados europeus são considerados "alta maturidade", onde não somente o produto, mas todos os seus "efeitos" são de relevância para o consumidor no processo de decisão de compra (questões relacionadas desde ao consumo verde, consumo consciente até a questão de como esses produtos são produzidos - Nike e a marca alemã Sprit sofreram sérios danos de imagem quando foi divulgado pela imprensa que seus produtos eram produzidos sob condições consideradas desumanas em países de terceiro mundo) e os mercados norte-americanos/japoneses de "média maturidade" (onde, por razões culturais, existe uma grande pressão cultural pelo consumo, um grande "fetiche" pelo produto em si muito mais do que a preocupação com a qualidade e como ele é produzidos - mas onde também as questões relacionadas a um consumo consciente já estão inseridas e ganhando espaço). 

E os países emergentes? Países emergentes são basicamente países com classe média em formação, que saíram de um estado inicial de relativa desigualdade social (no caso brasileiro, relativa é um eufemismo dos mais extremos) e que atualmente vivenciam um período de "ascensão social". E que se reflete nos padrões de consumo: a tentativa ainda é de copiar os padrões de consumo dos países desenvolvidos, com grande fetiche pelo produto em si, e sem nenhuma grande reflexão sobre ele - o que é importa é o status que ele irá me trazer ("Estou usando um esmalte Chanel / Estou vestindo uma calça Diesel - sou parte de uma elite"), muito mais do que questões relacionadas ao custo e qualidade dessa mercadoria ofertada.

Retornando ao que eu quero falar: quando se muda de sociedade por uma quantidade considerável de tempo, impossível não "pegar" certas características da sociedade nova e internaliza-las. Sendo uma dessas características o "padrão de consumo", sair de uma sociedade onde o consumidor enxerga o produto ofertado de forma absurdamente crítica (uma das maiores influências na hora da compra para os alemães são as revistas especializadas em comparar produtos e classificá-los por desempenho, qualidade, necessidade e preço - nenhum alemão sai para uma compra maior do que 100€ sem ler pelo menos um artigo na internet de uma dessas revistas sobre o produto que quer e todos os vendedores sempre sabem exatamente listar todas as características do produto que estão vendendo) e voltar para uma sociedade onde o produto é enxergado pelo consumidor como uma chave para aceitação e felicidade dentro de um exclusivo e seleto grupo de escolhidos é no mínimo enlouquecedor, para não dizer frustrante.

E sinceramente, isso me incomoda. A falta de questionamento com o que se consume aqui no Brasil é absurda, principalmente no que diz respeito ao preço. Formação de preços é um tema mega complexo, envolve uma série de outras questões (como, por exemplo, a questão dos impostos), mas o meu objetivo aqui é questionar o ponto de como aceitamos serviços ruins por preços altos. De desde uma Zara (que encaminha o que o Primeiro Mundo não quis consumir - produtos essencialmente de baixíssima qualidade - cobrando preços exorbitantes para ser vendido numa loja onde os vendedores ignoram você e se sentem como parte da elite do "consumer retail" só porque trabalham vestidos de ternos fabricados na Tunísia) até restaurantes (que no Rio de Janeiro, sinceramente, são uma calamidade: uma viagem até SP deixa claro como o atendimento no Rio é nada menos que péssimo, pratos ruins e caros - tudo isso pago com o ar cool tipicamente carioca de quem considera mal educado reclamar de que o serviço foi ruim e decide não pagar os 10%). Consumo, claro, parcelado em 10x no cartão, com taxas igualmente absurdas, mas que no final das contas damos um jeito de pagar e tudo continua exatamente do jeito que está.

Enfim, a leitura do artigo do Tyler Brûlé me faz pensar em que tipo de brasileiros ciceronearam esse cara por aqui, e que tipo de brasileiro ciceronearam vários europeus que eu encontrava pelas capitais européias e que vinham com esse discurso "Brazil is just wonderful / Ipanema is simply THE paradise!", permeados por The Weeks, Reservas, Osklens e Spots da vida. De como realmente, cada vez mais, nos aproximamos daquela imagem do empresário chinês/russo com sua mulher a tiracolo que entra na Louis Vuitton em Paris e pede para descer a bolsa com o monograma mais exposto, mais berrante possível. E como, cada vez mais, eu vejo pessoas ao meu redor pagando preços absurdos e olhando para a minha cara, quando eu reclamo do preço desses produtos, com um certo olhar de "Ou ele é muito judeu, ou isso é síndrome de quem não pode pagar e fica reclamando".

Temos muito mais de Vera Loyola, de nouveau riche do que queremos imaginar. E sinceramente, não quero me conformar com um Brasil onde os serviços, restaurantes e lojas são absolutamente maravilhosos pagando três vezes do que eles custam realmente.

Enfim, tudo se resume a questão de se queremos continuar acreditando que vivemos no lugar mais cool do mundo (e continuar tendo que parcelar absolutamente tudo no cartão, continuar tendo que ir para o exterior para "comer num lugar decente" ou "comprar roupas por preços decentes") ou realmente colocar um pouco dos pés no chão, criar um pouco mais de consciência crítica e quem sabe começar a demandar um pouco mais daquilo que nós é oferecido. (Exemplos? Os infames 10% cobrados por restaurantes e casas noturnas. Gratificação extra é a remuneração por um serviço muito bom - porque o básico necessário, sorry to say, é mais do que a obrigação. Não se sentiu tocado pelo serviço e simpatia do garçom, o prato demorou, o pedido veio errado? Sem 10%, sorriso na cara, obrigado - porque ser educado é fundamental - e ponto final.)

(Enfim, é isso. Opiniões dos leitores, por favor.)

P.S.- Fundamental para a execução desse post também foi a leitura do excelente blog "De Chanel na Laje", principalmente dos posts 1, 2 e 3. Super recomendo.

18 comentários:

Anônimo disse...

Fernando, tambem estudo economia (ad infinitum, já que não me formo nunca, já que odeio o curso), também voltei da Europa após um ano na italia e também ando chato para caralho. Nem eu me suporto. Acho tudo caro, não tenho dinheiro para nada, e só fico pensando como na Europa aproveitava muito mais, com muito menos... alguma ideia para sair dessa deprê? meu pai já me sugeriu ir até pro psiquiatra.. minha mãe acha que eu preciso de um namorado... mas to fora de namorado brasileiro!! ahah olha o nojinho.
Me identifico muito com seus posts. Sem querer vc acaba me ajudando muito. :)
guilherme

beto disse...

por coincidência, só li hoje isso que saiu na Folha na 6a. Palavras do cineasta francês Bruno Dumont sobre o Rio/Brasil:
"é uma idealização. cheguei ontem mas já percebi que o Brasil não é esse sonho que os franceses nutrem. a praia é muito bonita, mas os edifícios não. a pobreza é grande, a cidade é confusa".
Dá pra discordar?

e vc sabe... muito hype sobre o Brasil será inevitavelmente seguido de matérias beeeeeem negativas. é o ciclo normal das tendências, onde tudo vira so-last-week cada vez mais rápido.

o choque classe média é real. sempre digo que nada melhor pros nossos rebentos-classe-média que passar uma temporada vivendo como classe média no primeiro mundo pra ver comos somos mimados por aqui, com essa abundância de mão-de-obra barata.

a coisa de voltar chato... conheço muito bem. policie-se, pois se não se vira o chato mesmo. não é preciso abrir mão do olhar crítico, mas a distância tende a embelezar os positivos de lá e a proximidade ressalta o de ruim aqui. no fim, tem coisas melhores aqui, outras lá.

passei 2 temporadas longas, totalizando 10 anos, fora. na primeira vez que voltei, voltei que nem vc e o anônimo acima descrevem. mas passou. na segunda vez, tirei de letra a volta (e, na verdade, eu nem queria ter ido a 2a vez, mas acabou sendo ótimo). já se vão 10 anos e nunca me arrependi de ter voltado pra cá.

Fernando disse...

@Guilherme: Querido, total bate aqui, porque nós provavelmente somos irmãos gêmeos e não sabemos (com o tempo que eu estou na faculdade de Economia já dava para ter terminando um mestrado e ter iniciado um doutorado fácil - SUPER te entendo). :D

Gui, é tudo uma questão de perspectiva. Experiência de intercâmbio nunca é completa sem a volta para a casa e o processo de readaptação, porque nessa fase final é onde você vai consolidar as mudanças que você viveu nesse tempo que passou fora. TODOS os meus amigos passaram por essa deprê pós-intercâmbio - desde da minha amiga que foi da Holanda para Hamburgo (explicando: praticamente a mesma coisa, com a diferença que maconha não dá pra comprar em café e o idioma) até o meu melhor amigo que falou comigo de LA que não consegue se readaptar ao estilo de vida californiano.

Como você lida com isso? Take it easy, dá tempo ao tempo, tenta enxergar essa volta para casa como um novo intercâmbio e paciência. Que uma hora passa. (E sua mãe tá certa - sexo SEMPRE ajuda heeheh)

@Beto: MUITO OBRIGADO pelo seu comentário, você entendeu exatamente o que eu quis falar e ainda acrescentou.

Eu pensei muito nesse tema antes de postar, sabe? (Esse post ficou como rascunho por uns 3 meses!) Também pensei na questão de que de longe tudo é maravilhoso e tal. Tem coisas que eu realmente odeio na Europa: como eles reclamam de TUDO, a falta de espontaneidade, o excesso de formalidade para coisas simples.

Mas sabe quando eu tirei a prova dos 9 e vi realmente que tinha solidez essa minha crítica com relação ao Brasil? Quando eu fui a Paris em março. E vi que as minhas críticas, as minhas saudades ainda se sustentavam. O sentimento de "Ufa, agora dá pra relaxar!" assim que eu cheguei no CDG e não tinha que entrar na nóia de gastar fortuna num táxi para chegar no aeroporto porque tinha um sistema de transporte eficiente, poder comer num restaurante ótimo por um preço justo, etc e tal.

Claro que Brasil sempre vai ter uma preferência nos nossos corações, e como eu sempre falei na Europa, adoro o fato de essa ser a minha origem (e sempre ter uma fortíssima desculpa para pegar um avião e voltar para cá). Mas... EU acho que o futuro pra mim não está aqui. E com namorado no exterior falando "Vem!" então, a gente balança ainda mais no que quer para a vida.

Pode perguntar onde você morou nessas duas temporadas?

Lucas disse...

Fer e comentaristas acima, tb sofro dessa mesma chatice...Me controlo ao máximo mas quando fico bêbado na night não seguro a língua e reclamo e comparo tu-do.

Estou trabalhando nisso mas ei, fazem só 7 meses que voltei...mereço um desconto.

O+* disse...

Se eu não soubesse que o garçom é super-explorado, e que sua fonte de renda são os 10% das gorgetas, que ainda vão ser divididos com o pessoal da cozinha, porque os donos dos restaurantes sequer pagam um salário para a maioria, eu faria isto com a maior tranquilidade...
Mas...

Daniel Cassus disse...

Superconcordo com a forma como brasileiro não dá valor aos produtos/serviços. E restaurante no Rio é realmente uma coisa caótica! Ontem mesmo levei 2 egípcias do garçom e do maitre no Emporium Pax do shopping da Gávea.

Como você mesmo colocou, nossa classe média é beeem imatura em questão de consumo mesmo.

tommie disse...

Não sei se tem ligação com o post, mas conheço quem trabalha com turismo receptivo de "classe alta" e o Brasil se tornou caro e desorganizado pra essa gente, o único real interesse deles é pela natureza, acho que essa frescurada de Ipanema glamour é coisa de revista e, claro, gays. Americanos passam por aqui por causa das belezas naturais, todos vão a Foz e Rio, mas não compram nada e morrem de medo de tudo, parece que muitos navios já estão evitando parar no Rio de tão precário que o porto é. Já quem recebe alemães diz que eles não dão nenhuma gorjeta nunca 'no matter what', até porque o turismo alemão aqui é classe média, ao contrário dos endinheirados yankees que são mão aberta quando bem tratados. Mas, enfim, acho que um pouco do que vc narrou sobre pagar caro por monte de porcaria tem a ver com o processo de amadurecimento do consumo, com o fato de que durante décadas era preciso sair do país pra experimentar/comprar qualquer coisa melhor, ou seja, a maioria comprava o produto tupi sem nem ter idéia de que havia coisa melhor, éramos Cuba sem saber. De vinte anos pra cá, a coisa vem amadurecendo, aos poucos, o boom econômico ainda é recente, o encantamento está no auge, e as empresas estão deitando e rolando no consumidor-mané que leva gato por lebre. Talvez esse amadurecimento demore pois até o Brasilzão mesmo virar classe média falta muito, principalmente em serviços básicos. Até lá, vão tentar (e conseguir) nos convencer de que chique é gastar muito.

Alex Bez disse...

querido Fernando,
desculpe pela ausencia de comentários...o combo trabalho+horaextra+gente incompetente tem me tirado o sono.

muito phoda esse último post hein??

grande abraço,
Alex Bez

Gui disse...

Gente, achei que o texto não acabava nunca. Ufa.

Só terminei de ler porque ele era INTERESSANTÍSSIMO.

Eu nunca fui pro exterior (vale dizer que fica a vontade? *-*) Mas TODOS os meus amigos que foram passaram por essa depressão na volta. Parece doença, é super chato alguém comparando do teu lado, principalmente, quando VOCÊ não tem nem ideia do que aquela criatura tá dizendo.

Mas com o tempo todos eles se adaptaram e alguns quando vão ainda se vangloriam de algumas coisas do Brasil. Com bom senso, sempre.

Enfim, daqui a pouco tá tudo certo!

Beijos

livia disse...

Adorei o texto!
Engraçado que eu ia te indicar justamente o DCNL...mt bom!
Aliás,minha opinião sobre consumo eu já dei lá =D

Tão pueril quanto esse deslumbramento dos estrangeiros é a atitude daqueles muitos brasileiros que se auto-bajulam horrores quando vão conversar com gringo..

E dia desses vi um programa no multishow sobre uns estudantes brasileiros viajando pela america do sul(sei nem o nome...) e foi patética a cena em q eles foram pra uma boate e simplesmente começaram a dançar um samba-funk mt doido e depois ficaram gritando 'brasil, brasil' numa rodinha...
ai, gente, páraaaa!
vcs fazem isso qnd tão aqui? de onde vem tanta vontade de mostrar que é brasileiro??aff

bj

ps.: assistiu tropa de elite 2? fantástico. tão perfeito qnt o 1. Masss vou ter q rever em dvd legendado pq num entendi nada do q eles falavm no meio dos tiroteios...

Alex Bez disse...

Fernando,
uma das perguntas que me veio a mente quando reli o seu texto, foi: por que será que essa "criatura" ainda não veio morar em SP??? Fernando, com tantos idiomas em seu currículo, uma graduação de economia na UFRJ, seria muito fácil arrumar um emprego aqui numa multinacional company e depois quem sabe tentar uma trasnferencia para uma cidade da europa.
A holding INDITEX, controladora da ZARA, divulga com frequência em seu site (www.inditex.com) inúmeras vagas de trabalho na Europa, vc nunca pensou nisso? Voce com visto de trabalho europeu, ganhando em euros e morando em stuttgart???
Ficaria só faltando casar com um loiro de 1.85m, olhos azuis, advogado, praticante de artes marciais, que adora cinema, viagens e cozinhar...rsrsrs!

Voce vai me hospedar na sua casa quando eu for para a Europa?? Promete???

bjs e ótima semana

beto disse...

aqui vai a tréplica...

* season 1: Chicago; season 2: NYC-Charlotte-NYC.

* pelo que entendi do seu blog, vc morou 1 ano fora e tem 20 e poucos anos. então, 1 ano ainda deixa MUITO aquele sentimento de "quero mais". quanto mais nessa faixa etária. acho MUITO interessante explorar as possibilidades de viver, trabalhar etc fora. mas, depois dos 30 e muitos, começam a surgir outras questões (tipo, "quero ser eternamente imigrante?"). pois, por mais que alguém seja pragmático, adaptável, cosmopolita, vc NÃO tem, nem NUNCA vai ter a mesma cultura (no sentido mais amplo) de quem foi criado no país X. Exemplo bobo, mas real: imagina um gringo aqui, com a brasileirada toda falando da novela X, do Plano Real, do show da Xuxa, na morte do Senna, no fora Collor etc etc. Essas referências são sem significado para quem não viveu aqui na época.... Uma hora começa a incomodar esse sentimento de "não-pertencer". Aí se toma uma decisão: ou se volta de vez antes que se vire estrangeiro tb no seu próprio país, ou se resigna a sempre estar meio por fora da vida local.

* ainda sobre morar fora: é uma decisão a ser tomada apenas baseado no seu interesse, no que seria bom pra vc, independente de ter ou não um amor te chamando. Namorado/rolo de alguns meses não deve ser levado em conta na decisão. Pois, uma coisa é uma relação, ainda no começo, a longa distância, onde quase tudo é perfeito, pois não se vive o desgaste do dia-a-dia e não se mostraram ainda as verrugas de cada um... Outra, bem diferente, é dar um fast forward de 2 anos, quando o encatamento inicial já não tem mais tanto efeito, depois de ver a vida cotidiana sem glamour. É bem mais fácil superar um revés e partir pra outra se vc está na sua terra, com seu emprego, com sua indepedência, com sua cidadania, sua rede de apoio de amigos e família etc etc. Tenho um amigo que foi pra Europa super empolgado com o namô europeu, antes eles se viam a cada 3/4 meses, tudo um mar de rosas. Bom, foi meu amigo chegar de vez na Europa que a coisa azedou bem rápido. Sorte que meu amigo foi numa situação ideal, com visto bem kosher, grana própria etc. Imagina se ele dependesse do namô? estaria ferrado.
* pra terminar. adoro Paris (só perde pra berlim na minha paixão). há 5 anos vou todo ano (sim, no início tinha homem na jogada rsrs, agora somos só amigos). Cada vez que vou acho que está ficando pior. Estive mês passado: nunca vi tanta gente pulando catraca pra não pagar metrô; vi 2 ratos na cafeteria da Lafayette e a funcionária me disse "eles estão passeando hoje", fiquei soufflé!; vi uma gangue tentando bater carteira no metrô e a francesada nem aí, eu que tive que me manifestar; cobrar 10 euros por uma água na balada; greve de transporte toda hora... não é tão perfeito assim, certo?

Fernando disse...

@Beto: Uia, EUA deve ter sido foda enfrentar, hein... Americanos são poblemáticos, pelo que deu pra ver no Erasmus.

Super entendo os seus argumentos, Beto. Mas sinceramente? Eu acredito que é o tipo de coisa que tem que viver para tomar posição. Antes de ir para a Alemanha eu escutei que iria odiar, que os alemães eram pedras de gelo de frio, intratáveis... e no final as minhas impressões foram completamente diferentes. Morar fora é foda, super sei. Mas o ganho de cultura, de adaptação, de viver numa cultura, onde se tudo é desconhecido, tudo é novidade, é impagável para mim. Também acredito que ser eternamente imigrante é impraticável (afinal, a cada 2 anos perder todos os amigos? NAO!), mas morar no Brasil? Acho que para o que eu quero, pessoalmente e principalmente profissionalmente, as minhas chances são bem maiores lá fora.

Fernando disse...

@Beto: E sobre Paris, vi tudo o que você falou, e concordo cada vez que se vai a Paris piora porque... você acaba conhecendo mais Paris.

Mas sinceramente? Enquanto tiver a Pont des Arts, enquanto tiver um banco na Pont des Arts para sentar com sanduíche e uma garrafa de vinho pequena, enquanto tiver alguém tocando acordeão e eu puder olhar para o Sena e pensar "Paris...", Paris vai valer a pena. :)

Daniel Cassus disse...

Achei isso no G1 e lembrei de você:

http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/10/tributos-fazem-de-importados-populares-artigos-de-luxo-no-brasil.html

wair de paula disse...

O discurso dos europeus sobre o Brasil, seus produtos & situações, é um pouco o olhar do civilizado, do conquistador, sobre o "exótico, o novo, o casual". Daí se entende o fascinio, p.ex., sobre os irmãos Campana, que fazem um excelente exercício de marketing da obra inacabada, espontânea, natural, não racionalizada - em suma. Realmente, os serviços aqui são caríssimos para o que se propõem (sem contar os impostos sucessivos), e o tal acesso da Classe Média é apenas para bens de consumo. Já a classe média européia (e um pouco da americana tb) tem acesso á cultura, que é um bem maior. Já cheguei a ver um operário de macacão e cinto tipo Batman, cheio de coisas penduradas, na hora do almoço, coomprando ingressos para a ópera em Paris. Isto aqui realmente não acontece. Vocè vai a um museu qualquer e está cheio de crianças ou estudantes. Aqui, só quando a exposição é "espataculosa". Enfim, somos uma sociedade nova - eterna explicação...Abs

Anônimo disse...

eu não me impressiono com nenhum país. odeio me comportar feito turista ou um deslumbrado só pq vai lá beber vinho frances ou conhecer londres.. blablabla
eu ainda me impressiono sim com a natureza...essa sim me impressiona...não gosto do resto...apenas vou por uma vontade mórbida..e é mórbida mesmo pq e doentia...
mas o q eu n gosto é do cinismo..esse negócio de q é a vida, é o jogo, é assim q as coisas funcionam..ou é papo de gente burra e conformada ou é pq é rica, bonita e ta por cima da carne seca..esses eu mando pra putaqueopariu...n me incomodo em ser grosso e direto..mas falso, cinico, arrogante e pessoas me enchendo pq estou sendo sério demais e levando as coisas a sero, é dose..eu sou na minha e odeio q me encham ou q venham com piadinhas sem ao menos terem me conquistado antes...até pq o mesmo faço eu com os outros no quesito educação..alias, as pessoas trabalham tanto q aí pq trabalham se acham q sabem conviver socialmente, ao passo q eu , q sou mto mais reservado me garanto no tratamento com pessoas q ainda NÃO me agrediram fisicamente ou psicologicamente...bem, antes de sair por aí e nossa! a cultura europeia, isso e aquilo, vai ter umas aulinhas de educação e também aprenda a não ser explorado e ter a noçao q para os ricos vc nao passa de um serviçal e consumista bobo q serve de piada para eles!

Raiza disse...

"Os infames 10% cobrados por restaurantes e casas noturnas. Gratificação extra é a remuneração por um serviço muito bom - porque o básico necessário, sorry to say, é mais do que a obrigação. Não se sentiu tocado pelo serviço e simpatia do garçom, o prato demorou, o pedido veio errado? Sem 10%, sorriso na cara, obrigado - porque ser educado é fundamental - e ponto final.)" concordo plenamente,mas falar isso aqui no Rio é pedir pra tomar pedrada.As pessoas vem e dizem "mas o garçom ganha mal,precisa de um complemento".Oi? quem tem que melhorar o salário dele é o dono do estabelecimento,não eu,consumidora que já paguei pelo serviço.Fora que muitas vezes os donos embolsam essa grana e o funcionário fica a ver navios.E também não gosto dessa coisa de ter que ser 10%.Eu que tenho que avaliar o quão bom foi o serviço.