quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eu juro que eu tento me controlar #2: Glee


Eu sei que metade da blogaysfera vai me matar, mas se o Daniel falou que não gosta de SATC (e o Thiago ousou mencionar que nunca tinha visto um episódio na vida), eu me senti no direito de poder também questionar uma unanimidade.

Eu achei Glee uma bosta. Grande bosta. Enorme bosta.

Por quê?

Agudinhos a la “American Idol”: Eu já assisti “Ídolos” (primeira edição, quando foi ganho por um ex-coleguinha de escola meu – daquela droga de escola do Mirabel), eu já assisti “American Idol” e até acompanhei por alguns episódios o “Deutschland sucht den Superstar” (que tinha o equivalente germânico do Serginho – depois de MUITO bronzeamento artificial, como é de praxe das bees pão-preto-com-ovo -, Benny Kieckhäben e apresentado pelo gostosón mor da televisão germânica Marco Schreyl). E sinceramente? Glee soa exatamente igual. Uma bosta só: agudinhos limpos e claros, caretinhas e mãozinhas Whitney/Mariah na hora de cantar, vozes bonitinhas-mas-que-tão-limpinhas-dão-sonozzzzzzzzz. Tipo Yakult: pausterizado demais, sabe?

Historinhas moloídes: Pode ser que eu esteja numa diferente fase da minha vida, pode ser que eu tenha vivido tempo demais em território europeu e me acostumado à pegada cínica e nada inocente das produções de lá, mas... os excluídos que se unem e conquistam um pouco de glória através da música? Garotinha nerd-e-com-beleza-não-óbvia (sempre uma atriz bonita pra caralho disfarçada por um cabelo horrendo + óculos errado) apaixonada pelo gostosão que joga Lacrosse/Futebol Americano? Em 2010? Ainda? Super acreditamos que os principais problemas da juventude americana ainda sejam esses, néam? Imagina se fosse uma produção européia: teria Christiane F. em pessoa dando aula de química (e ensinando aos alunos a melhor forma de sintetizar ecstasy), professora transando com os alunos (gente, num Corujão da vida de tempos atrás eu vi um filme inglês chamado “The History Boys” que tem uma cena entre aluno e professor que entrou fácil para cena mais erótica que eu já vi em filmes na minha vida.), ao mesmo um viado polêmico (cota de viados em filmes regulada pelo governo francês: todo e qualquer filme francês tem que ter ao menos um viado e um casal questionando os valores do casamento e trepando com todos os personagens do filme), estudantes fumando maconha no campo de futebol, árabes planejando explodir o colégio e garotas trocando dicas sobre como fazer abortos. Ah, a juventude européia... :D

Modelinho de série moloíde: Eu, crianças do Cazaquistão, Stalin e Platão devemos todos ter tido traumas no High School (ai da criança que deve ter negado dividir Mirabel com o Stalin: fato que ele deve ter prendido, torturado e feito goulash dos coleguinhas burgueses dos tempos de escola na Geórgia). Mas por que diabos americanos têm essa necessidade de voltar ao tema “High School” todo o tempo? Get over it, caramba! Essa coisa mítica de “Prom Party”, “Spring Ball” e afins chega a dar sono de tão chata que é. Pior é o “efeito Malhação” da coisa: atores de 20 e muitos anos, currículo de piriguetagem maior do que a minha lista corrida de ficantes em Hamburgo, fazendo carinha de santinho e dileminhas “Is he really the special one?”. Saco, saco, saco.

Interpretações musicais dignas de “Jogral Educativo do Educandário Santa Neusinha de Luzilândia”: Sinceramentchy? O antológico momento de vergolha alheia “Barbie Girl” by ‘Love for Johnny’ e ‘Dani for Love’ tá ali, ombrinho com ombrinho com o que eu vi em Glee. Os figurinos e caracterizações realmente são interessantes, mas se lembrarmos que até Zorra Total não faz nem tão feio assim nesse quesito, não dá para dizer “Oh, Puxa! Que maravilha!”. O que foi o episódio da Lady Gaga?! Vocês acreditam que aquele povo teve o topete de suprimir o “I’m a free bitch, baby” de Bad Romance, provavelmente porque algum produtor paunocu pensou o que as adolescentes do Meio-Oeste, fãs de Taylor Salsichas Swift e leitoras de Seventeen, não agüentariam o choque cultural de escutar um palavrão na TV?!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Eu juro que eu tento me controlar...

Mas tem horas que a maldade e um espírito mau me dominam. Por que? Posso começar?

Algumas coisas eu não compreendo

Noitinha de sexta-feira, cansado do trabalho (o dia inteiro no salto, sabecomoé...), xícara de tea with milk na minha frente, dando uma zapeada nos canais antes de planejar o que fazer da noite, paro no simpático “Vai pra onde?” do Multishow. Li a descrição, achei fofo (viagens no estilo estudante, roteirinho out of the beaten track). Simpático. A não ser por um detalhe.

Bruno de Luca.

Momentos de maldade de Fernando:

#1: Bruno de Luca: Bruno de Luca. (Precisa elaborar mesmo?)

#2: O sotaque carioca do Bruno de Luca: Exageradóan, até para um cariocáan. E em inglês, então... Provavelmente o mesmo dialeto falado por muitos... "jovens de origem monetariamente desfavorecida em busca de pessoas mais maduras que saibam reconhecer o potencial que eles tem". (Semana passada tive uma crise de riso no "Tô nem Aí" ao escutar a conversa de um falando *alemão* com um alemão de uns 45 anos, gordinho e usando uma daquelas camisas furadinhas - cor nude. Foda: duas caipirinhas, Fernando alegrinho, alegrinho...).

#3: Bruno de Luca é o tipo de brasileiro... que grita para as pessoas na rua, aleatoriamente, “Brasil! Brasil!”: Eu ODEIO isso. ODEIO! Porra, porque essa necessidade patriótica de exibir a sua nacionalidade, caralho? Por isso que eu sou fortemente partidário da ideia de que a Policia Federal ministre um curso estilo “O mundo tá se fodendo para o fato de você ser brasileiro: como superar a crise Futebol+Carnaval+Eu sou VIP/Sou brasileiro durante suas viagens no exterior”. As pessoas tão se fodendo para o fato de você ser do Brasil, honey. E stay the tip: os únicos que fazem também isso? Americanos. ;)

#4 Bruno de Luca é o tipo de brasileiro... que fica falando para as pessoas aprenderem português: Honey, você é um gringo, você fala um idioma louco e exótico, você mora no frio e desenvolvido Hemisfério Norte. What automaticamente means que você já foi ou vai regularmente para a Espanha (Espanha é o Cabo Frio/Ubatuba dos países desenvolvidos #FATO). Você tem duas opções: aprende Espanhol e pode viajar para 953 países no mundo + fazer um enrolación e se comunicar com brasileiros e portugueses... ou pode aprender português! E poder falar mal para caralho esse idioma falado por Brasil, Portugal, Angola e... algumas ilhotas mega importantes ao redor do mundo. Uau! (Sorry to say it, mas português na Europa é considerado algo tao útil de se aprender como dinamarquês ou bielorusso).

#5 Bruno de Luca é o tipo de brasileiro... que anda de casaquinho de moletom transadinho da Oskley: Porra, você tá na Europa, com milhares de brechós e lojinhas de moda e grandes cadeias de moda vendendo todos os tipos mais transados e legais de roupa que você possa imaginar. Só o fato de pisar fora de casa e olhar para a montação das pessoas é uma aula de moda fodástica via osmose. O que você escolhe? Visual “Leske do Posto Sete sobre Serra para Terê Fantasy”. Exatamente o que você veste num dia frio no Rio de Janeiro. E depois vem me falar da representatividade de moda brasileira no exterior? Oskley e um monte de bíquni asa-delta vendido em uns corners-shops em Miami? Please...

Eu juro que eu tento parar de ser mau... mas dá?

Santa Madre do Capitalismo do Real Forte, que os finais de semana prolongados em Buenos Aires e Punta del Este eduquem o meu querido povo e evitem futuros momentos de vergonha alheia nacional como esse.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

The Bitch is back

Como eu escutei uma vez: once in the Oil Industry, always in the Oil Industry. ;)

Porque somente contribuir como consumidor para o capitalismo is not enough – tem que trabalhar na pior indústria dele! :D

Um shot do Black Gold para vocês! E viva o aquecimento global! Êee!

P.S.- Very happy, tinha que compartilhar isso com vocês!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um ano

Há exatamente um ano, eu me sentei em frente ao meu laptop Toshibão-velho-de-guerra (que morreu Agosto passado, levando TODAS as minhas originais das fotos dos meus primeiros seis meses na Europa) e olhei para a janela do meu quarto, que dava para o jardim da residência estudantil. O que eu vi? As árvores, com suas folhas em tons de dourados e amarelo e vermelho, mostrando que o outono hamburguês já tinha chegado para ficar. Absolutamente deslumbrante (para mim, até hoje o outono é estação do ano que eu mais prefiro em países temperados. Fuck off! Black Eyed Peas e Stereolove tocando nos Beach Clubs das capitais européias - eu quero é mais andar elegantemente vestido num sobretudo+cachecol num parque com folhas caindo e sentindo os raios de sol tocarem levemente no meu rosto – sem causarem queimaduras de octogésimo grau como acontece no Rio). Mais uma vez eu relembrei de como eu estava longe de casa, de como aquilo tudo era diferente de tudo o que eu já tinha vivido, e o mais importante: de como eu tinha batalhado para ter tido a oportunidade de ter visto aquilo. E o que eu sentia naquele momento? Nada. Absolutamente nada.

Foi nesse instante que eu cheguei à conclusão que tinha que colocar mesmo aquilo para fora. (Não, you nasty readers, não era *aquilo* - até porque, sendo beeeem sincero, *aquilo* era posto para fora com bastante regularidade em terras européias :D). Aquele sentimento de apatia, de “Que bom...”, absolutement blasé... tão típico de alguns amigos super acostumados a viajar inúmeras vezes para destinos internacionais (ainda reviro os olhos para quem tem a coragem de falar “Ai, acho Londres/Paris/NYC so boring...”. Capital mundial não se acha “boring” – no máximo se prefere uma a outra, mas nunca se “Ah, não curti” uma delas. Se você não consegue encontrar algo nada menos do que absolutamente fantástico em cada uma dessas cidades, você não tem cérebro e faz o favor de ir num Orlando Fly&Drive nas próximas férias e não enche o saco!) não podia estar acontecendo comigo. Justamente eu, que (verdade verdadeirissima) planejava aquela porra de viagem desde os meus 6 anos, quando ganhei o meu primeiro atlas mundial (enorme, quase da minha altura) e fiquei fascinado com aquelas páginas cheias de mapas e fotos sobre os mais diferentes lugares do mundo. (Na verdade, esse atlas também me provocou a minha primeira crise “Ninguém me entende!”. Ganhei o Atlas, fiquei todo feliz, levei para o colégio crente que todo mundo iria compartilhar do meu “Que foda!” ao ver aquele livro gigante. Entrei na sala com um sorriso de orelha-a-orelha, falando “OLHA QUE LEGAL O MEU NOVO LIVRO!”. 3 pirralhos vieram, olharam durante 5 segundos e o jogaram no chão. Outro idiotinha ainda ameaçou pisar, só parando quando eu olhei para ele com aquela cara de “Toca seu Conga no meu Atlas que eu arranjo um jeito de arrancar seu pé com aquela tesoura sem ponta, toca!”. Peguei meu Atlas do chão, fui para a minha e Pah! nem confiança. Eles nunca me entenderiam mesmo...) Justamente eu, que tinha ficado quase 2 anos planejando, mandando e-mails para empresas (C sabe como eu suei na minha primeira entrevista de estágio por telefone ainda aqui no Brasil, em alemão!), juntando grana (e aprendido que MUITOS reais viram pouquíssimos euros - e para sacanear, o euro mega desvalorizou durante a minha estadia na Europa. Pode isso?!) e o mais importante: criando coragem para enfrentar aquele monstro que parecia a viagem à Alemanha (amigos, quantas vezes eu falei “Desisto? Vou para o Paraguai mesmo!”?). Justamente eu, que tinha conseguido ir, ver e vencer (o choque inicial do aeroporto de Frankfurt, onde eu passei 30 minutos olhando perplexo para a mulditão saindo dos portões e tive um branco linguístico completo; Berlim, Copenhague, Estocolmo e Londres até então; Estágio numa das maiores empresas alemãs), que não tinha a mínima idéia de quando poderia viver aquilo tudo de novo (Campo Grande fica tão longe da Europa...) e eu... não conseguia ver como era foda estar vivendo aquilo tudo?! Parecia que eu tinha perdido a minha principal característica: o brilho no olhar, a empolgação de viver as coisas pela primeira vez, aquele tipo de deslumbramento fanstástico e saudável de viajar para o exterior pela primeira vez. “O que tinha acontecido comigo?” era o o que eu me perguntava naquele momento.

Eu só sabia que eu tinha que escrever. Se eu achava, naquela hora, que algum iria se interessar pelos textos? Nunca!: a gente nunca começa um blog realmente acreditando que alguém vai se interessar por aquilo que a gente tem pra mostrar. Não sabia se seguia o estilo sucinto-e-antenado do Daniel, a sofisticação em muitas linhas do Thiago ou estilo desbocado-se-você-não-curtiu-my-ass dos relatos de viagem Ana Karina. Não sabia se as pessoas teriam a paciência de ler os meus inevitavelmente longuíssimos textos, com milhões de referências (eu juro: eu escrevo o texto, eu releio, eu tento enxugá-lo... e qualquer tentativa de tirar qualquer parte do texto leva muito mais tempo do que escrever o texto em si, eu encho o saco e posto o texto cheio e voilá) e piadinhas internas. Acima de tudo, não sabia se interessava para as pessoas saber das histórias de um carioca suburbano maluco perdido pelo norte da Europa.

E veio o primeiro post, onde eu fiz uma desconstrução do sonho europeu, do meu sonho europeu (não aguentava mais “Como assim você tá triste?! Você tá na Europa!” quando o que eu mais queria era alguém para falar que me entendia!). O segundo post, onde eu tentei fazer uma análise crítica e ácida da Bratwurstland, bem ao estilo “Eu odeio, mas estou amando esse país!”. O terceiro, onde eu sentei PUTO da vida depois da minha flatmate ter me negado a usar uma panela... e que me gerou o primeiro comentário (de quem? De quem?)!

E aí veio a vontade de postar cada vez mais, os detalhes da minha vida alemã, deixar registrada cada impressão boba e idiota sobre a minha vida em Hamburgo. E vieram as viagens! Ah, as viagens: porque eu não tive a ideia antes de deixar tudo registrado! Tantas horas de tédio mortal, de solidão, de saco cheio de ficar vendo museu+lojinha+centro cultural. Pra quê companhia de viagem quando se tem um laptop, um continente com ruas seguras, um maço de cigarros (Dunhill Blue, always!), uma mesa de café do lado de fora para se sentar, uma xícara de chá, uma tarde inteira pela frente e leitores interessados no que você tem para dizer?! Lisboa foi tão mais rica, tão mais produtiva do que Londres em termos de memórias e impressões, tanta coisa mais ficou registrada e foi tão legal ler as respostas dos leitores, curtindo a viagem comigo.

E veio a volta ao Brasil, a dúvida se vocês continuariam se interessando pelas minhas opiniões críticas e ácidas, agora voltadas para algo comum e nada exótico para vocês: a minha vidinha de universitário carioca. O questionamento “deveria ou não continuar a escrever o blog?”. (Blogueiros: Quantas vezes vocês já pensaram em dar um fim nos seus blog? :D Eu inúmeras, quase uma a cada dois meses ou quando recebo um comentário gongativo!) A readaptação a vida brasileira, de universitário e estagiário, sem grana, mal com tempo para me dedicar e escrever as inúmeras coisas e projetos de séries textuais para os meus interessados leitores (que eu defino como heteros e bichas chiques e inteligentes!).

Enquanto escrevia esse texto hoje eu passeava pelo blog, abrindo os arquivos, relendo alguns dos meus posts preferidos, relembrando de como eu escrevi cada um deles, tentando ter algum insight, alguma sacada para escrever algo na linha “O Lost und Found in Translation faz um ano, e quem ganha o presente é você!”. Fracasso total: primeiro, porque originalidade passou, mandou um “Oi, me liga bee!” e foi pra Farme. E segundo?

Segundo, posso falar sinceramente? O presente foi meu. Todo e absolutamente meu. :D O privilégio de ter tanta gente fina, elegante e sincera viajando comigo Europa afora, acompanhando as minhas crises existenciais e lendo os meus absurdos posts de viagem é só meu. (Falaí: viagem de trem de Florença a Pisa by Trenitalia comigo é muito mais interessante do que aquela chatura pastelone de Passione, néam?! :D) A felicidade na hora em que eu recebo um comentário inteligente, mesmo que seja questionando 200% do que eu escrevi, mas transparecendo que as minhas palavras fizeram essa pessoa pensar pelo menos 2 minutos, é só minha. E o resgate no brilho no olhar, na busca de ver as coisas sob uma perspectiva diferente, tentando ver como um assunto em potencial para o blog... é só meu.

Então tudo o que eu posso fazer é simplesmente o mais básico do básico.

Obrigado por me lerem, caros leitores. Muito obrigado. :)

domingo, 19 de setembro de 2010

I am the master of my fate / The capitain of my soul

Provavelmente se eu estivesse no Brasil em Novembro/Dezembro e tivesse comprado o Horoscopão João Bidu 2010 (aquele com um astrólogo bibíssima na capa, que sua prima/irmã/tia comprava nas viagens de ônibus do final de ano, lia as previsões para o signo dela e encostava logo, porque não tinha nenhuma outra utilidade para ela) teria lido que a definição desse ano para virgem seria “Mudanças”. Porque PATAQUEPARÉU, Fernando empacotando todas suas coisinhas (vocês também sofrem da crise “Sem os meus livros eu não vou para lugar nenhum!” em mudanças? Eu já li aquelas porras, não tem utilidade nenhuma atualmente para mim, mas ver os meus guias de viagem enfileirados na estante onde quer que eu vá me faz sentir um pouco mais tranquilo) já se tornou uma constante nesse ano.

Explaining: mamãe resolveu vender a notre maison dans Grand Champ em busca de mais qualidade de vida, cansada da vida “in the Valley” (a Zona Oeste do Rio é na verdade um grande vale entre os maciços que seguem o litoral da cidade e Serra de Madureira. Já deu pra concluir que quando faz calor, o ar quente simplesmente fica PARADO nesse vale, e por isso Bangú é conhecido pelo seu clima temperado e refrescante nos dias de verão... :D) e ir viver na Costa Verde (aquela região que significa muito verde, muita praia e SEMPRE muita chuva). O problema é que ela decidiu isso em menos de um mês (vende a casa antiga/compra a casa nova/muda para a casa nova), com a mudança justamente acontecendo enquanto le français estava no Rio (Quelle Surprise!). Resultado: Fernando empacota todas as coisas para as duas semanas com o francês em Copa, Fernando re-empacota todas as coisas e vai para a casa da tia em Realengo, Fernando encontra um quarto no Humaitá (quarto de empregada my ass - só se empregada for japonesa e anã! Lembram dos micro-cubículos de Beijing? O meu era ligeriamente maior, com um banheirinho daqueles “Eu tomo banho / O vaso e a pia e tudo no banheiro também”), Fernando descobre que o apartment lord é um freak total, Fernando e o apartment lord discutem (com direito a “Você sabe quem é meu pai?!” do cara, eu com a maior cara de “Who cares?” respondendo “Que bom...” - #1: Querido, depois de rodar tanto o mundo, descobrir que aquela “coisinha” que eu peguei numa boate em Hamburgo era editor-chefe de uma revistona alemã, minha melhor amiga sueca era filha do presidente das Províncias Suecas e coisas semelhantes, você realmente acha que eu ainda me impressiono com... currículo?, #2: se eu desaparecer e meu corpo não for encontrado na primeira semana, PLEASE Polícia e passeatas nas ruas com grandes faixas com “O que aconteceu com Fer?!”, hein!), Fernando percebe que é “melhor sair dali”, Fernando asilado politicamente na casa de um amigo inglês no Leblon por uns dias até encontrar um outro quarto para chamar de seu no Rio de Janeiro.

Enfim, tem horas que eu penso como eu consigo ter saco para aguentar tantas mudanças. Tem horas em que eu olho para amigos e primos que ainda moram com os pais, com lençóis limpos e lavados sozinhos e roupas passadas automaticamente por personal escravas (aka. empregadas e mães) e refeições já prontas assim que eles chegam em casa e ENORMES quartos com mesas e estantes e guarda-roupas combinando-e-bonitinhos e... bate uma enorme inveja. Gigante, do-tamanho-do-mundo inveja, dessas pessoas com lençóis cheirando a Comfort e vidas planejadas e estáveis.

Mas aí eu penso que play safe para mim significaria ter vivido NADA do que eu vivi e ter uma vida absolutamente chata. De que o High-Low que a minha vida tem sido até hoje, pra bem ou pra mal, serviu para me obrigar a “pensar fora da caixa”, sair da zona de conforto da qual eu poderia ter me escondido e viver novas coisas, novas experiências. E de que o efeito disso é que cada vez eu vou simplificando o que eu realmente preciso para me sentir confortável, para chamar um lugar de casa: minhas roupas, meu computador, meus cremes (um dos benefícios de namorar um farmacêutico francês: 30 amostras grátis dos melhores produtos da cosmetologia mundial que custariam a minha bolsa de e nstágio se comprados juntos!), meu iPod, meus livros, meus livros de viagem enfileirados em uma estante ou mesa. O resto a gente compra numa Casa&Video/Ikea mais próxima, ou se adapta, ou se acostuma a viver sem.

E tentando criar uma filosofia fernandiana, se há chá (preto, com um pouco de leite – algumas heranças de ter vivido no nebuloso mar do Norte tinham que ficar!), vinho, Nutella e conexão de Internet, então há esperanças, há vida. :D

P.S.- Sim, eu assisti Invictus. E chorei. E torci. E fiquei genuinamente feliz em saber que a África do Sul realmente conseguiu ganhar aquele campeonato de Rúgbi. E me questionei se conseguiria ter o grau de maturidade espiritual para sair de uma prisão de 30 anos pronto para lutar por perdão e reconciliação com aqueles que me oprimiram. E relembrei que motivação é tudo o que realmente importa para o ser humano – independente se venha de um poema, do sexo ou dos meus livros de viagem enfileirados na minha estante.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eu sou da Capital do Melhor e do Pior do País

Eu sei que Política é chato pra caralho. Eu sei que provavelmente você, assim como eu, no exato momento em que Will Bonner anuncia que o JN será interrompido pelo horário político, desliga a TV e vai fazer algo de muito mais útil da sua vida (aka mandar aquela máscara facial de argila na fuça, aparar os pelinhos que essa porra de gene português insiste em continuar mandar crescer, passar aquele La Roche Posay Active C na rostinho não mais under 25). Afinal, pra que assistir aquela porra e ver que maravilhas como Romário e Wagner Montes estão disputando sua atenção e o seu voto pra se reelegerem e fazerem porra nenhuma?

Mas como Democracia é que nem Creme Hidratante Avon (é uma bosta, mas na falta de algo melhor, melhor ir com ela mesmo), desenvolvimento não chega sozinho nem de uma hora pra outra (meaning: a cosmetologia francesa vai continuar cara pra caralho por um bom tempo) e muito menos ninguém vai lutar pelos seus direitos além de você, a única alternativa é se informar e tentar minimizar as merdas na hora de apertar o “Sim” naquela merda de urna eletrônica (eu sei, eu também não aguento mais aquela ladainha dos comerciais do TRE vangloriando as maravilhas da nossa moderníssima “máquina da democracia”.- Aquela porra parece com um PenseBemmy ass se a gente pode saber quem foi eleito para governar Roraima em 2h e 50 min e eu ODEIO aquele barulhinho de voto computado e ponto final!).

Porque cá entre nós, cariocas: a nossa cidade é incrível, as nossas praias fodas, o nosso lifestyle amazing... mas tá foda de sustentar o carón “Sou do Rio de Janeiro meRmo” quando a gente pensa nas maravilhas que escolhemos para nos representar pelos cargos políticos afora.

Portanto, dá uma olhada ae na lista (thanks Tony!) e veja em quem não votar. Porque eu ainda acredito nessa porra de cidade, nessa porra de estado e em toda a enorme herança de inteligência e vanguarda intelectual que essa cidade sempre representou.

E porque tá mais do que na hora de mostrar que mais do que um rostinho bonito, o Rio tem conteúdo pra caralho. ;)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Eu sou suburbano

O meu Rio de Janeiro não tem muito glamour não. Não tem praia perto, não tem calçadão nem ciclovia para dar pinta e muito menos vista para o Pão-de-Açúcar. Na verdade, o Cristo está literalmente de costas para o meu Rio de Janeiro.

O meu Rio de Janeiro ficava longe, bem longe da linha 1 do metrô (aliás, metrô com ar condicionado funcional é um conceito desconhecido por aquelas bandas). O meu Rio de Janeiro ficava longe, muito longe e se chega de trem – de preferência com um pacote de Torcida e uma lata de Skol na mão para “ajudar o tempo a passar”. Leblon? Gávea? São Conrado? - com certeza Acre e Marte ficam mais perto.

O meu Rio de Janeiro era o de tomar banho de mangueira na rua (falta de pudor rules, néam?), ralar joelho andando de carrinho de rolimã e pular o quintal do muro do vizinho para pegar manga. Playground? Get a life, playboy!: nada como uma tarde de sábado inteira jogando bandeirinha com todas as crianças da tri-state area e chegar em casa praticamente afro-americano, bater aquele pratão de bife, arroz, feijão e batata-frita e cair na cama. O meu Rio de Janeiro era o do dia mais esperado do ano ser 27 de Setembro, dia de São Cosme e São Damião, quando a gente acordava mais cedo do que nunca e já pelas 8h tava na rua com sacolas plásticas gigantes (Casa&Video!) checando onde já estavam distribuindo doces, e no final do dia a gente chegava em casa, despejava toneladas de marias-moles, pes-de-moleque e gamadinhos em bacias gigantes e ficava a semana inteira comendo aqui (#1: Cara, imagina pegar doce em dia de São Cosme e São Damião com twitter?! #2: Depois de um tempo, sempre a maria-mole ficava com gosto de doce de abóbora, que ficava com gosto de cocada, que ficava com gosto de bananada...). O meu Rio de Janeiro era o que a gente sabia quando o Carnaval estava chegando não pelo fluxo de turistas gringos nem pelos ensaios do Monobloco, mas pelas hordas de bate-bolas que invadiam as ruas (os mais capitalizados com fantasias lindas e coloridissimas, os mais “financeiramente desfavorecidos” colando tiras de jornal ou sacos plásticos em calças e camisas, criando um efeito plástico ainda sim fantástico).

O meu Rio de Janeiro era o de que o máximo da elegância era ir a Barra da Tijuca (!) e fazer compras no Barra Shopping (!!) . Aliás, o meu Rio de Janeiro era o de onde na época do Natal toda família ía sempre ver aquele maldito Castelo da Cinderela! :D O meu Rio de Janeiro era o de lugar de comprar roupa “social” era na “A Impecável Roupas” (onde eles seguramente não tinham calças skinny!). O meu Rio de Janeiro era o das Óticas do Povo (Morou? :D) e da maldita “Linha Jovem” que assombrou metade das crianças que tinham que usar oculos nos anos 90. O meu Rio de Janeiro era o do máximo da excitação era a Madureira fazer compras de material escolar para o ano escolar que se aproximava (lembram de um estojo escolar meio multiretratil que era tipo um tijolinho fino, com uns botoes que voce apertava e ploft! saia o apontador, a parte de colocar os lapis e canetas, e nos mais sofisticados ate um mini- termômetro?!). O meu Rio de Janeiro era o de qualquer pesquisa escolar, maldito trabalho de artes ou qualquer coisa ligada a papel e impressao sempre dava pra resolver na Silbene (e que no verão ainda tinha uma raspadinha de groselha e um sorvete de casquinha MARA!).

Falando em comidas, o meu Rio de Janeiro era o do melhor caldo-de-cana e pastel de queijo (na verdade, somente um teaser de queijo, neam?) sempre se encontrava na estação de trem mais proxima. O meu Rio de Janeiro era o que me acostumou com grandes custos-beneficios alimentencios, e que ate hoje me gera um quê de revolta na hora em que eu paro em algumas lanchonetes mais phynos do eixo Copa-Leblon e vejo aqueles salgados tao pequenos, tao caros! O meu Rio de Janeiro era o do Angu a Baiana vendido na barraquinha da pracinha, cuscus (que no Rio é branco e tem côco) sendo vendido pelo invariavel velhinho que vinha apertando uma buzina e dos cachorro-quentes e X-Tudão que vinham com absolutamente tudo o que possa ser pensado. O meu Rio de Janeiro era o das “festinhas de aniversário” fodásticas e de chamar a rua inteira (porque classe C gosta de compartilhar com a galera e muita fatura, honey! :D), as mais chiques e importantes sempre servindo estrogonofe de frango com batata-palha em pratinhos de plástico. O meu Rio de Janeiro era o de onde as tias empurravam mais um prato porque elas sabiam que voce tinha gostado e estava com vergonha de pedir. O meu Rio de Janeiro era o dos cajuzinhos... :)

Talvez a maioria dos leitores desse post não entenda muito bem o Rio que eu acabei de descrever acima. Como eu falei, ele fica longe, bem longe de Ipanema, Copacabana e qualquer lugar da Zona Sul. “A Grande Familia” tenta imitar, mas sempre soa meio fake e clichê como se todo paulistano trabalhasse no mercado financeiro e morasse na Paulista ou todo catarinense fosse invariavelmente gostoso-e-surfista. Esse Rio fica longe, coisa de mais de uma hora de viagem do Centro, realmente na PUTA-QUE-PARIU. Bem, eu falei que era o meu Rio, não é? :)

Depois de 24 anos como morador da Campo Grande (entremeados por alguns periodos morando perto da faculdade na Zona Sul e claro, pelo louco ano na Europa), finalmente chegou a hora de olhar para aquilo tudo e dizer simplesmente “Adeus”. A casa onde eu cresci a vida inteira foi vendida, minha mãe partiu para a Costa Verde em busca de um pouco mais de qualidade de vida e eu acabei voltando para a Zona Sul. Se disesse que não queria que isso tivesse acontecido estaria mentido pra caralho: thanks god, no more viagens de mais de uma hora para ir ou voltar, vizinhos escutando funk nas alturas e ter que me deslocar mais de 20km para encontrar livraria/café decente/cinema passado um não-blockbuster.

Mas foi estranho olhar para a minha casa, olhar para aquele bairro e perceber que eu não posso falar mais que “moro” em Campo Grande. Por que? Não consigo explicar. Da mesma forma que não consigo explicar porque quando estava em um parque em Estocolmo, um pouco mais de um ano atras, sentado com suecos lindos-loiros-elegantes-e-desenvolvidos (juro gente, o cabelo deles brilhava ao sol. Muito odio, muita inveja!), só conseguia lembrar dos pagodões na laje promovidos por alguns vizinhos (e por alguns membros da minha familia SIM, tenho que confessar!). Da mesma forma que quando passeava pelas vitrines das elegantes lojas de ternos bespoke da Savile Row lembrava da “A Impecável Roupas”. Da mesma forma que quando comecei a vislumbrar a Torre Eiffel da Quai d’Orsay eu cafona-e-ridiculamente chorei, porque lembrei das longas viagens de onibus em que eu passei estudando frances ou lendo revistas de viagem e imaginado como seria conhecer outros paises e outras culturas, enquanto olhava pela janela e via a realidade que era tao banal e comum para mim.

Acho que no fundo aquela historia de “Voce pode tirar o cara do subúrbio, mas não pode tirar o subúrbio do cara” pode ser verdade.

E de boa? Que bom que seja assim. :)