sábado, 2 de janeiro de 2010

Tour Leste Europeu - de Hamburgo a Praga


The very last trip pela Europa! Bem, na verdade, se eu for contar a escala em Zurique em direcao a SP (escala que vai durar 4 dias, acho), entao nao é tecnicamente a última viagem dessa “viagem”. Mas é a última com início e fim em Hamburgo, o que me provoca uma certa nostalgia. Enfim, como eu já disse antes, essas coisas pensarei no voo da Swissair em direcao a SP em Janeiro, portanto bora aproveitar!

Só para resumir , o Tour Leste Europeu é uma viagem de carro de final de ano com duracao de 7 dias, comecando no dia 28 de Dezembro e terminando no dia 4 de Janeiro. Roteiro inicial: Praga, Bratislava, Budapeste, Cracóvia, Breslau e Berlim. Tudo isso numa van de 8 lugares alugada na Alemanha (e ilegamente conduzida para a Europa Oriental – as locadoras alemas se recusam a autorizar viagens para a Europa Oriental pelas “altas” taxas de furto de carros por aqui). Hospedagem nos albergues mais baratos que encontramos, todo mundo praticamente quebrado financeiramente (o que significa muito supermercado, muito sanduiche e nada de “deliciosa carne de codeiro ao molho Vatlava” – isso vai ter que ficar para a minha próxima viagem para a Europa enquanto economista-viado-bem-sucedido). E os passageiros dessa “Mystery Machine”: moi; Hugo e Joao (irmaos portugueses: ambos incrivelmente gatos, sarados e heteros. E com o mesmo pavio curto e genio turrao tao comum dos nossos patricios); Francisco e Marta (americano-mexicano e espanhola, amigos do Erasmus de Hamburgo, casal do tipo “Entre tapas e beijos”); David (americano do Erasmus. Bonito. Mas de Montana, o que equals calca jeans baggy e conhecimentos de geografia demasiadamente escassos. Mas um fofo.), Diana (outra amiga do Erasmus) e Ruben (outro mexicano-americano do Erasmus).

A viagem de Ano-Novo já comecou nao muito como o planejado: primeiro, a nossa amiga espanhola Diana teve que cancelar a viagem porque tinha uma reuniao em Hamburgo no dia 30 (feladaputas, nao?  Só escutei ela gritando tanto “Joder, Joder, Joder” no telefone, indignada por nao poder ir). Depois, o Ruben pegou uma doenca meio esquisita depois da viagem para o Marrocos dele e achou melhor nao se enfiar numa van por 7 dias nessa situacao (afinal, os virus e bactérias do meu resfriado e o da Marta sao territorialistas. Aquela van tá praticamente uma cultura de laboratorio ambulante). Dois lugares vazios, oferecemos para quem quisesse, e quem aceitou foi o Ryan (um californiano de origem asiática cuja a melhor descricao é que ele é exatamente o Pikachu transformado em pessoa. E com o cérebro exatamente na média de um americano. Já sentiu o drama, hein? Coragem...). Com a namorada dele (um amor de pessoa, btw.).


Drama dois: o planejado seria sair no dia 28 de noite, e pela primeira vez na vida, Fernando fechou uma mala no dia anterior: completinha e perfeita. Claro, Murphy nao é pai, é padrasto e a van nao estava pronta no dia 28 (cara de choque do meu amigo alemao quando soube disso, acompanhada de “Mas é uma locadora alema meeeesmo?”), portanto só pudemos viajar no dia 29, pela manha.

O dia 29 amanheceu o completo oposto do dia 28: o que tinha sido um dia de sol e céu límpissimo amanheceu muito nublado, frio, e querendo (mais ainda nao) nevar. Neve é aquela coisa: primeiros 5 minutos “Ai, que lindo, vamos fazer um bonequinho de neve?”, depois disso voce percebe que aquilo é basicamente... agua congelada em flocos (ui... mistérios da metereologia...), o que significa que logo voce estará completamente molhado e sentindo MUITO frio se voce nao estiver vestindo uma roupa térmica ou de esquiar. O que claro, eu jamais utilizei e jamais utilizarei em cidades na Europa: roupa térmica é para estacao de esqui, turista americano sem nocao e brasileiro errando a direcao da Antártida. Cidade na Europa é sobretudo de material mais quente: visual bonequinho Michelin meets Amyr Klink never; muito frio até pode ser (se voce nao souber se vestir direito), barango JAMAIS!

Rezando para nao nevar (se neva demais, as auto-estradas nao sao mais sem limite de velocidade, podem ser até fechadas, e o uso de correntes – que nós nao tínhamos – nas rodas do carro seria obrigatório), partimos de Hamburgo. Olhei para as pontes que cruzam o rio Elba, para a auto-estrada que liga Hamburgo ao Sul da Alemanha e lembrei que essa era a última vez (em muito tempo) que irei ver isso tudo de novo.
Enfim, viagem de carro é basicamente sempre a mesma coisa: horas sentado numa posicao desconfortável e nao conseguindo dormir porque a merda do apoio de cabeca dos carros foi planejado de uma forma que a sua nuca fica voando sem apoio nenhum (alguém me explica porque isso?!); CD’s tocando over and over and over (eu tenho vontade de chorar só de escutar qualquer música do David Guetta – é fechar o olho e vir “Damn Bitch... Sexy Bitch...” na cabeca. Traumático); um feladaputa que me tira um Cheetos (sim, isso existe na Europa também) da mochila e empesteia o carro inteiro com aquele fudum de vomito de hiena com gastrite.

Depois de umas 4 horas de viagem, claro, a fome bateu, e como aqui na Europa “beira de estrada” é Mac Donalds, Burger King ou restaurante cobrando uma fortuna por qualquer besteirinha, decidimos sair da auto-estrada e irmos para um supermercado em uma cidadezinha alema perdida qualquer. Paramos no famoso Lidl, o supermercado dos fudidos aqui na Alemanha, onde tudo é incrivelmente barato e, para a nossa surpresa, incrivelmente bom.

Drama de viajar com heteros #1: os caras queriam comprar fogos de artifício. Claro, uma idéia maravilhosa: cruzar 3 fronteiras, num carro alugado conduzido ilegalmente para a Europa Oriental, com fogos de artificio na mala, sem saber se poderiamos sequer utilizar esses fogos em Budapeste. Eu tava de mau humor, eu tava sentado numa cadeira por quase 4 horas, eu estava com fome, eu tinha dormido mal para caramba na noite anterior: eu só olhei para a cara do Francisco e disse “Nao. Eu nao entro no carro com essa merda.”. Funcionou. :D

De volta a auto-estrada, mas horas e horas de paisagens campestres sem fim, nao conseguir encontrar uma posicao ideal para conseguir tirar um cochilo, David Guetta tocando sem parar no rádio e aquela porra de Cheetos que caiu atrás do banco do carro ainda empesteando o ambiente. Mas a paisagem do lado de fora tinha mudado levemente: enquanto na Alemanha Ocidental as paisagens campestres sao mais “vaquinhas pastando felizes num campo florido”, na Alemanha Oriental a paisagem é mais “industrial”, como na foto acima.
E ai comecou o drama: alguém sugeriu passar por Dresden batido e dirigir o mais rápido possível para chegar em Praga o mais cedo que desse. Dresden passou, e sacamos que o carro nao tinha gasolina suficiente, nem a auto-estrada indicava o posto de gasolina mais próximo. Ai que cometemos o pior erro de todos: entrar em uma estrada secundária alema para procurar um posto de gasolina.

Comeca a sequencia interminável de estradinha pequena, curva para lá, curva para cá... e nenhum posto de gasolina.  E nenhuma placa indicando o posto de gasolina mais próximo. E nenhuma pessoa na rua para poder parar e perguntar (afinal, tá bombando nos 2°C lá fora, néam. Negativos.). Medo. Panico. Tamos fudidos.

Depois de uns 5km, as primeiras almas vivas que encontramos foi um grupo de pirralhos brincando com uns blocos de gelo perto de um um pequeno corrego que corria as margens da estrada (claro, idéia super legal: -2°C, e brincar com um bloquinho de gelo, perto da agua, para ficar todo molhadinho e super geladinho... É um povo estranho desde a infancia mesmo...). Abri a porta e perguntei em alemao se elas sabiam onde tinha um posto de gasolina por perto. Primeiro, elas olharam para a gente com cara de bunda (alemao sempre fica com cara de bunda quando percebe que voce é estrangeiro e fala alemao. Dá uma raiva...). Depois, responderam algo em um alemao carregado no sotaque que foi foda de entender de prima (o sotaque do norte da Alemanha é o padrao do país. E os sotaques variam MUITO de uma regiao para a outra. Ou seja: eu fui muito mimado na Alemanha). Quando eu entendi , foi a resposta clássica: nao sei. E foi assim com as alemas que encontramos mais a frente, e com todo mundo que encontramos pelo caminho: nao sabem. Inacreditável: os alemaes sao tao condicionados a tudo que fazem que simplesmente... nao sabem tudo o que saia do “ponto A ao ponto B”, do previamente planejado – afinal, nao é necessário, entao nao precisa saber. Com o advento do navegador, isso ainda piorou: muitas vezes eles nem sabem o nome da rua que passa atras da casa deles (sério, isso já aconteceu comigo), porque só precisam colocar o destino e seguir as instrucoes. Mas como eles fazem sem o navegador (que nós nao tinhamos)? Fácil: nao saem do ponto A. Simples assim.

Chegou uma hora que a gente desistiu e foi procurar no navegador mais próximo: o iPhone de um dos tugas. Nada. O lugar era tao fim do mundo que nem os postos de gasolina estavam marcados no mapa. Fudeu. O que restava era somente dirigir e esperar encontrar um posto de gasolina, rezando para  que o carro tivesse o suficiente para seguir em frente. Até que finalmente...


Encontramos um posto de gasolina! Sério, o lugar era tao fim do mundo que tinha uma pista de esqui num barranquinho  próximo, e as pessoas passavam pela gente carregadas com os equipamentos de esqui.  E frio, frio, muito frio. Daquele de ir andando de um lado para o outro aos pulinhos, correndo  o risco de levar um tombo feio e se estabacar bonito no chao – afinal, neve depois de um tempo vira uma laminha que também é feita de... gelo! E aquele seu sapatinho de solado liso desliza que é uma maravilha nessa superfície.

Depois do estresse do posto de gasolina, voltamos a auto-estrada, e claro, chegamos em Praga ainda mais atrasados do que se tivessemos parado nos postos de gasolina em Dresden. Mas ok, viagem é perrengue, é inesperado, e só a felicidade de finalmente estar visitando Praga me deixou mais simpático (só um pouco). E enfim, que venham as aventuras de Praga...


3 comentários:

Rodrigo disse...

Fernando,
Quinhentas coisas para resolver no meio da Amazônia me deixaram sem poder acompanhar seu blog! Mas já deu para ver que seu tour deu tudo certo! Espero que você tenha tido muitas chances de jogar todo o seu conhecimento sobre Hobsbawm em algum francês (eles AMAM esquerda boêmia!). Um feliz ano novo e cuidado com esse frio!

Daniel Cassus disse...

Quando eu vi essas placas escrito "Praha" em Viena, me deu uma vontade enooooorme de falar "praha" (assim mesmo, "prarra"). hahahaha

Fernando disse...

@Rodrigo: hahaha Por isso que talvez os franceses me adoram - UFRJ é 2000% esquerda boemia. :D Feliz 2010, e logo estarei ai no calorzao do Hemisfério Sul!

@Daniel: heeheh Pois é, pra mim também rolou essa vontade. :D