sexta-feira, 2 de abril de 2010

Cadernos de viagem. Budapeste. Parte 4.

O imperdível de Budapeste, por Fernando

#1: Relaxar numa das inúmeras termas da cidade
Primeiro, vamos tratando de tirar os pensamentos uominescos dessa sua mente poluída: termas na Hungria é somente para tomar banho, fazer sauna, massagem e that is it (depecionante, eu sei: veracidade de informacao inclusive checada num site gay, que ainda comentava o fato das grandes capitais do Leste nao terem uma vida gay digna de nota). Mas mesmo assim, os spas de águas termais sao imperdíveis: parte fundamental do lazer dos budapestinos no seu tempo livre, sao mais de quinze espalhadas por toda a cidade, oferecendo praticamente todos os tipos de tratamentos estéticos e aquaterápicos disponíveis. A mais tradicional de todas é a Gellért Fürdo; mas como estávamos num grupo misto, seguimos a recomendacao do György e fomos para as piscinas da Széchenyi Fürdö. A entrada sai por 2500 florins (cerca de 10€), dando direito a duas relaxantes horas no belíssimo complexo de piscinas ao ar livre do spa. Sim, "piscinas ao ar livre": mesmo com um frio de 1°C, a fila para entrar no spa dava voltas e por pouco acabamos nao desistindo do programa. O que definitivamente teria sido uma pena: ver a neve comecar a cair caindo enquanto preguicosamente me banhava e aquecia nas águas da piscina (por volta de 35°C) foi uma das experiências mais surreais da minha vida (ainda mais quando lembrava que dali a duas semanas provavelmente estaria me tostando em uma praia carioca). Conclusao: na falta de uma praia, definitivamente o meu programa favorito! 


P.S.- Depois de sair de uma piscina térmica à 38°C, enfrentar um frio de 1°C + ventinho por uns bons 20 metros até a porta, numa sumária sunga de praia brasileira (sério: sempre que eu usava a nossa sunga, meus amigos europeus riam, gargalhavam - para eles, o nosso modelo básico é praticamente uma tanga do Gabeira. Muita raiva: fazer sauna com um completo desconhecido, peladão, na maior inocência, pode; sunga de praia ao invés daquele short horrendo que marca metade da perna, não? Mon cou que europeu branquelo vai ensinar carioca a usar roupa de banho! Hmpf!), hora de ir para o vestiário masculino. :D Ah, meninos... eu vi. Cada coisa. Que pelo amor de Santa Cher! Lembra daquela cena do Sex and The City, quando a Samantha fica na porta do vestiário vendo os jogadores passarem? Igualzinho a mim. Com a diferença que estava do lado de DENTRO do vestiário. O choque foi tão, digamos, GRANDE que o meu amigo mexicano-americano teve que em determinado momento me dar um empurrão e falar no meu ouvido "Keep walking, bitch! I know you can do it..." para continuar caminhando. Conclusão final: os húngaros podem ter um péssimo gosto para se vestir, mas me deixaram BEM impressionado... :D

Termas Széchenyi (Széchenyi Fürdö)
Állatkertki krt. 11, Budapeste
(Estacao Széchenyi Fürdö - Linha 1)
www.szechenyibath.com


#2: Comer um bom gulyás (goulash) húngaro
Sendo uma roadtrip de estudantes fudidos e mal pagos, natural que o aspecto comida acabasse sendo nao muito priorizado (afinal, como grande economista que eu serei, eu aloquei 90% da renda da viagem para festas, bebidas e semelhantes, e somente 10% para alimentacao - claro, somente de subsistência). Mais uma vez, fomos salvos pelo (santo) György: fomos todos juntos para um bar-restaurante, muito frequentado pelos estudantes universitários da região (ou seja, nada de húngara-peituda-com-cara-de-puta-com-trajes-típicos-pagando-de-camponesa-dos-Cárpatos servindo pratos!), o Pesti Sörcsarnok. Do lado de fora, um restaurante absolutamente ordinário. Do lado de dentro, também (e talvez essa seja a principal qualidade do lugar). Os preços são absurdamente baixos (viva!), e o bar conta com uma ótima seleção de cervejas alemãs, tchecas e húngaras. E as sopas, ah... as sopas! Absolutamente imperdíveis: por cerca de inacreditáveis 3€ eu comi seguramente um dos melhores goulashes da minha vida (com direito a sopa vindo à mesa num rechaud total #MagaPatalogicafeelings - amo comida que vem na mesa cheia dessas paradinhas cenográficas!). Realmente, a melhor forma de me recuperar do meu Reveillón de merda

Pesti Sörcsarnok
Vámház körút, 16, Budapeste
(perto da ponte Szabadság/Liberdade)


#3: Empanturrar-se de Kürtös Kalács em qualquer útca de Pest
#1: Essas merdas do Leste Europeu são foda: você experimenta algo que um local jura que é típico do país (" It's veeeeery Hungarian! "), que foi inventado pelo conde Venszeslaw Caralhovitch vai em 1300 e lá vai fumaça, achando que tá abafando e dando uma de aventureiro. Na primeira parada no seu próximo do país da região, surprise: você sempre encontra a mesma merda com um nome ligeiramente diferente! (Acabei de descobrir que o very Hungarian "kürtös kalács" existe até na Bielorússia!).  #2: Na primeira vez que eu vi uma barraquinha disso na rua, juro que pensei " Bah, mas tem CTG até aqui em Budapeste?!" (acho super #carneiro na vala feelings). #3: Esse troço é bom demais! Explicando bem simplificadamente, é uma tortinha doce assada num rolo, diretamente no fogo. O sabor tradicional é baunilha, mas é possível adicionar granulado de chocolate, coco e outras cositas más (calma, não é Jamaica, então não vai se empolgando!). Eu adoro qualquer coisa doce, então era encontrar um em qualquer útca (= rua) de Budapeste e implorar para os meus amigos para comprar mais um. O desafio Activia? (Sério: tudo que é barraquinha, quiosque e lojinha de rua que vendesse qualquer merda na Europa eu parava para comprar - e juro que não aconteceu nada comigo. Patrícia Travassos ficaria orgulhosa, néam?) ? Pedir um com chocolate granulado e côco para o vendedor. Em húngaro.


#4: Andar no metrô de Budapeste
Andar de metrô sempre oferece a desvantagem de nao permitir que você aprecie a vista (em viagens, sempre é melhor tentar pegar o ônibus e ir apreciando a paisagem - afinal, são férias, pressa para que?), os bondes elétricos em Budapeste acabam levando você para todos os lugares, portanto pegar o metrô nao é exatamente uma experiência tao necessária assim na capital húngara. Mas eu achei o máximo: os trens que circulam na linha 2 e 3 ainda sao os trens importados da Rússia soviética, em excelente estado de conservacao interno (por fora, ferrugens realmente denunciam a avancada idade das composicoes, circulando desde a década de 70), o que dá um clima todo "KGB-vai-te-pegar-e-te-mandar-pro-gulag" no que seria uma simples viagem de metrô. Aliás, o momento "From Russia with Love" não se restringe ao metrô: grande parte dos ônibus e bondes que circulam ainda são da era comunista (sem previsão de serem retirados das ruas e substituidos pelos trendy mas quase descartáveis modelos ocidentais, afinal, foram construídos para durar muito). Voltando ao metrô, o sistema de Budapeste é o segundo mais antigo da Europa, logo muitas estações (principalmente as da linha 1) são pequenas obras de arte - a minha favorita é a Hösök tere (Praça dos Heróis).

Tanta história por apenas alguns florins - tem coisa melhor do que isso?! (#jewish origins screaming).


#5: Passeio noturno pela Várgehy (Montanha do Castelo)
Primeiro: não. O passeio não é noturno com a intenção de fazer pegação pelos parques e ruas desertas da Várgehy (se bem que eu fui no inverno: no verão e primavera, com todas as árvores folhadas, quem sabe o que acontece por aquelas bandas, néam? Campanha Uomini para Budapeste djá?). O passeio é noturno mesmo porque de noite as luzes de Budapeste se acendem, e ver a cidade do alto, de noite, é entender porque Budapeste é considerada uma das mais belas capitais do Leste Europeu. No bairro somente circulam táxis e ônibus, e o clima é de tranquilidade bem no meio da principal cidade do país. É tudo tão lindo, tão impressionante, tão mágico, tão diferente de tudo que um brasileiro está acostumado a ver que fica difícil mencionar "o melhor de tudo" - mas também é impossível de falar da Várgehy sem falar do Palácio Imperial, a Mátyas Templom (Igreja de São Matias) e do Halászbástya (Fisherman's Bastion). Aliás, é admirando a vista do Halásbástya que você vai entender porque eu falei para ir de noite: ver todas as luzes de Budapeste aos seus pés, uma névoa subindo do Danúbio, com a vista do (também inacreditável) Parlamento Húngaro imponente do outro lado do rio é algo que eu não consigo esquecer..

Várgehy (Montanha do Castelo, Castle Hill, whatever...)
Melhor ponto de partida: Moszka tér (estação central do sistema de Budapeste). De lá, é subir a montanha caminhando (cerca de 15 minutos) ou tomar o micro-ônibus 10 (o tíquete do resto de sistema de transporte também vale lá).

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E por experiência própria...: Dicas finais
- Florins, sempre florins: A moeda da Hungria é o florim húngaro, ponto final. Pode parecer óbvio, mas depois de 4 países, 4 moedas e viver o drama de ter fome às 2h da madrugada, ter 30€ na carteira e nenhuma casa de câmbio ou caixa eletrônico nas redondezas fica claro que o mundo não é tão linear assim. Sim, o euro é aceito em muitos lugares (tipo Mc Donalds, KFCs e postos de gasolina) - mas sempre numa cotação péssima quando comparado ao que você consegue nas casas de câmbio. Pagar com cartão de crédito? Rá: na Europa é mais fácil encontrar russo neca mati do que uma merda de loja que aceita cartão de crédito! Muito chato vir do Third World, chegar na Europa e descobrir que até o Camelódromo da Saara tem pagamento mais automatizado do que aquela merda de continente.

- Ninguém vai te entender / Aprenda húngaro: Inglês pior do que Itália e Espanha, na Europa Ocidental, díficil de encontrar. Mas todo brasileiro que se preze sabe mandar um "per favore, una refeizone", um "yo quiero una Cueca-Cuela", e pronto: alguém vai entender, e vai dar para se virar. Isso não acontece em húngaro (como eu falei aqui): a pronúncia é difícil e não lembra nada do que você provavelmente conhece, portanto embromation não rola. É verdade que muita gente da geração pós-comunismo fala muito bem inglês; mas contar com isso pode resultar em situações superlegais, como por exemplo a que eu passei tentando pegar sozinho um ônibus de Budakeszi para Budapeste (resumo do drama: cinco minutos de ônibus parado, o motorista falando comigo em húngaro como se eu entendesse TUDO, eu achando que o cara queria me enrolar e não entregando a minha nota de 5000 florins para ele até que uma estudante passou, viu o drama na rua e me explicou que ele queria me dar dois tíquetes porque não tinha troco para a minha nota. Desnecessário falar que depois disso eu fui direto para o final do ônibus e enfiei a minha cara no casaco até o final da viagem)

- Ai, tá nevando, que lindo!/Ai, meu pé congelou!: Eu sei que muitas vezes o que dá é ir para Europa no final do ano, eu sei que Julho e Agosto são meses em que tudo na Europa fica caro... mas é importante deixar claro que Leste Europeu no inverno é bem complicado. Eu, que morei em Hamburgo (norte da Alemanha, ali pertinho de lugares super tropicais como Dinamarca e Noruega), confesso que senti o baque ao sair do clima do mar do Norte para o temperado continental (onde as temperaturas desabam mesmo). Por um lado, é mágico: inverno na Europa é descobrir um mundo completamente novo (para nós, de clima tropical), e eu ficava sempre hipnotizado ao ver aquelas cidades lindas, dirigir por estradas circundadas por campos... tudo inteiramente coberto de neve. Mas por outro lado, é trágico: é você querer andar mais, querer conhecer mais lugares, querer bater mais perna, e não poder porque você está sentindo muito frio e precisa se aquecer. Em algum lugar da blogsfera, li algo como "viagem no verão é para ver, viagem no inverno é para sentir". Exatamente isso: vá, mas vá consciente de que o frio que você enfrentará será um problema. (Claro, aí também é trabalhar com um pouco de antecedência, e descolar um gato local para te acompanhar nesses passeios, néam? ;) Post-ajuda nesse tema virá logo logo...). 

3 comentários:

Daniel Cassus disse...

Excelente post! Fiquei até com vontade de enfiar o pé na jaca em Budapeste também.

Alex Bez disse...

e ai fernando, td bem? então, estamos indo para a europa no final do mês, gostaria muito de ler suas preciosas dicas e impressões a respeito de Paris (minha primeira parada). Pouparemos energia e euros para as baladas em Barcelona e Berlin, mas ainda assim gostaria de saber quais são os lugares q estão bombando na cidade-luz.
PS: Em tempo, faremos um bate-e-volta para Hamburgo por "sua culpa". Depois que comecei a ler seu blog, me deu vontade de conhecer Hamburg, iremos em maio, espero q não esteja muiiiiiiiiiiiito frio.
bjs

Fernando disse...

@Alex: I'm busy-Ê-Ê-Ê ('Cause I'm out in the club and I'm sippin' that bub') com a Universidade, entao nao faco idéia se até o final do mês consigo montar um post power sobre Hamburgo para te ajudar.

PORTANTO, manda um email para o email do blog (lostundfoundintranslation@gmail.com)que eu monto um roteiro com dicas legais para você.

P.S.- Nao consegue ficar em Hamburgo nem por uma noite nao? Tipos, chegando sábado em Hamburgo para curtir a night lá, e voltando no domingo, destruido? :D (Explico: A night de Hamburgo tem que ter after no Fischmarkt, que acontece no domingo as 6h).