segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Economics for Gays: Dilma Rousseff e Jornal Nacional - Parte 2

Gráfico 3: Crescimento % Anual do PIB, BRIC + Argentina, 1994-2008
Significa?: O quanto os países do BRIC e Argentina cresceram, mas desta vez analisando desde 1994(entonces, analisando desde o período FHC).

E daí?: #1: (Olhinhos sádicos de economista brilhando) TÃO mais legal e emocionante ser economista no Terceiro Mundo, néam?: *suspiros #2: Entenderam porque ao menor sinal de crise em qualquer país em desenvolvimento, não importando se for Tailândia ou Trinidad & Tobago, os investidores ingleses e americanos (aka. velhinhos sovinas que resolveram não comprar casa de praia na Cornualha/Flórida, não tem nada de mais interessante na vida para fazer a não ser acompanhar diariamente seus investimentos em países "de alto risco") saem retirando o dinheiro do mundo em desenvolvimento e voilá: crise!

E daí? + Continuo não entendendo PORRA nenhuma: Ok, o gráfico tá uma bosta, mas é isso que a gente tem e é nisso que a gente vai seguir. Clica no gráfico, bee. Então, tá vendo o Brasil? No período inteiro a gente não teve retração econômica (ir abaixo do zero), o que é bom. Mas também, no período do FHC (1994-2002) o nosso crescimento foi ridículo em comparação ao resto do grupo. Lembram da crise russa de 1998 (quando a Barbie ficou mais cara que a Susy, lojinhas de R$1,99 desapareceram e todo mundo parou de viajar Orlando Fly&Drive)? Brasil por bem pouquinho não entrou em retração... mas nos 45 minutos do segundo tempo conseguiu se salvar. A Rússia, a trava FDP que causou toda essa comoção na economia mundial, levou um tombaço do salto 15cm na escada de entrada da boate em 1998. Mas em 1999 já tinha levantado, sacudido a poeira, batido o cabelo ao som de tribal, arranjado um gringo gato & odara que a pediu em casamento, viajado para Itália na Primeira Classe e tava causando horrores na Via Tortona em Milano, toda trabalhada na Prada e Salvatore Ferragamo em 2000. Enquanto isso, a economia brasileira? Resolveu continuar pegando o Roteiro Rodoviário Águas Quentes, acreditando que crescer devagar e sempre é o mais importante.

Mas por que a economia brasileira seguiu por esse caminho? Quem falou que deveríamos seguir "devagar e sempre"? Quem falou que crescer devagar garantiria que a gente iria crescer sempre? Quem foi que tomou essa decisão? E a pergunta mais importante para um economista: quem se beneficia dessa decisão?

A partir desse momento entramos nos duelos de titãs que é os embates entre as diferentes escolas de teoria econômica. Não, ao contrário do que parece, Economia não é uma ciência exata. Nem economistas recorrem à um manual de verdades absolutas, onde tudo é óbvio, claro e totalmente definido.

Sobre esse tema, uma introdução ao mundo da Economia virá no próximo post da nossa série. Sobre o tema que discutimos? O que eu posso falar que, na opinião de Fernando: a) estudante de economia da UFRJ; b) economista heterodoxo (relaxem, explico isso no próximo post, gentém!), um dos motivos centrais desse desempenho maravilhoso da Economia brasileira nas últimas décadas foi:

Gráfico 4: Taxa de Juros Real, BRIC + Argentina, 1997-2008
Explicando em linhas gerais: você tem R$100.000 (e não pode gastá-lo na The Week), você é um investidor rico, poderoso e todo trabalhado no Ermengildo Zegna (e não paga R$ 5.000,00 em terno Ricardo Almeida porque não cai nessa insanidade tupiniquim de pagar fortunas por coisas que NÃO valem fortunas). Você tem duas opções: 1) investe numa poderosa fábrica, vira industrial, contrata vários operários cafuçus para ver almoçar aquela argamassa composta feijão + ensopadinho de carne + 1kg de farinha (Introspective, você não tem a imparcialidade suficiente para fazer uma escolha racional nesse caso); ou 2) investe num título que rende conforme uma determinada taxa de juros, fica linda, loira e financeira deitada no seu ofurô no Morumbi só acompanhando as notícias por alto e deixa lá rendendo. Quanto maior a taxa de juros, mais interessante investir em títulos, certo? Logo, também menos investimentos em indústria (afinal pegar o seu Volvo, dirigir até a fábrica, se misturar naquele povão suado, se estressar motivando trabalhador chato e desmotivado não é algo legal nem tão fácil assim). O que resulta em... menor crescimento do PIB (= PRODUTO Interno Bruto).

Deu pra entender ou precisa desenhar? Ou precisa atentar para o fato de que a taxa de juros argentina, mesmo no pico da crise de 2001, não chegou nem perto da base da nossa curva da taxa de juros durante todo o período tratado? Ou para o fato de que a série acima nem inclui o período de 1993-1994, quando a taxa de juros atingiu a estratosfera?

Ah, claro: esse pequeno gráfico é a razão de que você paga as taxas astronômicas no cartão de crédito e porque financiar sua próxima viagem para Ibiza sempre sai tão caro, tsá bee?

Considerações Finais

PIB não é (nem de longe) o melhor indicador para se avaliar a qualidade de vida e desenvolvimento de um país (quem se interessar pelo assunto, dá uma lida sobre o Butão e o seu projeto do conceito de Felicidade Interna Bruta), mas foi usado aqui para aprofundar um pouco mais os assuntos discutidos na entrevista da Dilma no JN. Um economista competente não monta uma análise tão complexa quanto à do desenvolvimento somente em um dado, mas ao mesmo tempo dados são necessários porque Economia se propõe com uma ciência (e achismos não cabem numa ciência).

A questão é: crescemos devagar, muito devagar nas últimas décadas. Isso foi uma escolha, que como tudo em Economia é bem mais complexa do que o simplório “Queremos crescer devagar e sempre”. Por que países que entraram em uma crise tão grave (Argentina em 2001, Rússia em 1998) sofreram seus efeitos, mas logo se recuperaram e cresceram bem? Por que se estamos fazendo “tudo certo” ficamos tanto presos num crescimento tão módico? Um país com os problemas sociais tão graves como o Brasil pode se dar realmente ao luxo de crescer mais devagar?

Muitas questões, poucas respostas, I know. Mas quem disse que o preço do conhecimento era baixo? ;)

6 comentários:

dudufs disse...

Fernando, como funcionam esses juros abaixo de zero? Pergunta cretina: o banco te dá um troco se tu compra parcelado?

Precisa elogiar o post?
=D-

Lucas disse...

Tendy.


#not

Thiago Lasco disse...

Hahahahaa, eu num guento isso aqui! Hilarious! E estar apaixonado faz maravilhas com seus textos...

Em tempo: os meus cafuçus comem ensopadinho com muito músculo e um bom caldo de mocotó! E os cafuçus com cargo de chefia vêm despachar na minha sala, e eu sirvo um agrado a mais na merenda deles... ;)

beto disse...

rapaz, acho que vc resumiu tudo na última frase: poucas respostas! se o mundo fosse tão simples como alguns pensam, todo mundo seria Dinamarca um dia, não?

olha só... vc ainda tá confundindo um pouco a coisa de ratings etc... as agências de ratings dão "notas" para um país (ou empresa, ou qualquer outra coisa que emita dívida). o que é essa nota? a avaliação da agência sobre a probabilidade do devedor (seja país, empresa, etc) pagar a dívida TODA no dia EXATO que ela é devida. só isso. e é um palpite, eles erram sim. mas acertam mais do que erram. caso contrário, ng prestaria mais atenção neles. então, não só bancos de investimento, mas todo mundo que tem interesse na dívida da entidade X, usa esses ratings para tomar decisões.

sobre os dados da Arg: acho que se os dados são tão ruins a ponto de não serem mais confiáveis, melhor não usá-los, pois se corre o risco de chegar a conclusões muito erradas. Há anos vou à Arg e o empobrecimento de Buenos AIres é visível. Eram quase-primeiro-mundo, agora são realmente terceiro mundo.

ainda sobre os crescimentos de BR vs Russ vs Arg. não esqueça que tivemos aqui tb uma crise monstruosa no fim de 2002, o US$ bateu em quase 4 reais, estávamos à beira de ficar sem reservas internacionais e quase teve uma corrida bancária. Isso pq ficou claro q o Lula ia ganhar a eleição e, até então, o discurso do PT ainda era aquele de oposição (ou seja, sem compromisso com o mundo real). Mas o Lula de burro não tem nada e ele forçou o PT a soltar um comunicando explicando que NÃO iriam mudar as âncoras da política econômica. Se não tivesse feito isso naquela hora, o Brasil teria quebrado igual a Arg.
E dona Rússia pode comprar muito Versace pq é um grande exportador de petróleo e gás e saiu da crise pq nesse período os preços desses produtos foram pra estratofera. Assim fica fácil né? Mas olha os dados depois que os preços despencaram...

E vc, como economista, sabe que não dá a louca no Banco Central
e que eles simplesmente não acordam um dia dizendo "vamos subir a taxa de juros para dar mais $$$ aos porcos capitalistas"! O BC sabe muito bem do sacrifício que isso impõe à economia e ao desestímulo em empregar cafuçus na fábrica do Intro... Mas como o governo gasta sem parar, se alguém não põe um freio na economia, estaremos de volta aos dias de inflação fora de controle (que desconfio são só um vago tema da sua infância e não uma realidade como foi para mim e todos com mais de 35 anos, afetando especialmente os mais pobres)

dudufs disse...

Pois é, hoje no banho pensei sobre este post novamente e sobre a relação crescimento x inflação.

O Brasil cresceu em ritmo acelerado nos governos de JK e durante o "milagre econômico" da ditacuja... mas esse crescimento foi seguido de inflação.

Pergunta cretina: digamos que o Brasil reduza a taxa de juros estupidamente, o que teoricamente poderia ser feito para se evitar um eventual aumento da inflação?

Sugestão: que tal um post sobre a sujeita? :D

Pergunta off topic: teus pais são nordestinos de onde? :DDD

Fernando disse...

@dudufs: Taxa de Juros REAL = Tx de Juros Nominal - Tx de Inflacao

Levei muito fora em aula de Macro porque tinha esquecido desse detalhe. Snif.

@Introspective: Thiago e do tipo que vai contratar jardineiro e motorista pelo look. Fato.

@Beto: Beto, era isso que eu pensava do conceito de rating agencies sim, mas discordo de voce na ideia de que "eles acertam mais do que erram". Uma das maiores discussoes no meio e a sobre o papel das rating agencies para o acontecimento das crises.

Sobre o caso da Argentina, realmente a decadencia do pais e obvia. Mas dear, os dados socioeconomicos argentinos ainda estao BEM melhores do que os brasileiros. E sobre a veracidade dos dados, realmente, Xtina Kirchner e famosa pela mao-de-ferro no IBGE argentino.

Sobre a questao do COPOM, agora eu preciso confessar que discordo completamente do que voce falou. O COPOM, por instituicao, nao tem nenhum compromisso com a manutencao da taxa de desemprego da Economia (algo que ate o FED americano tem - o presidente do FED anualmente tem que ir ao Congresso prestar contas sobre as variacoes na tx de desemprego), e ISSO e o que eu discordo, e a maioria dos economistas heterodoxos tambem. Controlar os gastos do governo nao e competencia do COPOM (alias, e competencia do Congresso, o mesmo que tem demorado SECULOS para aprovar uma reforma tributaria), mas a tx de juros definida recai diretamente na divida publica, que ai sim aumenta bastante as variacoes da gasto do Governo Brasileiro. O fato que eu quero alertar aqui e que o Brasil esta caminhando para um processo de desindustrializacao, muito perigoso para um dos parques industriais mais completos do hemisferio Sul.

@dudufs: As causas que geram inflacao sao inumeras. De forma geral, a inflacao e uma incapacidade da industria de acompanhar o crescimento da demanda, respondida com aumento de precos. Uma das formas de combater a inflacao, alem de diminuir a taxa de juros, seria investir pesadamente em infra-estrutura e dar suporte ao surgimento de novas empresas que permitissem a economia suprir essa nova demanda.

O problema? Temos praticamente a mesma infra-estrutura da decada de 70/80. Voce consegue lembrar de alguma obra de grande porte construida desde entao no Brasil?