Eleicoes definitivamente nao é um dos temas que mais mobilizam os alemaes: o voto para chanceler nao é direto, os governos sao quase sempre compostos por extensas coalizoes que juntam todo mundo dentro de um barco só (nada de Sarney, Renan Calheiros e meu favorito, Severino Cavalcanti dando piti no Senado), e os partidos tem as mesmas propostas há decadas. Nas ruas, somente um ou outro cartaz de algum candidato local para o Bundestag em Berlim. Tudo muito discreto, sério e formal. Very German. A atual chanceler, Angela Merkel (do Partido Democrata-Cristao, CDU) leva alguma vantagem por ter feito um governo competente e sério para a maioria dos alemaes, principalmente em comparacao ao do anterior Gehard Schröder.
Pedra no sapato dos principais partidos, e assunto principal dessa última semana? Afeganistao.
O longínquo país dos Talibans recebe atualmente o maior destacamento de soldados alemaes no exterior desde o final da Segunda Grande Guerra – cerca de 4.200 soldados. Exército e Alemanha sempre sao temas polemicos por aqui: a Constituicao Alema restringe rigorosamente a atuacao e formacao das Forcas Armadas, a opiniao pública é sempre contra qualquer tipo de envolvimento em conflito armado de qualquer espécie e o fantasma do nacionalismo+guerra sempre evoca inúmeros traumas na cabeca dos alemaes. Somado a isso, a guinada conservadora do governo de Karzai desagrada imensamente a sociedade alema, que teme estar dando suporte e recursos a um governo nao comprometido com o estabelecimento de uma real democracia. O tema é de grande polemica aqui, com a direita (Merkel) defendendo a necessidade de manter as tropas no Afeganistao por razoes humanitárias, e a esquerda defendendo a retirada imediata e o fim do apoio a um regime nao democrático.
E no último dia 18, a cereja do bolo: um vídeo da Al Qaeda anunciando atentados em território alemao caso o partido vencedor nas eleicoes do próximo domingo nao defenda a retirada das tropas do Afeganistao. O que faltava para esquentar ainda mais o tema nas eleicoes.
Em outras palavras, fudeu.
- A Alemanha nao foi alvo de nenhum ataque de grandes proporcoes nas últimas duas décadas (ao contrário de Franca, Inglaterra e Espanha)
- Nao existe uma cidade-alvo clara. Enquanto Londres na Inglaterra ou Paris na Franca sao alvos mais óbvios, na Alemanha a cidade-alvo pode ser Berlim. Ou Frankfurt. Ou Munique. Ou Hamburgo (que inclusive foi sede para uma das células da Al Qaeda no 11 de Setembro. Dois terroristas estudaram na mesma Universidade em que eu estou fazendo intercambio agora. Dilicia, né?).
- Apesar da convivencia entre alemaes e turcos (a principal comunidade estrangeira na Alemanha) ser bem pacífica (em comparacao com outros paises europeus-ocidentais), um ataque poderia azedar a política alema de tolerancia com as comunidades estrangeiras no país.
E para alívio dos meus amigos alemaes que desconfiam das minhas feicoes judaico/arabes, domingo eu estarei bem longe de Hamburgo, laaaá na Suécia. :) E sinceramente espero que se algum terrorista venha a sequestrar algum aviao, que ele nao sequestre um da Ryanair. Ninguém merece: quer ir para o Paraíso, vai num Air France, Lufthansa, British Airways...Ninguém impressiona 99 virgens chegando de Ryanair Low-Cost nao!
P.S.- Caso aconteca alguma coisa, por favor, escolham uma foto BEM photoshopada para colocar nos jornais brasileiros, tá? E escrevam algo do tipo "24 anos, estudante brasileiro na Europa...". Algo SÉRIO. Do tipo para fazer velhinha ler na Época e chorar falando "Mas ele era um menino taaooo bom!". E nada de mencionar esse blog, hein!
P.S.2- Reportagens sobre o assunto:
portugues (http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u626562.shtml)
alemao (http://www.spiegel.de/politik/deutschland/0,1518,649965,00.html)
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