Passeios, experiencias (e furadas). Parte 3.
Boldog Ujevét! - O meu Reveillón húngaro
Tudo comecou quando o György (nosso cicerone em Budapeste) comentou que sabia de um clube noturno que oferecia A oferta para a noite de Reveillón: boa música, ambiente fechado, livre de turistas e (o mais importante) openbar. Tudo por inacreditáveis 30EUR! A princípio eu tinha sido meio contra: pagar 30 EUR (= zilhoes de coroas tchecas, florins húngaros ou zlotys poloneses - gentém, euro vale horrores no Leste Europeu!) para me enfiar em um clube qualquer seguramente cheio de piranha, para alegria dos heteros do grupo nao atraiu muito a minha idéia. Mas o meu amigo tuga educamente me relembrou do fato de que eu nao estava no Rio de Janeiro ("Ô brazuca burro, tá um frio do cara'lho! Reveillón na Europa nao é na rua nao, po'rra!") e eu resolvei topar o Reveillón que o destino tinha posto na minha frente. Afinal, sendo boate hetero e nao sendo
Mariuzinn (#
momento SP friendly: boate hetero carioca, conhecida pela 'finesse' e 'elegância' dos seus frequentadores. Em outras palavras: muita correntinha de prata/relógio cebolao no pulso/camisa E-Brigade para os meninos; cabelo escovado/ballayage/pelo menos uma peca da Mercatto para as meninas.).
Depois do tour turístico por Budapeste, dirigimos para
a puta que pariu Budakeszi e nos preparamos para a nossa noite. Como o resto do pessoal do grupo se vestiu? Quem se importa! Como eu me vesti? (Sou narcisista mesmo, qualé?!) Impecável: minha linda-e-perfeita camisa estampada recém comprada em Chueca, minha linda-e-perfeita skinny preta
Weekdays diretamente da
Götgatan (juro: se ganhasse na Mega-Sena/casasse com um milionário russo/ganhasse um "Dia de Princesa" Premium Version do programa do Netinho, eu step#1 tocaria fogo no meu guarda-roupa inteirinho e step#2 embarcaria direto para Götgatan para comprar tudo novo. Melhor lugar no mundo para roupas? Difícil...), meu lindo-e-perfeito sapato da
Wormland de Hamburgo. Sabe quando voce veste no mais forte espírito Agora-eu-sou-solteira-e-ninguém-vai-me-segurar? Eu naquela noite. Eu tava lindo. Eu tava gostoso. Eu tava tudo. (Grrrrrrrr!)
E dirigimos de volta ao clube noturno. Numa decisao smartona (again: Murphy nao brinca em servico) decidi deixar o casacao de inverno no carro e enfrentar o frio de 1°C somente de cachecol até a porta do clube. Afinal,
piranha que é piranha nao sente frio, e nao tava com saco para enfrentar as inevitaveis e infernais filas para guardar o casaco. A fila prometia: lindas húngaras vestidas de preto, húngaros beeeem mais pegáveis depois de capricharem um pouco mais no visual, muita gente carregada no visual esfreguei-tijolo-na-pele (isso explica o estúdio de bronzeamento aberto non-stop), mas no geral um grupo agradavel. Havia esperanca.
E na hora que entramos no clube, o queixo caiu: uma producao fodástica. Um espaco enorme que foi completamente reconstruído, com pistas e mais pistas de danca, lounges incríveis, bares para todos os lados e uma producao de cenografia impressionante. E a música, excelente até onde podíamos escutar. Loiras lindas dancavam se esfregando em eslavos bem mais gatinhos nessa producao um pouco mais caprichada. Olhinho de todos brilhando: finalmente conheceríamos
A famosa night do Leste Europeu. Eu (devidamente estimulado por uns três ou quatro shots de vodca polonesa) entrei no recinto com o espírito lá no alto: liguei o
catwalk walk (tipo Gisele entrando na passarela da Vic's Secret/Justin-todo-gostoso cantando Sexyback ali no alcance de uma chave de edy/Gisele nao desviando nem 1mm do globo ocular em direcao ao Justin), endireitei a coluna, botei o mantra "Sou-brasileiro-a-fama-de-piranha-sempre-nos-ajuda" na cabeca, liguei o gaydar e fui em frente. A entrada foi tao triunfal que já de cara estabeleci o clássico viu-eu-passando-olhei-de-volta-olhou-e-se-virou-para-me-ver-melhor com uns 3 húngaros. Nada mal: algum material interessante já tinha para me divertir durante a night. E caimos na pista. O clima entre a gente era especial: nao sei se era a felicidade de ter chego em Budapeste depois de tantas horas de viagem, o Ano Novo em si ou talvez pelo fato de ser um dos últimos momentos em que todo mundo estaria junto numa festa. Mas era um clima especial: era uma felicidade com nostalgia e vontade de festejar muito antes que 2009 terminasse de vez.
Aí comecam as histórias. Primeiro, moderacao alcóolica e openbar sao duas palavras que nao andam em conjunto: primeiro drink da noite é aquele que você pega sozinho, aí 2 minutos depois chega uma amiga do banheiro e fala "Ah, vamos pegar um comigo?!", você pensa "Ah, enfrentar fila depois para pegar outro?" e já termina o primeiro objetivando pegar o segundo, o barman fala inglês mal pacas (5 minutos para entender "vodca WITH Red Bull"), você pega um terceiro para o outro amigo que acabou de chegar... Resultado: uma hora de festa, quatro
shots de copos longos de vodca com RedBul e eu achando tudo
muito engracado. Veio o ano-novo, tocou hino da Hungria (todo o meu grupo se olhando com cara de "Que porra é essa?"), uns húngaros gatos me agarram berrando aquela música nos meus ouvidos, "Êêêêê.... Feliz Ano-Novo!!!" e... vamos pegar mais drink? (#HeleninhaRoitmanfeelings). Eu peco uma outra "vodca with Redbull" para a barwoman, ela me devolve o copo
sem gelo. Fernando (mesmo bêbado, um gentleman) pede, com um sorriso "Please, can you give me some ice cubes?". Ela me ignora. Eu educadamente "Please? Icecubes?". Ela finge que nao me escuta. Seguindo o manual germânico de etiqueta e boas maneiras (dois pedidos educados nao atendidos/ignorados = permissao para liberar o vândalo ostrogodo que existe dentro de você), pego o meu copo, viro e mando "THIS BARWOMAN IS A FUCKING CURVA! CURVA!" ("curva" significa piranha em qualquer idioma eslavo, inclundo o nao-eslavo húngaro). Como comecou a tocar Lady Gaga eu nao lembro de muita coisa, mas segundo a minha amiga espanhola ela tentou me tirar dali me puxando, enquanto a barwoman jogava cubos de gelo no grupo que comecou a gritar "Curva! Curva!" para ela.
Cerca de meia hora depois, fui eu buscar mais um drink no bar (claro, com a barwoman curva - nao lembrava de nada mesmo). Na volta, vejo os meus amigos H e F (o tuga e o mexicano-americano) acendendo um charuto e comemorando. Daí vejo um húngaro qualquer chegando, pegando o charuto da boca do H, jogando no chao e mandando aquela cara "Eaívaiencarar?", indo para cima do tuga. F tira a camera do pescoco (uma Canon profissional), entrega para a namorada espanhola, vira e me acerta um soco na cara do húngaro. E mais húngaros vem para ajudar o húngaro, enquanto o meu amigo tuga coloca todo o conhecimento de artes marciais dando uns socos e chutos a la Chuck Norris (detalhe: altura nao é forte dele, ele bate no meu ombro). Quando os dois quase terminaram com todo o grupo de húngaros e estavam ganhando a parada, me aparece o grupo de segurancas da boate: TODOS com mais de dois metros de altura, TODOS com dois metro de largura, TODOS com aquela cara de cachorro assassino em busca de sangue. Os segurancas pegam os dois pelo pescoco dando uma chave de braco (o tuga com as perninhas fora do chao batendo no ar) e arrastam eles para fora da boate, metendo porrada na cara dos dois.
E enquanto tudo isso se passou, eu parado no mesmo lugar, copo de drink na mao e cara de "Como assim?!" para toda aquela cena que eu tinha assistido. Tipo, boquinha aberta, cabecinha caindo para o lado e expressao de "Ai!" para tudo que eu tinha assistido.
Depois de uns 3 minutos eu finalmente voltei ao mundo real e consegui pensar no que tinha que fazer: sair em busca dos meus amigos. Na entrada, muito frio, muito vento, eu sem casaco e... nada dos meus amigos. Morrendo de medo de levar um coió virei para um dos segurancas e com a cara mais simpática do mundo tentei estabelecer um diálogo:
Eu: "
Hiiiiii? Did you see some..."
Seguranca balanca a cabeca em sinal negativo
Eu: "Hmmm... No English?"
Seguranca diz nao com a cabeca de novo. Pondero se mandar "I am from Brazil. Pelé! Samba! Coffee!" ajuda a reverter alguma coisa ao meu favor. O seguranca nao parece muito simpático.
Eu: "Hmmm... Deutsch?"
Seguranca continua dizendo nao com a cabeca. Ódio do Leste Europeu.
Eu (mando a cartada final): "Hmmm.... Русский?"
O seguranca faz que sim com a cabeca
Eu: "MIM-novsky AMIGO-kov PORRADA-trosk CADÊ-vitch?"
O seguranca aponta para uma tenda, e tremendo de frio sigo para lá. Chegando perto, vejo a cena:
meu amigos com as caras completamente ferradas, camisas rasgadas e ensanguentadas, conversando aos berros com os segurancas, tentando entrar de novo na boate. E fui aí que eu percebi: a noite tinha acabado. Eu tava lindo, gostoso
e calibrado e teria que voltar para casa. Puto, voltei para o clube, reuni a galera, tive que enfrentar a fila para tirar o casaco de todo mundo, e saí do clube. Dei um mini-escândalo mandando os garotos pararem de tentar convencer os segurancas que eles estavam certos na briga (por que menino hetero tem necessidade de provar pra seguranca/policial/autoridade que nao foi ele que comecou o problema, hein?!) e irem para o carro, e no carro dei um outro mini-escândalo ("
IF YOU WANT SOME ACTION, GO FUCK A PUSSY, BUT DON'T FUCK WITH MY NEW YEAR'S EVE! FUUUCK!") e voltamos para o hostel. E as duas e meia da manha, dormia eu - de calca skinny, meias e cheirando a RedBull. E puto. Muito puto.
Desfecho da história: o mexicano-americano ficou com a boca igual a da Angelina Jolie, o tuga (o único que sabia e podia dirigir um carro com marchas) parecia que tinha sobrevivido a um acidente de carro e nao conseguimos sair do hostel fudido de Budakeszi. No dia seguinte, fomos ao hospital (onde o tuga paquerava as enfermeiras falando "This is me... This is not me!" tapando a parte fudida do rosto dele) onde ele levou uns pontos no olho e a indicacao de um remédio para tomar contra a inflamacao (que depois, na Alemanha, ele descobriu que podia causar uma disfuncao renal séria). Dois meses depois, o tuga teve que fazer uma operacao para retirar uma mancha de sangue coagulado de dentro do globo ocular e eu rio toda vez que eu relembro da cena dele com as perninhas batendo no ar. Eu perco o amigo, mas nao perco a piada. ;)