Acordamos quase 11 horas (mesmo nao tendo saido – inverno é booooom para dormir), e contando com almoco, tempo para arrumar as malas e partir para a Hauptbahnhof, nao sobrou tempo nenhum para passear pela cidade. Tempo para me despedir dos pais da Cecilia – que gracas a deus estavam no meu caminho e saciaram a minha fome de comida brasileira, mas mais importante: sentimento de casa brasileira (porque aquela tia falando “Come mais um pouco ai, vai!” já enfiando mais comida no teu prato nao tem na Europa nao, tah!); de Frankfurt e de cair na real que eu estava indo para Paris! :)
Sim, Paris. Agora escrevo o relato dos últimos dias a bordo do ICE e TGV (os trens da alta velocidade da Alemanha e Franca). E como nao tem nada melhor para fazer (ou seja, nenhum gatinho para paquerar – como velho viaja na Europa, hein! To me sentindo numa daquelas vans de velhinhos, praticamente um sache de Azzaro ambulante, indo para o shopping da Gávea), vai um relato real-time da minha viagem.
16:07h: A organizacao na Alemanha é uma faca de dois-gumes: ela existe para facilitar a sua vida, mas se voce nao segui-la, ha ha ha. Fiquei todo bobo tirando fotos do ICE, e a minha amiga falando “Fernando, tá na hora”. Eu pensando “Ah, to no vagao 15, um trem nao pode ser tao enorme assim.”. E era. Muito. Imagina um brasileiro berrando em portugues, tentando achar o vagao na hora certa. Eu. Achei o meu vagao no momento certo de me despedir das garotas e dizer um “Até Logo” para a Cecília.
16:08h: O ICE é mesmo alemao: todo em cinza. E tons de madeira. Acho que todos os alemaes foram criados somente com os gizes de cera (nossa, pluralzinho FDP esse, hein) cinza e preto. Eta criatividade de cores.
16:30h: Mwah. Último controle de tickets auf Deutsch. Percebi que nao vou para a Inglaterra nem Portugal (onde falo fluentemente o idioma do lugar) nem Suécia (onde eles falam fluentemente o ingles), e agora, é me virar no frances. Saudades temporárias de dizer “Danke, Tschüß” ao final de tudo, com um sorriso no rosto. Alemaes sao malinhas. Mas eu gosto deles.
16:45h: Minha teoria de que somente crianca nao-alema chora na Alemanha mais uma vez comprovada. Um frances deixando um pirralho (fofíssimo – daqui a uns 16 anos vai estar no ponto!) caminhar pelo trem e ficar berrando em frances, incomodando o trem todo. Alemaes já fizeram aquela cara de choque (passou de 40Db, alemaes fazem cara de choque), e já ouvi um comentar “Deveriam dar calmante para criancas em viagens”. Adoro esse senso joselito dos alemaes. :D
17h: Hora de trocar de trem e pegar o TGV em direcao a Paris. Ajudei o frances com o garoto pirralho a tirar a mala, e ainda indiquei a plataforma que ele deveria ir, em frances. Sabia que ainda podia falar alguma coisa além de produto cosmético e sobremesa nesse idioma! Estacao de Karlsruhe nao tem absolutamente NADA para fazer. Fui de um lado, um posto de gasolina. No outro, um ponto de onibus com alguns Straßenbahn (bondes). Acho que fiquei em Hamburgo tempo demais: já me vi fazendo a carinha de nojo deles quando eles descrevem o resto do país. Praticamente os cariocas da Alemanha. Mesmo assim, hmpf, Hamburgo é MUITO melhor! Pah e nem confianca.
17:10h: O TGV é a coisa mais gay que eu já vi na minha vida. A cadeira é roxa, o chao é roxo, as paredes sao roxas. E anúncios em frances também (claro, alemao é ainda o primeiro idioma, afinal estamos em território inimigo...)! Muito fofo! (Aguentem: quando eu viajo, me emociono até com plaquinha de transito diferente da de casa).
17:45h: Já é a segunda vez que me oferecem vin chaud. Non, merci: prefiro Glühwein.
17:55h: Vin chaud. Mais uma vez. E um sorrisinho do cara pra mim.
18h: Gentém, ser CDF no Colégio valeu a pena: cruzamos um rio e pensei “Grande esse rio, hein... Será que é o Reno?”! Pomme-de-terre: no mesmo segundo recebi uma SMS do meu celular alemao falando que eu tinha cruzado alguma fronteira,e já me encontrava em território da UE. Je suis en France!!! (Ok, QI voltando ao normal agora, prometo).
18.15h: Chegamos em Strasbourg, as placas de sinalizacao de estacao já mudaram!! (QI caiu de novo). :) Meu novo companheiro de viagem chegou: gato e com o kippah na cabeca. Agora parecemos a dupla “Conferencia de Paz na Palestina” (carinha de árabe ici, amenizada com o meu novo corte “Mohammed foi fazer MBA em Nova York”). Acho melhor guardar os meus livros em alemao, just in case... :D Mas ele levantou... e já foi? Damn it!
18:45h: Gente, os controlleurs chegaram e cade o judeu que sumiu daqui?
18:55h: O judeu ainda nao voltou. E literalmente, esse trem é muito louco: ele simplesmente nao faz barulho, nao treme, e tem horas que eu tenho a nítida sensacao que paramos no meio do nada. Mas quando meto a cara contra a janela, vejo tudo passando ultra rápido. Comofas?
19h: Já é a sétima vez que o cara do vin chaud passa aqui e sorri para mim. Nao, ele nao é gato, e parece mais que andou tomando um pouco do produto que vende. Ficando de mau humor: já me adaptando a cultura francesa?
19:15h: Gente, to passado: um casal de velhinhos franceses clássicos (com boininha e Le Monde debaixo do braco dele, ela fazendo trico) sentados na minha frente, quase dormindo ao balanco do trem. De repente, me toca METALLICA, e adivinha de quem era o celular? Do velhinho. Franca nao é mais a mesma. Traumatizei.
19:20h: Mais uma vez, a porra do vin chaud. Eles estao definitivamente tomando o vin chaud. Pensando se talvez eu deveria colocar a perna no caminho, assim quem sabe eles nao voltar. Mas... pera aí: o ajudante do cara mala é trés gatinho. Rá: tirei foto dos dois e até ganhei uma balinha! Meu charme especial com franceses ainda funciona hehehe.
19:47h: Até o papel higienico do banheiro do TGV é rosa. Carícia e Jornal dos Sports feelings. Nojinho.
18h: Oitava vez que passa vin chaud. Nao aguento mais. Será que se eu comprar, eles param de passar?
18.15h: Tédio. Tá chegando? E nao tem nada para ver, porque tá tudo escuro... :( Eu queria tanto ver os subúrbios parisienses. :( Uma coisa meio marroquinos, caribenhos e antilhanos tocando fogo em carros, dancando Mano Chao e enchendo a cara de Chardonnay, sabe? Jamais saberei (porque RÁ que vou me enfiar no RER e enfiar a mesma carinha cheia de cosméticos naquele lugar. Eu quero é Avenue Montaigne. E depois dar uma de economista social nas aulas da UFRJ. Hehehe).
18:20h: Ai, luzes! !! Ok, o lugar é praticamente “vista da Washington Luiz chegando em Duque de Caxias”, mas pelo menos já dá para ver alguma coisa. E as pessoas em volta falam em frances. :D Mas... quando que alguém vai ser antipático comigo? EU QUERO SER MAL TRATADO em Paris. História de atendente FDP para contar no Brasil é praticamente equivalente a miniatura da Torre Eiffel no quesito souvenirs. Eu quero a minha. Para pagar de blasé e falar que “Paris nem é tao incrível assim” na hora em que eu voltar para o Brasil.
5 comentários:
"Sache de Azzaro ambulante", impagável. Rsrs.
Seu blog está tornando-se impagável! Para de estudar economia já! Seu talento é pra comunicação!
@AD: Azzaro e Boucheron. Porque velho acha que tem que usar perfume mega poderoso, hein? Diminuicao das capacidades olfativas?
@Will: Depois de milenios em economia? No way. Eu quero é ter prisao especial. :D
Aliás, o Manu Chao está aqui. Tem show na fundição esse fds.
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