O skyline de Manhattan (como pode uma ilha tão pequena definir de forma tão eficiente tudo o que o mundo vai querer vestir/escutar/ler/ver, não é?). A clássica música de abertura (que numa telenovela mexicana cairia tão cafona como aquelas abuelitas usando xale florido, trancinhas e bisonhos nomes de sentimentos tipo “Soledad” ou “Caridad”, mas que para SATC dá aquela pitada certeira de “New Yorker Internationalness”). A voz da SJP (protagonista, produtora executiva + 35 outros cargos, aquela que sempre sai em destaque/a cores/um passo a frente em qualquer material de divulgação da série. Ou seja, a bitch-mor da série. Dá ou não dá pra imaginar ela discutindo aos berros com o fotográfo que a Kim Cattrall saiu com os peitos maiores do que os dela, enquanto as 3 esperam do lado comendo Dunkin' Donuts?). Et voilá: aquela satisfação em saber que mais um “episódio” completamente inédito de SATC vem vindo pela frente.
Na última quinta-feira, depois de algumas semanas de adiamento não-voluntário (faculdade, faculdade!), finalmente consegui assistir ao tão esperado, tão comentado (e tão detonado!) SATC2! :D E como eu adoro SATC – afinal, é com Carrie & Cia que eu me desintoxico das reflexões e questionamentos econômicos gerados por acessíveis autores como Marx e Sraffa – eu tinha que fazer alguns comentários sobre o filme!
Para início de conversa
Sim, o primeiro filme é muito melhor do que o segundo. E a média da série é melhor do que qualquer um dos filmes. Mas também ficou longe de ser o desastre nuclear anunciado por alguns blogs/críticas. Óbvio que o segundo filme ia ser meia-bomba, afinal a série perde um dos leitmotifs quando Carrie finalmente se resolve e consegue arrastar Mr.Big para o altar (RÁ que depois de vestido Vivienne Westwood, Biblioteca Central de Nova-York, ensaio na Vogue, todas as minhas amigas devidamente botocadas e drenadas linfaticamente eu ia aceitar me casar num Fórum com um monte de chicano dando golpe de Greencard como testemunha. Nem morta! Era casamento em castelo na Itália/França + página inteira da cerimônia no Page Six incluindo declaração “Eu fui um idiota por ter largado ela no altar” + colar mais caro da Van Cleef & Arpels ou NADA!). Mas achei digna a história desenvolvida pelo Michael Patrick King. Atinge outro grupo, claro: o “Four New York single woman” fica claramente para trás, e agora quem estão ali são quatro mulheres mais ou menos casadas lidando com o trinômio casa-família-trabalho.
Fashion put it all on me / Don't you wanna see all those clothes on me?
Eu sei, eu já também me questionei: é monetariamente impossível alguém trabalhando conseguir levar um estilo de vida tão monogramado; é impossível que a Carrie tenha tudo tão grifado e não role nem um Croc's, um moletom de universidade americana, ou uma bolsa “Luís Vitão” sequer naquele guarda-roupa! Séculos atrás tinha lido uma matéria na Newsweek (#prontofalei: eu tenho vergonha de ler Newsweek. Aquela revista é tão ruim que parece um folheto perto dos semanários europeus, néam?) que mostrava como era impossível uma colunista, uma advogada e uma RP (Charlotte não conta: ela deu o golpe do baú no escocês brocha e pode se dar ao luxo de ficar fazendo pátina em todos os móveis da casa o dia inteiro) terem o padrão de gastos mostrado na série. Surreal é pouco!
Agora por outro lado, assim como sexo, Fashion sells. Devil wears Prada, blogs de moda bombando mundo afora, um bando de adolescente chata e gorda falando “Ai, meu sonho é ser modelo!”, Fashion Week acontecendo até em Mossoró: moda agora é um produto de massa. E mesmo quem não tem poder aquisitivo para ser considerado consumidor-alvo da maioria dessas marcas (*cof, cof) viu as suas aspirações aumentadas enormemente (= inglesa gorda tudo se estapeando pra comprar top de oncinha do Matthew Williamson na H&M). E as empresas, CLARO, sabem disso. Portanto, surpreso com o desfile de marcas inacessíveis na tela do cinema? Tava esperando o que? Carrie saindo da C&A carregando um monte de bandage dress Dereon Beyoncé e sacundindo um Amarty Sen numa das mãos? Acorda que o documentário iraniano é na sala do lado...
E falando em Oriente Médio
Agora dá pra entender porque Dubai não topou ser retratada no filme, néam? Achei digno de prêmio por serviço de utilidade pública. Na Europa, a imagem que o Golfo criou é de sofisticação, de excentricidade, de “Ocident meets Orient”, de “Oriente Médio Liberal” - praticamente a Suécia com palmeiras, dança do ventre e muito mais pelos. E assim se estabeleceu como destino de inverno do continente. Agora, o que ninguém conta são os trezentos e cinquenta mil poréns desse sonho liberal. Eu confesso: até eu achava tudo muito lindo, tudo muito exótico, tudo muito liberal até sugerir para um amigo alemão em busca de sol no meio do inverno ir para Dubai. Pergunta respondida com: “Eu quero viajar com o meu namorado. Dá para viajar 100% tranquilo para um país onde a homossexualidade é considerada crime?”. Para se pensar...
E falando de preconceito e mulheres
A gente esquece que SATC é feita por americanos para americanos, e que o resto do mundo é mera consequência. E que na desenvolvidas e rica América o feminismo ainda é um assunto importante: apesar de todos os ganhos, a cultura americana é essencialmente machista, as americanas simplesmente não possuem uma licença-maternidade garantida a nível federal e tem que lidar com as pressões de uma cultura que considera normal uma mulher abandonar sua carreira profissional e acadêmica a partir do momento em que se casa e gera filhos (ao contrário das europeias, que recorrem ao vasto sistema de apoio sem a menor culpa).
Por isso, Samantha gritando no souk árabe “EU GOSTO DE SEXO!”, reclamando que tem que colocar véu para cobrir o colo na piscina em Abu Dhabi, Samantha sendo Samantha é simplesmente foda.
E falando em Carrie
Paranoica, masoquista, shopaholic sem limites, algumas vezes cafona, histérica, impulsiva, fumante, carente, adúltera, muitas vezes desesperadamente precisando de um bom tanque de lavar roupa. Tudo isso ao mesmo tempo e mais ainda: nesse segundo filme ela está chata, a maior parte do tempo parecendo procurar por merda. Mas na boa, isso é a essência de ser Carrie: fazer merda. E atire a primeira pedra quem nunca se identificou com nenhuma das trocentas merdas que ela já fez? Carrie é a personificação do que dá pra ser em relacionamentos, nua e crua. Porque na teoria a gente sabe que deveria ser adulto, maduro, pensar antes de dizer, uma coisa bem Helena do Manoel Carlos, sabe? Mas na prática, como a Libanesa diz, o que baixa é a corticeira e cenas como aquela em que a Carrie joga o Big Mac na parede quando o Mr.Big me vem de “Se você for Paris, você irá por você” láaaa na primeira temporada lavam a alma. E nos fazem ser um pouco mais indulgentes com todas as merdas que nós já cometemos em relacionamentos.
E falando em Gays
Como é bom ser representado por dois caras não-sarados, não-bombados, não-deuses gregos. E ultra afeminados. Cansado dessa coisa Ruppert Everett (bonitão, gostosão, vozona grossa, quase um hétero, senão fosse o pequeno detalhe...) que se tornou o ideal do gay em séries e filmes. Sinceramente acho que o contra-clichê se já se tornou o clichê há muito tempo...
The best parts
Flashback para os anos 90 (Miranda de tailleur e tênis branco foi TUDO!). Carrie e o Stanford antes do casamento dele (ah, eu ainda penso assim: o que seria dos gays sem as amigas por perto, hein?!). Samantha dando para o irmão do noivo. As peitcholas da babá irlandesa (e os maridos com o bocão aberto). Smith Jerrod, forever. (o cara envelhece e fica ainda melhor. Defeito imperdoável.) Samantha e Miley Cyrus com o mesmo vestido (aliás, Kim Cattrall sustentou MUITO melhor o look!). Samantha falando “I wanna go somewhere RICH!”. (momentos antes eu comentei com a minha amiga da minha “grande vontade de conhecer o Oriente Médio com uma mochila nas costas e dormindo em hospedaria de beira de estrada”.) Miranda com ataque “Turista Modelo” nos EAU. Carrie e aquele vestido sensacional com fenda ultra-gigante na hora de jantar com Aidan (acho que nós homens nunca vamos saber direito o que é essa coisa de ir vestida pra matar, néam?). Samantha e arquiteto dinamarquês Rikard (ah, Escandinávia!). Samantha gritando “I LIKE SEX!” enquanto mostra as camisinhas para os árabes escandalizados no souk. A bunda do dinamarquês gostosão.
The ? Parts
Tudo bem com o marido, tudo bem com o filho, problema só no “trabalho”?! - cadê Miranda Hobbes pirando nos problemas e mandando 10 comentários sarcásticos por minuto? Kirstin Davis/Charlotte, hora de maneirar no botox: tua arregalada de olhos tá assustadora. Aliás bem feito, Charlotte: queria engravidar, queria ficar gorda, queria ter a “indescritível sensação de ter um
Dica Final
Quer entender Sex and The City mesmo? Leia o livro. Bem mais cruel. Bem mais verdadeiro. Bem mais instrutivo sobre a merda que são relacionamentos no mundo moderno.
Ah, no final ela não acaba com o Mr. Big. (Ups, spoiler!)
6 comentários:
Sem querer avisar que tem spoilers, mas já avisando... HAHAHAHA!!! Adorei.
Ah, fui na praia vermelha e lembrei de você. Isso daria uma camiseta, mas aconteceu de verdade ontem.
Ah, então é neste endereço que resides...
Estou começando a me sentir um alien por não ter assistido Sex and the City 2... todos os lugares que passo tem uma resenha sobre hauahauahuahauhau
Um Beijo Fernando!
Eu também gostei do filme! Se quiser dar uma olhadinha, depois, passe por lá e conheça o meu blog:
http://cameradevigilancia.blogspot.com/2010/06/psicocine-dia-170-filme-86-sex-and-city.html
Pronto, o Lobo já te achou. E o texto do nosso meeting saiu lá no Rafael:
http://tantacoisatantacoisa.blogspot.com/
Eu ainda não vi o 1. Tenho um amigo que quase me mata por isso!
Eu não vi ainda... mas esta semana volto a ter uma vida.. eu acho. Bj
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