domingo, 19 de setembro de 2010

I am the master of my fate / The capitain of my soul

Provavelmente se eu estivesse no Brasil em Novembro/Dezembro e tivesse comprado o Horoscopão João Bidu 2010 (aquele com um astrólogo bibíssima na capa, que sua prima/irmã/tia comprava nas viagens de ônibus do final de ano, lia as previsões para o signo dela e encostava logo, porque não tinha nenhuma outra utilidade para ela) teria lido que a definição desse ano para virgem seria “Mudanças”. Porque PATAQUEPARÉU, Fernando empacotando todas suas coisinhas (vocês também sofrem da crise “Sem os meus livros eu não vou para lugar nenhum!” em mudanças? Eu já li aquelas porras, não tem utilidade nenhuma atualmente para mim, mas ver os meus guias de viagem enfileirados na estante onde quer que eu vá me faz sentir um pouco mais tranquilo) já se tornou uma constante nesse ano.

Explaining: mamãe resolveu vender a notre maison dans Grand Champ em busca de mais qualidade de vida, cansada da vida “in the Valley” (a Zona Oeste do Rio é na verdade um grande vale entre os maciços que seguem o litoral da cidade e Serra de Madureira. Já deu pra concluir que quando faz calor, o ar quente simplesmente fica PARADO nesse vale, e por isso Bangú é conhecido pelo seu clima temperado e refrescante nos dias de verão... :D) e ir viver na Costa Verde (aquela região que significa muito verde, muita praia e SEMPRE muita chuva). O problema é que ela decidiu isso em menos de um mês (vende a casa antiga/compra a casa nova/muda para a casa nova), com a mudança justamente acontecendo enquanto le français estava no Rio (Quelle Surprise!). Resultado: Fernando empacota todas as coisas para as duas semanas com o francês em Copa, Fernando re-empacota todas as coisas e vai para a casa da tia em Realengo, Fernando encontra um quarto no Humaitá (quarto de empregada my ass - só se empregada for japonesa e anã! Lembram dos micro-cubículos de Beijing? O meu era ligeriamente maior, com um banheirinho daqueles “Eu tomo banho / O vaso e a pia e tudo no banheiro também”), Fernando descobre que o apartment lord é um freak total, Fernando e o apartment lord discutem (com direito a “Você sabe quem é meu pai?!” do cara, eu com a maior cara de “Who cares?” respondendo “Que bom...” - #1: Querido, depois de rodar tanto o mundo, descobrir que aquela “coisinha” que eu peguei numa boate em Hamburgo era editor-chefe de uma revistona alemã, minha melhor amiga sueca era filha do presidente das Províncias Suecas e coisas semelhantes, você realmente acha que eu ainda me impressiono com... currículo?, #2: se eu desaparecer e meu corpo não for encontrado na primeira semana, PLEASE Polícia e passeatas nas ruas com grandes faixas com “O que aconteceu com Fer?!”, hein!), Fernando percebe que é “melhor sair dali”, Fernando asilado politicamente na casa de um amigo inglês no Leblon por uns dias até encontrar um outro quarto para chamar de seu no Rio de Janeiro.

Enfim, tem horas que eu penso como eu consigo ter saco para aguentar tantas mudanças. Tem horas em que eu olho para amigos e primos que ainda moram com os pais, com lençóis limpos e lavados sozinhos e roupas passadas automaticamente por personal escravas (aka. empregadas e mães) e refeições já prontas assim que eles chegam em casa e ENORMES quartos com mesas e estantes e guarda-roupas combinando-e-bonitinhos e... bate uma enorme inveja. Gigante, do-tamanho-do-mundo inveja, dessas pessoas com lençóis cheirando a Comfort e vidas planejadas e estáveis.

Mas aí eu penso que play safe para mim significaria ter vivido NADA do que eu vivi e ter uma vida absolutamente chata. De que o High-Low que a minha vida tem sido até hoje, pra bem ou pra mal, serviu para me obrigar a “pensar fora da caixa”, sair da zona de conforto da qual eu poderia ter me escondido e viver novas coisas, novas experiências. E de que o efeito disso é que cada vez eu vou simplificando o que eu realmente preciso para me sentir confortável, para chamar um lugar de casa: minhas roupas, meu computador, meus cremes (um dos benefícios de namorar um farmacêutico francês: 30 amostras grátis dos melhores produtos da cosmetologia mundial que custariam a minha bolsa de e nstágio se comprados juntos!), meu iPod, meus livros, meus livros de viagem enfileirados em uma estante ou mesa. O resto a gente compra numa Casa&Video/Ikea mais próxima, ou se adapta, ou se acostuma a viver sem.

E tentando criar uma filosofia fernandiana, se há chá (preto, com um pouco de leite – algumas heranças de ter vivido no nebuloso mar do Norte tinham que ficar!), vinho, Nutella e conexão de Internet, então há esperanças, há vida. :D

P.S.- Sim, eu assisti Invictus. E chorei. E torci. E fiquei genuinamente feliz em saber que a África do Sul realmente conseguiu ganhar aquele campeonato de Rúgbi. E me questionei se conseguiria ter o grau de maturidade espiritual para sair de uma prisão de 30 anos pronto para lutar por perdão e reconciliação com aqueles que me oprimiram. E relembrei que motivação é tudo o que realmente importa para o ser humano – independente se venha de um poema, do sexo ou dos meus livros de viagem enfileirados na minha estante.

5 comentários:

Lobo disse...

Admiro quem tem saco e coragem pra ficar se mudando assim.

Só de pensar em ter que deslocar móveis, e roupas, e livros, e ter que dar um jeito de puxar um cabo de internet pro apto novo, já começo a me coçar...

tommie disse...

Eu tô doido pra me mudar mas o mercado imobiliário tá pra hora da morte, ficou tudo doido com essa coisa de copa e olimpiada.

Lucas disse...

Moro com a family ainda mas quero me mudar. Temos um apê no centro, só estou esperando ter um emprego decente e daí beeichoos.

Lençol macio e comidinha pronta é tudo de bom, mas chega uma hora que você PRECISA ter seu próprio espaço.

Entrei aqui hj determinado a te xingar porque não postava há um tempão hahahaha. Agora entendo porquê ;P

Gui disse...

Uau. É muita força de vontade, hein? Parabéns!

É bom poder olhar pra trás e ver que sua vida de privações, na verdade, é uma vida de experiências novas e de sentidos que você jamais teria enquanto tivesse casa, comida e roupa lavada.

;)

Will Moritz disse...

Fer, vai com calma no Nutella! Aliás, o que será mais calórico: Dulce de Leche Argentino ou Nutella??? Minha conclusão filosófica depois de ter passado por situações bem catastroficamente parecidas (e vc sabe quais) foi: o que não te leva pro manicômio te faz crescer e Nutella não mata, mas engorda pra caralho :P