quinta-feira, 7 de abril de 2011

The Brazilians are coming!

Em um lindo dia de sol, certo amigo que eu defino como 'luso-americano-equatoriano' (praticamente um Pokemón mistura de americano com origens equatorianas que fala um português de Portugal assustadoramente excelente) embarcou no seu voo do trecho Nova Iorque-Houston por uma famosa companhia aérea americana. Além das usuais famílias de texanos voltando da Big Apple (quando vocês lêem 'família da texanos' vocês não imaginam uma coisa meio família Buscapé-pós-Poço-de-Petróleo, com aquele sotaque mega interiorano, roupinhas de oncinha com decotão, cabelão loiro e muito dourado tinlintintando que nem eu?), businessmen nova-iorquinos indo tratar de negócios relacionados ao petróleo em Houston (por que turisticamente Houston deve ser tão interessante quanto Campinas), a usual horda de latino-americanos a serem reenviados ao sul (devidamente abastecidos de Nike Shoxx e moletons GAP comprados nos Outlets dos States).

Meu amigo vêm ‘walking down by aisle’ quando percebe que ele fora agraciado por um lugar entre uma janela e corredor . Duas mulheres ocupavam os dois lugares, uma mãe por volta dos 50 e uma filha por volta dos 20, deixando o lugar dele vazio. Enquanto ele colocava sua bolsa na bagagem de mão, ele escutou:

Mãe (em bom português): Querida, vem sentar do meu lado.
Filha: Ah não, mãe! Quero ficar sentada aqui no corredor. Não quero nenhum desses americanos chatos atrapalhando a minha saída para o banheiro. O avião está vazio, ele que se manque e vá sentar em outro lugar...

Meu amigo ficou na dele, resolveu bancar a do “No-comprendo-português” e educadamente (em inglês) pediu para sentar no lugar dele. A filha, com um sorrisinho educado-nojentinho se levantou, meu amigo se sentou e abriu a revista de bordo. Nisso elas comentam:

Filha: Ah, americano não se manca, né? Também vou encher o saco dele até ele sair daqui... – Disse pegando a revista de bordo e praticamente jogando na cara do meu amigo– Olha aqui mãe, que bolsa LINDA!

A comissária já tinha percebido que iria rolar merda, veio e ofereceu para o meu amigo um lugar mais a frente. Meu amigo deu um belo sorriso, disse que não e que estava muito confortavelmente sentando NA-QUE-LE lugar. Continuou tentando ler a revista dele. Puto. Realmente muito puto.

Nisso, entrou um grupinho de velhinhos americanos no avião (Primeiro Mundo é assim: hordas de velhinho pelo avião, trem, ponto turístico... Crochê? Joguinho de dama na pracinha? Ficar assistindo televisão em casa? Rá! Velhinho de Primeiro Mundo quer saber de Espanha, Flórida e Caribe!). A filha faz uma cara de nojo e comenta:

Filha: Ai, mãe... Esses velhos vão viajar com a gente? Que nojo... Devem ter tudo cheiro de mijo, que horror...
Mãe: Ai não, eles tão sentando atrás da gente! Não acredito!
Filha: Mãe, vamos ficar até Houston com esse cheiro de velho e mijo atrás da gente?! Vamos reclamar com a comissária?!

Meu amigo decidira que já bastava. Chamou a aeromoça, e educadamente em inglês, comentou que tinha mudado de idéia que achara que era melhor ir para o assento vazio mais a frente.

Filha: Ai, que bom... Finalmente ele se mancou!

Meu amigo levanta, abre o compartimento de bagagem de mão, pega sua bolsa. Olha com a cara mais cínica do mundo para a filha, que se pergunta o que diabos ele olhava nela. E manda:

Meu amigo (em português): Vocês realmente se acham as mais espertas de todas, não é? Claro, porque um americano chato jamais iria falar português. Quanta falta de educação, quanta falta de elegância, quanta demonstração de mesquinharia. Vocês realmente se acham as donas do mundo, não é?

Filha (com vozinha de Patricinha-acuada): Sim, eu me acho sim...

Meu amigo: Pois não o são. Principalmente aqui nos Estados Unidos, queridas – pra nós vocês são assim, ó, desse tamaninho. Não valem absolutamente NADA. Não passam de uma dupla de latinas mal educadas vindas de algum buraco do interior de um país qualquer de Terceiro Mundo, que só porque conseguem pagar uma merdica de passagem internacional , acham que podem agir como se estivessem no quintal da sua casa...

Mãe: Mas...

Meu amigo (interrompendo a mãe): AH, e você, mãe... Cuidado, mas muito cuidado, tá? Hoje você apóia sua filha nesses comentários horríveis que ela fez sobre esses velhinhos aqui. Amanhã, vai ser você deitada numa cama e aí eu quero ver se esse incrível exemplo de educação que você deu para a sua filha na hora em que ela tiver que trocar a sua fralda cheia de merda! Boa viagem para as duas...

Meu amigo se vira a vai para a cadeira dele. A comissária, uma amiga dele, pergunta se estava tudo bem. Meu amigo diz que sim e abre de novo a revista dele. Alguns passageiros, provavelmente de origem hispânica, comentando o que acabaram de ver, enquanto as duas fingem que nada aconteceu.

9 comentários:

Lucas disse...

A prova cabal de que existem exceções a lei Maria da Penha. Sim, pq essas duas tinham que levar de relho!

Now sue me.

Daniel Cassus disse...

hahahahha
vou anotar esse tipo de reação pras minhas próximas viagens internacionais.

Tico disse...

É deprimente mesmo!
Esse é o comportamento típico do brasileiro de classe média. É só estarem numa posição supostamente "superior" para se acharem os donos da cocada preta.
Já trabalhei como garçom num desses restaurantes moderninhos da Barra, visual transadinho, mas ambiente super informal e a comida super normalzinha.
Tinha esse povinho sem noção que A-DO-RA-VA fazer ceninha e sempre que possível esculachar os atendentes, se achando os chiques! Tinha gente q nem falar o português direito sabia. Era tão ridículo ver aquele povo se achando no restaurante mais chique ao sul do equador e fazend pose que chegava a ser engraçado.
Alguns amigos qnd esculachados ficavam realmente bolados. Mas era td tão patético pra mim que eu só ria por dentro daquelas situações bizarras. As raras vezes que eu ficava um pouco mais puto eu usava da arma chamada ironia, mas na maioria das vezes ngm nem percebia, de tão limitadinhos...
Em compensação dava gosto ver gente que, normalmente, ou era mais pobrinha ou era rica de berço te tratar com toda a educação e a maior naturalidade, mas isso dificilmente acontecia com a classe mérdia ou os emergentes. So sad...

Roberto disse...

Que horror... já vi coisa assim também.

Mas repense as suas percepções estereotipadas sobre o Texas, amigue. Os businessmen provavelmente são texanos e a família jeca é de New Jersey. Houston é chatinha, mas dá ora se divertir fazendo compras gastando muito menos do que em NY. :-)

Fernando disse...

@Tico: Você iria adorar ser garçom na Alemanha, dear. Tudo bem que você levaria sabão por qualquer mínimo erro que seja. Mas lieber... chamou atendente por "tu", foi ligeiramente mal educado com o cara (do tipo "não respondeu ao Bom Dia que ele invariavelmente VAI dar quando você entrar na loja"), vai levar fora. Já vi garçons dando foras por lá que dava vontade de levantar e mandar um "OÊ!!!" na cara do FDP.

@Roberto: Ai, sabe que esse meu amigo já me deu um sabão por ter essa visão estereotipada do Texas também! Segundo eles, Houston é até bem bonitinha, tem alguns museus com coleções super interessantes e que fazem a parada na cidade valer a pena.

Mas vamos combinar que a principal cidade de um dos estados mais reaças dos States AND que tem um aeroporto com o nome de "International Airport George Bush" merece ser ao menos zoada, vai! :D

Anônimo disse...

Nossa, quase uma cena de novela isso. Não consigo acreditar que existam pessoas "assim" na vida real.

Diego Rebouças disse...

Gente, cena de filme! Um erro clássico achar que, no exterior, ninguém falará sua língua.

A Zélia Gattai relata algo parecido, com ela e Jorge Amado, em Paris, durante a ditadura. Ele e um amigo fazendo piada com a pessoa na rua e... a pessoa era brasileira, tinha entendido tudo.

Anônimo disse...

Quem garante que eram brasileiras?? Podiam ser portuguesas, angolanas, moçambicanas...

Fernando disse...

@Anonimo: Pelo sotaque? (Que, btw, era do interior de São Paulo)