segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A arte de viajar por... mim mesmo - Parte 2

3) Museus e a Síndrome "Preppy in Europe"

Cena: voce, elegantemente bem vestido, entrando em alguma sala de algum grande museu europeu, observando algum quadro de algum grande mestre (recorde de mais "alguns" em uma frase batido - Guiness!!!). Som de piano ao fundo, um belo rapaz do seu lado (ou se voce foi o único hetero a ler esse blog, mulher), voce vira para ele e diz "Meu amor, onde iremos esta noite? Na Ópera ou naquela Vernissage para qual fomos convidados?".

Ok, mundo real chamando: voce, no grande museu citado acima, tentando ver alguma parte de alguma grande obra, rodeado de um grupo de 30 turistas chineses/taiwaneses/japoneses em frenesi tirando 9523 fotos daquela obra que voce quer tanto ver, olhando para o relógio e pensando "Será que vai dar tempo de passar na Zara quando eu sair daqui?". Depois de duas horas dentro desse grande museu, sua cabeca parece se tornar imune a tanta arte e cultura (Arte Russa: bando de samovar velho; Arte Chinesa: bando de vaso de porcelana velho: Arte Islamica: bando de tapete velho), voce nao aguenta mais e vai para um bar ficar vendo os gatos passarem enquanto se culpa por nao estar desfrutando da riquissima oferta cultural que a Europa disponibiliza para os seus visitantes.

A questao dos museus é um ponto que me irrita em especial: guias e reportagens de viagem adoram enfatizar esse ponto e acabando dando a impressao que se voce nao frequenta ao menos 4 ou 5 importantes museus de uma grande capital européia, voce é simplesmente um ignorante que nao se interessa por cultura (e voce acaba se sentindo como uma daquelas suas tias, para as quais turismo se resume a ir a feirinha de artesanato em alguma cidade do Nordeste para comprar coisas exatamente iguais - e absolutamente inúteis - as que elas poderiam comprar em qualquer outra feirinha exatamente igual em qualquer bairro do Rio ou SP).

Eu me interesso por cultura - e muito! Mas depois de algumas viagens aqui na Europa, eu cheguei a uma conclusao: a verdadeira alma de uma cidade nao se encontra dentro de um museu. Museus sao incríveis sim, e a oferta de coisas interessantíssimas para se ver aqui na Europa é algo fantástico. Mas como turista brasileiro, se voce nao é parte do 0,1% da nossa populacao que vem a Europa regularmente, voce provavelmente busca criar uma impressao das cidades daqui e nao tem muito tempo para isso. E sinceramente, eu acho um crime gastar um tempo precioso da sua viagem trancafiado dentro de um museu enquanto voce perde a vida "real" que acontece la fora, sabe? A essencia de Estocolmo nao é o Nordiska Museet, mas sim suecos casualmente vestidos fazendo um picnic aproveitando um sol (ou algo parecido com um sol) de primavera no Djurgården. O Tate Modern é fantástico, mas a memória que sempre levarei de Londres é dos executivos do City Londrino almocando nas margens do Tamisa ou de ingleses enchendo a cara dentro de algum pub.

Portanto, a minha estratégia atualmente é: capitais européias, no máximo 2 museus - e caso seja uma das top top (Paris, Londres, Berlim, Roma e Madrid) esse número sobe para 3. Toda capital européia sempre tem uma "Galeria Nacional" que quase sempre é ENORME, e cobre satisfatoriamente tudo o que voce precisa saber sobre as artes e principais artistas do país em questao - caso voce tenha sorte, essa Galeria poderá ainda ser de graca (reclama-se tanto que Londres é cara... mas British Museum e os Tate's sao de graca e excelentes). Mais do que 2 ou 3 museus... e parece que o meu olhar se torna imune a grandiosidade da arte, e um Monet acaba se tornando muitissimo parecido com um daqueles quadros pintados a dedo em azulejos por artistas de rua (super comuns nas grandes avenidas do RJ, pelo menos). Entao, melhor respeitar os grandes mestres, deixar para aproveitar outras grandes obras numa próxima viagem e ir para algum bar fazer algo de produtivo (= paquerar).

(Só para ressaltar: eu gostaria de deixar bem claro o meu rancor por turistas asiáticos. Eles andam em bandos enormes. Eles tem cameras com 3 vezes mais mega pixels do que a sua e com um flash que praticamente pode cegar. Eles falam aqueles idiomas incompreensíveis aos berros - bem, nesse caso chineses e taiwaneses, porque japas sao elegantes, chiques e educados - e se comportam como se fossem donos do museu. Eles tem o poder maldito de transformar qualquer grande obra - Monalisa, Busto de Cleopatra, Afrodite - em um simples ícone turístico com tanto conteúdo como o telefone público gigante de Itu. Saco.).

4) Le Gran Cuisine ... Européene?!
لا يكون على يقين من ذلك, Kadar emin olmayın, क्या इतना यकीन नहीं हो, Не уверен...

O ponto culinária é bem próximo ao ponto "museus": a Europa é mundialmente conhecida pela gastronomia ríquissima e sofisticadérrima. Ok, tá bom, nem todos os países europeus: o que Franca e Itália possuem de fantástico e criativo, Inglaterra e Alemanha possuem de monótono (culinária inglesa: carne assada com batatas + carne assada sem batatas + fish n' chips; culinária alema: holocausto suíno + repolho + pure de batatas). Mesmo assim, vir para Europa é automaticamente pensar em voce degustando uma boa massa na Itália ou aquele steak tartare num bistro de uma pequena cidade francesa...

Claro, a culinária européia DEVE ser degustada com todo o prazer. Mas nao cometa o erro de se restringir a somente a culinária européia - devido aos imigrantes de todas as partes do mundo, atualmente qualquer cidade européia possui uma oferta de restaurantes de fazer inveja ao Barra World Mall (brinks!), e um excelente restaurante etíope, turco ou bengali é tao fácil de encontrar como um representante competente da culinária local. E tem coisa mais fantástica do que poder fazer duas viagens em uma só? ;) Portanto, vale muito a pena arriscar e ir comer uma culinária completamente desconhecida... e quem sabe conhecer aquele prato ou culinária dos seus sonhos? (No meu caso, a bebida favorita: lassi, em um restaurante indiano de Londres. Acho que por um hectolitro de lassi deixaria o Hugh Jackman esperando por mim na cama, gritando "Veeeem!"... É bom demais!).

E também uma dica/mea culpa: quer comer comida barata e rápida? Nao vá de Mac Donalds, mas de algum equivalente local disponível. TODO turista brasileiro sempre se promete "Jamais irei comer Mac Donalds na Europa!" , mas depois de algum tempo sem aqueles bifoes de carne bovina sagrentos que mamae faz para a gente (nham, nham, nham... Acho que por um bifao trocava o hectolitro de lassi e o Hugh Jackman... Ok, nem tanto: ficaria com o bifao E o hectolitro de lassi.) parece que o guepardo que existe dentro de cada sul-americano se liberta e só se consegue pensar em "carne bovina, carne bovina". Isso, somado aos precos baixos do Mac Donalds (aqui na Alemanha os sanduíches sozinhos sao bem baratos, mas os Mac Menüs completos sao nada günstig - cuidado!) e a praticidade e previsibilidade tornam o Mac Donalds praticamente uma armadilha impossível de resistir - e que vai te deixar com culpa calórica depois (afinal, qual a parcela de seres humanos normais que vao ao Mac Donalds e realmente pedem aquele infame menu "Agua de Coco + Grilled Chicken Wrap + Tirinhas de Cenoura + Maca"? Eu falei normais: excluam meninas feinhas anoréxicas que acham que algum dia serao modelos, e patricinhas de Ipanema que tem orgasmos ao comer rúcula com coca-light). Sempre existe alguma versao barata e local fast-food (aqui na Alemanha, os döner kebaps reinam em conjunto com as currywursts) e que como eu falei... sao muito mais dignos e interessantes que o Mac. Afinal, viajar é conhecer o desconhecido mesmo, néam? E vai que aquele atendente turco/libanes/croata interessante resolve te mostrar mais sobre a cultura e os costumes dele... ;) Nunca se sabe....

E para provar que o blogueiro que vos fala é sincero, é pessoa, é gente-como-a-gente, vai a foto da minha primeiríssima refeicao na Europa. 13h de voo, mais de 10.000km voados, primeira vez no exterior e a minha refeicao escolhida foi...


Big Mac, Mac Donalds. :)

Ok, em minha defesa: 1) tinha que trocar dinheiro para conseguir moedas para poder ligar para o meu amigo alemao e avisar que eu tinha chegado vivo em Frankfurt (ódio dos telefones da Deutsche Telekom - eles COMEM dinheiro. Perdi 10€ tentando ligar até entender que tem que se discar um 0 antes dos números aqui e se voce coloca o telefone de volta no gancho, ele come a sua moeda. Esses telefones foram planejados onde? Israel?!); e 2) tive um ataque de panico quando desci em Frankfurt e simplesmente achei que nao ia conseguir falar nada em alemao (claro Fernando: aeroporto de Frankfurt, zona de desembarque internacional e os atendentes NAO falam ingles. Muito inteligente.). Tava com fome, e a única coisa que eu consegui pensar para pedir em alemao foi... Mac Donalds (mim-Tarzan para o atendente "Bitte... Ein... Mac Menü... Small!", e o atendente com cara de saco cheio "Yes, Coke or Fanta?"). E assim, minha primeira refeicao fora do Brasil... foi exatamente o que eu poderia pedir em qualquer Mac Donalds furreca de beira de estrada. :D

(Mas na boa, eu jamais vou esquecer o gostinho daquele Big Mac, comido vendo os avioes no aeroporto do Frankfurt chegando de todos os lugares do mundo, escutando as pessoas falarem alemao e ingles e pensando "Caralho, to fora do Brasil!!!". Muito bom...).

2 comentários:

Daniel Cassus disse...

Ei! Eu como a salada grill do McDonald's!

Fernando disse...

Daniel (como um dos comentários aqui falou), voce acaba de perder o título "Garoto Twix" para mim.

Vai para um Spoleto, que é quase o mesmo preco e bem mais digno!

Alias, rola um boato aqui na Europa que o valor calórico da salada é quase o mesmo do Big Mac, devido aos croutons, molhos e etc. Já checou isso?