sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Lisboa: Dia Um, Quarta-feira



Embarque

Finalmente um embarque sem desastres (bem, na verdade… eu preciso acessar a internet assim que chegar em Portugal, porque esqueci de anotar o telefone e endereco do meu anfitriao… Mas enfim, absolutamente contornável!). Vir ao aeroporto de Hamburgo me traz uma sensacao boa: me lembro do Fernando que aqui chegou 8 meses atrás, congelando de frio, sem casaco de inverno, sem saber o que me aguardava fora dos portoes daqueles portoes de desembarque. Como eu sempre viajo via Ryanair (ou seja, embarque no longínquo aeroporto de Lübeck – 1,5 de distancia de Hamburgo), esperei 8 meses para retornar a Fuhlsbüttel e perceber o quanto eu mudei.

Voo


Pequenas felicidades: jornais portugueses na entrada, comissárias de bordo falando portugues, piloto nos saudando em portugues (e falando „descolagem“: AMEI descolagem! Rs). Felicidade de escutar o nosso idioma de novo, de me sentir 200% confortável com um idioma. Comissárias de bordo simpáticas - ao contrário do que eu já escutei sobre TAP. Nesse momento, sobrevoando o Atlantico (acabamos de sair da costa francesa), o mar tem um tom de azul que há muito tempo eu nao via (o Báltico é meio cinza...), um sorriso bobo se abre no meu rosto junto com um pensamento de „Estou um bocadinho mais perto de casa“. Ah, um portugues LINDO (moreno, alto, forte na medida certa) voa na fileira de poltronas exatamente a frente da minha. Acho que eu conheco o cara (apresentado por um amigo alemao), mas o cara nao fez nenhuma cara de me reconhecer, entao… :( Mas por Manoel, Joaquim e Maria: como o cara é lindo: já examinei tudo o que poderia ser examinado no cara – o cabelo, a pele, até as sobrancelhas dele sao absolutamente perfeitas. Genética (e recalque) é phoda…
Desembarque


Lisboa vista de cima é belíssima. A luz do sol muda no Sul da Europa – algo mais próxima a luz que temos nos trópicos, e isso desperta em mim uma felicidade quase que infantil. Olhando o portugues gostoso com mais cuidado, lembro que já fomos apresentados em Hamburgo por um amigo alemao em comum, e vou falar com ele. Recepcao amistosíssima, e vamos conversando até o momento de pegar as malas sobre as nossas desventuras amorosas em terras germanicas (sim, deus existe: ele também é gay). Vasco (amo nomes tradicionais portugueses) me dá o telefone hamburgues dele e pede para que eu ligue para sairmos ou conversarmos quando eu voltar em Hamburgo. Obrigado Lisboa. :)



O aeroporto de Lisboa é decente... mas depois de 8 meses vivendo na perfeicao, organizacao e precisao norte-européias, o choque cultural comeca a aparecer: o terminal de internet do aeroporto simplesmente come 2€ meus, eu tento reclamar com algum dos funcionários mas todos dao a clássica resposta “Ah, é mesmo? Que pena...”. Eu resolvo desencanar, afinal estamos de férias, e eu quero aproveitar Lisboa. Pego o autocarro para o centro de Lisboa, onde procuro um internet café para poder achar o telefone do meu anfitriao aqui na cidade. Faco a viagem em extase de reconhecer tantas coisas semelhantes com o Brasil: as expressoes e feicoes das pessoas, a arquitetura de Lisboa, as calcadas cobertas com as nada práticas mas belíssimas pedras portuguesas. Sotaques dos diversos países de lingua portuguesa se misturam, e percebe-se que Portugal realmente reúne essa comunidade inteira hoje. Desco no centro histórico e nao consigo conter o sorriso no rosto e a sensacao de estar em um lugar tao parecido com a minha casa. Bom, muito bom.

Noite


O apartamento onde fico é numa das tradicionais ruas de Lisboa, com vista para o Tejo. Melhor impossível. Janto com o Bernardo rapidamente em casa, e depois encontramos um amigo dele que cantaria nessa noite num clube de fado do centro histórico de Lisboa. Lugar incrível, pessoas simpáticas perguntando sobre o Brasil. Todos conhecem muito sobre o Brasil, e a maioria viaja frequentemente para lá. Como um medalhao de carne bovina a portuguesa que é melhor do qu muita carne sul-americana que eu já comi na vida. Isso tudo com o amigo do Bernardo vindo frequentemente a mesa perguntando se tudo está perfeito. Comecam os fados. E eu me emociono. O sotaque, a tristeza e melancolia das cancoes, a expressao da voz dos cantores, o som da guitarra portuguesa. Tudo me envolve, pensamentos surgem sobre as saudades e decepcoes amorosas, sobre as vontades de que as coisas tivessem se passado de uma forma diferente. Sinto-me bem, pois pensar no passado e no que eu queria que tivesse acontecido de forma diferente nao é errado aqui. É simplesmente dar espaco as emocoes, a alma portuguesa. Melancolica, feliz, receptiva. Feliz por estar em Lisboa. :)

2 comentários:

Anônimo disse...

Nunca vi tanta diversão e beleza, em um comentário sobre uma viagem. Sem ensinar a ningúem a que lugares ir, o que e onde comer, deixou qualquer um, morrendo de vontade de conhecer Lisboa.

carla_curty disse...

"Sinto-me bem, pois pensar no passado e no que eu queria que tivesse acontecido de forma diferente nao é errado aqui. É simplesmente dar espaco as emocoes, a alma portuguesa. Melancolica, feliz, receptiva. Feliz por estar em Lisboa. :)"
você não poderia usar melhores palavras meu querido!!
saudades